O caso da suspensão de contas atribuídas a campanhas eleitorais declaradas falsas e suspensas pelo Facebook no ano passado parece que ainda vai render aqui no Estado. As equipes de Célia Tavares (PT) e Fábio Duarte (Rede) pretendem acionar o Minist´ério Público para que investigue a atuação das campanhas vitoriosas de Sergio Vidigal (PDT-Serra) e Euclério Sampaio (DEM-Cariacica).
“Protocolaremos representação no Ministério Público a fim de que o mesmo abra procedimento investigativo acerca dessa denúncia, que é muito grave. Não tenho nenhuma dúvida de que qualquer prática ilegal desequilibra um processo eleitoral. Estamos em contato com nosso advogado na campanha e ele está estudando o assunto”, afirmou a candidata derrotada no segundo turno em Cariacica, Célia Tavares.
“A Rede vê com muita preocupação os fatos narrados pelo Facebook, que certamente não tomaria uma atitude dessa se não tivesse a comprovação das irregularidades. O fato é preocupante, mas não chega a ser surpresa. Durante o processo eleitoral, nossa campanha detectou e denunciou uma farta produção de fake news e manipulação de pesquisas. Se os fatos se comprovarem, a maior prejudicada, sem dúvida, é a população da Serra, que foi desrespeitada em seu livre direito de escolha. O Departamento Jurídico da Rede está analisando o caso”, afirmou André Toscano, representante da Rede que atuou na campanha de Fábio Duarte.
Os dois candidatos, da Serra e de Cariacica, se sentiram diretamente afetados já que a rede social informou que as contas falsas eram ligadas aos vencedores do pleito nos municípios. O relatório do Facebook aponta também uso de contas falsas pela campanha de Fabrício Gandini (Cidadania), mas ele nem chegou a disputar o segundo turno.
Entenda o caso
O Facebook anunciou, em seu relatório de comportamento inautêntico coordenado da América Latina, de dezembro do ano passado, que removeu 34 contas, uma página e 18 contas do Instagram por violarem a política contra comportamento inautêntico coordenado. A rede usava contas falsas para se passar por pessoas no Estado, “a fim de curtir e comentar em conteúdo relacionado a candidatos nas eleições municipais de 2020 no Brasil, para que parecessem mais populares do que eram”.
Segundo a rede social, a atividade se concentrou em três municípios: Serra, Vitória e Cariacica, “e amplificou as páginas e publicações relacionadas a candidatos a prefeito em cada município. Cerca de US$ 11.500 (R$ 60 mil na cotação desta quinta, 14) em gastos com anúncios no Facebook e Instagram, pagos em reais.
“Em particular, as pessoas por trás dessa campanha compartilharam e comentaram em português publicações sobre um candidato do Partido Democrático Trabalhista de Serra, um candidato do partido Cidadania de Vitória e outro candidato do DEM de Cariacica”. Os candidatos citados são Sergio Vidigal (PDT) na Serra, Fabrício Gandini (Cidadania) em Vitória e Euclério Sampaio (DEM) em Cariacica.
“Encontramos essa atividade como parte de nossa investigação interna sobre suspeita de comportamento inautêntico coordenado na região. Embora as pessoas por trás dessa atividade tenham tentado ocultar suas identidades, nossa investigação encontrou ligações com a AP Exata Intelligence in Digital Communications, uma empresa de relações públicas com escritórios em Brasília, Vitória e Braga, Portugal.
Outro lado
Por meio de nota, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, disse que “desconhece e não compactua com a criação de contas falsas nas redes sociais, rechaçando o uso das chamadas fake news para enganar os internautas. Euclério destaca ainda que não houve qualquer contrato entre sua campanha e a empresa citada no relatório do Facebook”.
O advogado Altamiro Thadeu Sobreiro, que responde pela campanha de Sergio Vidigal, esclareceu que foram contratados regularmente e declarados à Justiça Eleitoral serviços de gestão de mídias sociais e análise de redes durante a eleição. “Qualquer outra atividade fora dessa finalidade é desconhecida e, portanto, está fora da responsabilidade da campanha de Vidigal. Destaca ainda que Vidigal foi alvo de várias fake news durante o processo eleitoral e que ele mesmo questionou uma a uma, reprovando tal prática. Na verdade, nossa campanha é que foi alvo de uma série de ataques não comprovados e a todo tempo cobramos responsabilidades. A assessoria jurídica acredita que tudo será esclarecido”.
A assessoria do deputado estadual Fabrício Gandini informou, por meio de nota: “O deputado Gandini não coaduna com a criação de contas falsas nas redes sociais, sejam elas utilizadas para qualquer interesse. Além disso, a empresa que foi contratada pela campanha digital não foi citada em nenhum momento pelo Facebook”.
A empresa Exata informou que foi citada de forma errônea e se pronunciou por meio de nota:
“A Exata é uma empresa premiada internacionalmente, com uma forte atuação em na área da inteligência digital, sempre reconhecida pela qualidade e seriedade dos seus serviços. Foi, inclusive, uma das primeiras empresas do Brasil a identificar redes de robôs na internet, fazendo estudos para diversas redes de comunicação. Os serviços prestados pela empresa são focados na análise de redes e pesquisa de diagnóstico, com base em dados e gestão de mídias sociais. Além disso o relatório em questão apresenta equívocos. Cita uma empresa terceira, AP Exata, que jamais teve contratos eleitorais e menciona eventuais investimentos em publicidade de redes que jamais ocorreram. A empresa está entrando em contato com as redes referidas e todos os esclarecimentos serão prestados para reparar qualquer tipo de interpretação equivocada de nossos serviços”.
A outra empresa, a AP Exata, também se pronunciou por meio de nota, assinada por sua diretora-executiva, Mariana Pereira Ceolin:
“A propósito do Relatório de comportamento inautêntico coordenado da América Latina – Dezembro de 2020 do Facebook, publicado nesta terça-feira, 12/11, dando conta de que a AP Exata Inteligência em Comunicação Digital teria se utilizado de perfis fakes durante a campanha para as últimas eleições municipais no Espírito Santo, temos a informar que:
1. A AP Exata nunca participou de campanhas eleitorais em toda a sua existência;
2. A AP Exata tem trabalhado basicamente com a análise diária dos sentimentos despertados nas redes pelo governo federal e suas principais iniciativas;
3. A AP Exata está tomando todas as providências para fazer com que a verdade seja restabelecida. A informação do Facebook foi divulgada de forma irresponsável e não é compatível com a atuação da empresa”.