A reunião realizada há uma semana, no Palácio Anchieta, entre o governador Renato Casagrande (PSB) e o presidente estadual do PP, deputado Josias da Vitória, não foi somente para definir o novo secretário de Desenvolvimento Urbano do Estado.
Na última quarta-feira (08), dois dias após a reunião, o governador anunciou a troca na secretaria: saiu Marcus Vicente para a entrada de Marcos Aurélio, que era subsecretário na mesma pasta. A mudança foi realizada após pedido de Da Vitória, justificando que a indicação contemplaria o partido, conforme noticiou a coluna.
Embora Marcus Vicente também seja do PP (ao menos por enquanto), ele não foi indicado por Da Vitória para ocupar o posto de secretário – cargo que Vicente mantinha desde o início do mandato anterior de Casagrande, quando ainda era presidente da legenda.
O governador sempre deixou claro que o secretário da Sedurb era cota partidária do PP, mas mesmo após a mudança no comando da legenda, Vicente continuou à frente da secretaria até a semana passada, quando deu início um movimento de aproximação do PP com o governo, de olho em 2026.
A articulação é para aproximar porque, mesmo sendo da base aliada do governador, o PP, desde que trocou a presidência estadual, em 2023, vinha dando alguns passos na direção contrária do Palácio Anchieta.
Entre outras coisas, o partido apoiou adversários políticos de Casagrande, como o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos). O PP não só apoiou, como faz parte da gestão de Pazolini, com a vice-prefeita, Cris Samorini (PP).
Mas, agora, a situação é outra.
A coluna já tinha noticiado que a nomeação para o 1º escalão de um nome indicado pelo presidente estadual do PP seria uma “costura” política de Casagrande para “amarrar” o partido numa aliança para 2026.
E por dois motivos: o primeiro porque o PP é um partido grande, com muito a oferecer numa coligação. Tem uma das maiores bancadas na Câmara Federal – com 50 deputados –, o que lhe confere uma parcela considerável de recursos para as campanhas e tempo de TV para as propagandas eleitorais. O PP foi também o terceiro partido que mais conquistou prefeituras no País – 752 ao todo – nas eleições de outubro passado.
E o segundo motivo é que político nenhum quer perder um partido desse tamanho para um grupo adversário, muito menos Casagrande. Pazolini é cotado para disputar o governo do Estado no ano que vem e deve duelar contra o nome que irá receber a bênção do Palácio Anchieta na tentativa de suceder Casagrande.
Segundo a coluna apurou, a nomeação do novo secretário foi apenas parte do acordo, que teria contado ainda com a entrada do nome de Da Vitória na fila dos cotados do grupo de Casagrande para a disputa ao governo.
Se o “Plano A” não vingar – plano esse que consiste em Casagrande deixar o governo para disputar o Senado, com o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) assumindo o Palácio Anchieta, sendo assim, o candidato natural à reeleição –, Da Vitória entra ao lado dos prefeitos Arnaldinho Borgo (Vila Velha) e Euclério Sampaio (Cariacica) e do ex-prefeito (da Serra) Sergio Vidigal, para disputar a vaga do grupo na corrida eleitoral.
Resumindo: Da Vitória teria pleiteado, juntamente com a indicação do novo secretário, ter posição de protagonista no processo eleitoral, colocando o próprio nome na mesa de negociações como opção para a sucessão de Casagrande.
E o pleito teria sido aceito. Mas, em troca de quê? Do PP fechar aliança, desde já, com o grupo de Casagrande para a eleição de 2026. Nos bastidores, o governo já teria a garantia da presença do cobiçado partido de direita em seu palanque, no ano que vem. Com relação à parceria do PP com Pazolini teria sido algo pontual, apenas para as eleições de 2024, sem compromisso de apoio em eleições futuras.
“O deputado ratificou a parceria para a eleição de 2026. Caso o Ricardo (Ferraço) não seja candidato, você tem aí alguns nomes, incluindo o nome do Da Vitória que pode ser o candidato do governo. Da Vitória é um aliado de primeira hora e pode ser o candidato do grupo para 2026”, disse um interlocutor do governo à coluna De Olho no Poder.
Jogada inteligente
Se lá na frente o que estiver sendo combinado hoje se cumprir, a chance do PP lucrar é de 75%, segundo cálculos da coluna. Em quatro cenários possíveis de ocorrer com o resultado das urnas em 2026, o PP se daria bem em três. A leitura que se faz no mercado político, muito no campo das hipóteses, é a seguinte:
Um primeiro cenário seria com o PP permanecendo na base do governo e alcançando a vitória na disputa pelo Palácio Anchieta, mas sem a presença de Pazolini na eleição. O PP, no mínimo, continuaria na gestão, podendo aumentar o espaço que ocupa hoje. Se Da Vitória for o nome escolhido pelo grupo para concorrer e vencer, o PP herda o comando do Estado.
Num segundo cenário, com uma disputa entre o grupo de Casagrande x Pazolini, se o PP estiver ao lado de Casagrande e o grupo perder para Pazolini, o PP perde espaço no governo, mas herda o comando da Prefeitura da Capital, nem que seja por pelo menos oito meses. Isso porque, para disputar, Pazolini precisa renunciar e a vice, Cris Samorini (PP), assume. Ela, provavelmente, deverá disputar a reeleição e entra em campo como favorita, por ter a máquina pública sob seu comando.
Ainda no campo das hipóteses, o terceiro cenário é o mais favorável para o PP: uma disputa entre o grupo de Casagrande x Pazolini, com o PP na base do governo e vencendo a disputa: o PP então faria parte da gestão estadual ou comandaria o governo do Estado e ainda comandaria a prefeitura mais importante do Espírito Santo.
Somente num quarto cenário hipotético, com o PP na base do governo e perdendo a disputa ao Palácio Anchieta, com Pazolini fora da disputa, permanecendo no cargo de prefeito, é que o partido estaria numa posição desfavorável a partir de 2027.
É evidente que daqui até o ano que vem, muita água vai rolar debaixo da Terceira Ponte. Mas, as articulações já começaram, com Casagrande mexendo em seu secretariado para abrigar aliados políticos e garantir uma frente tão ampla quanto a que teve em 2022. Se vai conseguir, só o tempo dirá, mas o jogo está sendo jogado e é pra valer.
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