Política

Comandante da PM do Ceará também levou um tiro em greve dos policiais em 1997

Coronel Mauro Benevides foi acertado na perna após clima ficar tenso entre 376 agentes grevistas e Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate)

Foto: reprodução de video
Cid Gomes partiu para cima dos manifestantes com uma retroescavadeira

Não é a primeira vez que a Polícia Militar do Ceará atira em uma autoridade durante conflito em uma greve da categoria. No dia 29 de julho de 1997, 376 policiais aderiram à paralisação durante uma passeata no centro de Fortaleza, gerando um grande conflito entre os Policiais Militares cearenses e a tropa do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) do Estado. Tiros foram disparados e um deles atingiu, pelas costas, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mauro Benevides. Foi acertado no ombro. O tenente-coronel Antonio Oliveira Ferreira foi atingido na perna. Outras sete pessoas ficaram feridas.

O governo federal está acompanhando o recrudescimento dos ânimos entre policiais militares, neste momento, restritos ao Ceará e Paraíba. Há preocupação com a possibilidade de contaminação. Um dos ingredientes para esse caldo de fervura, na avaliação de fontes consultadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, foi a postura do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que, mesmo com graves problemas de caixa no Estado, concedeu um reajuste salarial para o pessoal da segurança, de 47,1% divididos entre este ano e 2022.

Esse gesto, em um ano eleitoral, avaliam fontes do Planalto, podem servir de indutor para mobilização de PMs em outros Estados. O cenário, observam, é grave porque, em muitos Estados, se espalhou pelo País a politização das polícias, com governadores nomeando comandantes por indicações políticas e promoções nas corporações sendo concedidas também por estas mesmas indicações.

Isso leva o policial a ter mais lealdade a quem o indicou do que ao seu superior hierárquico, desvirtuando “a regra de ouro” da meritocracia que sempre prevaleceu no meio militar, que depende da hierarquia e disciplina para funcionar.

O outro problema grave que tem acontecido e repetido, em vários Estados, inclusive no Ceará, lembrado pelas fontes, é a concessão de anistia aos grevistas, inicialmente pelas Assembleias Legislativas e, depois, estendida em Brasília, pelo Congresso.

A Polícia Militar, que é a representante armada do Estado, é proibida por lei de fazer greve. Quando polícia faz “greve”, na verdade, está fazendo motim, que é um crime. E crimes, em instituições militares, costumam ser duramente punidos, para que não ocorram de novo.

No entanto, nos últimos anos, além das Assembleias Legislativas do Estados, o Congresso Nacional, em um gesto considerado irresponsável pelas Forças Armadas, à época, concedeu anistia a policiais militares de Espírito Santo, Ceará e Minas Gerais por movimentos grevistas entre 1º de janeiro de 2011 e 7 de maio de 2018.

A lei, que no caso de Minas também deu anistia a policiais civis e agentes penitenciários, foi sancionada pela ex-presidente petista Dilma Rousseff.

O temor é de que, em ano de eleições, mesmo que apenas municipais, com polícias politizadas e governantes vendo a capilaridade da tropa estadual, considerando-os excelentes cabos eleitorais, ganhe força o que se viu no Ceará e isso se espalhe pelo País. Mesmo com o Supremo Tribunal Federal (STF) sempre lembrando que a Constituição proíbe greve de militares, o fenômeno de paralisações seguidas de anistias tem se repetido.