“Deixa de ser impeachment para ser golpe”, essa é a opinião do deputado federal Helder Salomão (PT), que não se diz surpreso com o resultado da votação no Senado. Com 59 votos contra 21, os senadores aprovaram na madrugada de quarta-feira (10) o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que julga procedente a denúncia contra a presidenta afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade.
Para o parlamentar, não existem provas de que a presidente afastada cometeu o crime de responsabilidade fiscal e afirma que o processo de impeachment é meramente político.
“Era um resultado esperado visto que a maioria no Senado e na Câmara há um bom tempo tem feito um movimento no processo de impeachment para o afastamento da presidente, sem provas e sem crime de responsabilidade. Os últimos acontecimentos mostram de forma sólida e concreta que o julgamento é meramente político. No processo, não há nenhuma prova de crime de responsabilidade e de que a presidente no exercício de seu mandato tenha praticado uma irregularidade que pudesse fundamentar o impeachment. O que justifica, para a maioria dos deputados, são as pedaladas fiscais. O que também foi praticado por Temer. Se Dilma for afastada, Temer também deveria, Fernando Henrique Cardoso e vários outros presidentes, prefeitos e governadores que cometeram esse ato. O que mais me impressiona é que o Tribunal de Contas da União (TCU) sequer alertava os presidentes de que essa prática era um ato que pudesse se caracterizar como crime de responsabilidade”, afirmou.
Não tem nada de combate à corrupção, é uma luta para chegar ao poder e implantar medidas que não são favoráveis para a sociedade.
Segundo o deputado capixaba o discurso de combate à corrupção, levantado pela maioria dos políticos tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, está sendo desfeito com as recentes acusações feitas contra José Serra e Michel Temer em delação premiada, suspeitos de terem recebido dinheiro da Odebrecht. Salomão acredita que alguns políticos estão sendo protegidos pelos parlamentares no que ele chamou de ‘cortina de fumaça’.
“Passa a não ser impeachment para ser golpe. Esses que hoje estão ocupando o Palácio do Planalto e a maioria na Câmara e no Senado fizeram um discurso de combate à corrupção que caiu por terra. Nos últimos dias em delações premiadas, foi dito que Serra recebeu mais de R$ 20 milhões em caixa dois e que Temer também recebeu mais de R$ 10 milhões. O Anastasia [senador Antonio Anastasia], que foi quem relatou o processo no Senado, também foi delatado como alguém que praticou caixa dois. Não existe nada de combate à corrupção nesse processo. Se nós fossemos olhar a rigor, como deveria ter sido feito pelos deputados e agora no Senado, vamos perceber que é uma cortina de fumaça para esconder atos ilícitos de quem está no poder”, diz.
Sobre o julgamento, Salomão afirma que o processo contra a presidente será finalizado sem muita surpresa, e criticou o morosidade do processo envolvendo o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB).
“A cada dia constatamos que não tem nada de combate à corrupção e o que se deu foram outros interesses, que estão ficando mais claros. Ontem, iniciou a aprovação da admissibilidade da PEC 241, que não obriga estados e municípios a investirem um valor mínimo em educação e saúde. Se já está difícil agora, imagina sem investimento mínimo? Há duas semanas teve a aprovação da não exclusividade do pré-sal, por exemplo. Não tem nada de combate à corrupção, é uma luta para chegar ao poder e implantar medidas que não são favoráveis para a sociedade. As pessoas precisam responder pelos atos, não dá para alguns serem execrados enquanto outros, que fizeram muito pior, não sofrem medidas eficazes que mostram para a população o combate à corrupção. Esse processo vai ser finalizado sem muita surpresa, já está desenhado o resultado final, e o que me espanta é que ontem fez mais de 300 dias que o processo de Eduardo Cunha está na Câmara. O da Dilma andou rapidinho e agora no processo de cunha, suspenderam a sessão e a Câmara vai deixar de trabalhar”.