O nome do governador Paulo Hartung apareceu no Termo de Colaboração n. 46 da delação de Benedicto Júnior, ex-presidente da empreiteira Odebrecht. No depoimento, o delator apontou repasses de mais de R$ 1 milhão para a campanha de candidatos que o PMDB apoiava. Ele também destacou que mantinha uma relação de amizade com o governador capixaba. Veja
– No tocante a Paulo Hartung, o que o senhor tem a dizer?
No ano de 2010 eu fui procurado pelo governador Paulo Hartung com o pedido de ajuda para a campanha. Na época, ele estava encerrando o mandato dele e não ia concorrer a nenhum cargo, mas ele tinha um grupo político em torno dele. Tinha uma relação pessoal minha com ele, era uma pessoa que eu conhecia do Senado e tinha uma relação muito saudável. Eu estava me preparando para pagar R$ 1 milhão para a campanha aos candidatos que o PMDB ia apoiar em 2010. Eu perguntei a ele quem seria a pessoa que nós deveríamos procurar para tratar disso e ele indicou uma pessoa da confiança dele, que era o Neivaldo Bragato. Eu coloquei o Sérgio Neves, que era o diretor-superintendente que cuidava de Minas e Espírito Santo, em contato com Neivaldo Bragato e o Sérgio me informou que nós fizemos quatro pagamentos de R$ 250 mil cada um. Foram feitos no Rio de Janeiro, em hotéis no Rio de Janeiro, em espécie, provenientes do sistema de operações estruturadas da Odebrecht. E eu trago como colaboração as programações de pagamento executadas. O primeiro ilícito com relação ao doutor Paulo Hartung foi esse. Em 2012, novamente em campanha a prefeitura no Espírito Santo, ele me procurou e pediu contribuição para o partido. Os candidatos que o partido apoiaria no Espírito Santo. Eu autorizei e fizemos uma doação de R$ 80 mil para campanhas do PMDB no pleito municipal no Espírito Santo. Essa programação foi cumprida no dia três do nove de 2012, em Vitória. O Sérgio Neves, que é meu executivo, me informou que a pessoa que fez a recepção desse dinheiro foi uma pessoa chamada Roberto Carneiro, que trabalhava no escritório de campanha do partido PMDB, lá em Vitória.
– Todos os dois casos, de R$ 1 milhão e R$ 80 mil, foram caixa 2?
Foram caixa 2. Os dois foram usando o sistema de operação estruturada nosso. Via caixa 2, ilícito, doutor.
– O governador Paulo Hartung já deu algum benefício concreto para a Odebrecht?
Não, doutor. Uma das pessoas que eu respeito muito é o doutor Paulo Hartung pela forma que ele conduz a vida política dele. A agenda dele abria, se eu pedisse. Eu era recebido, ele me ouvia, mas ele nunca se movimentou para tal benefício direto com a Odebrecht. E aí, nesse caso, a relação era minha diretamente. Então, era muito correto nessa parte.
– O senhor trouxe algumas provas de colaboração. Pode falar o que é?
A primeira é o extrato fiel do meu Outlook (caixa de e-mail), que entreguei para vocês. Dá todos os dados de forma de contatos que usava para conversar com o doutor Paulo. Os telefones, os e-mails pessoais dele, endereços onde eu me encontrava com ele, as secretárias que que atendiam as minhas ligações para marcar reuniões com ele, que eram a Simone e a Daise. Então, essa era a via de relacionamento, me comportando para conversar com ele.
– Essas conversas que o senhor acabou de relatar com o senhor Paulo Hartung ocorreram onde?
Elas ocorreram no escritório político dele, no edifício Corporate Center, lá em Vitória, na Avenida Nossa Senhora da Penha. Era lá que acontecia. Um escritório de consultoria para projetos financeiros.
– Isso em 2010 e 2012?
Exatamente. No escritório dele.
– O seu local de trabalho era aqui no Rio de Janeiro e ia a Vitória especificamente para conversar com ele?
Sim, especificamente para conversar com ele.
– Pela posição que o senhor ocupava, não teve benefício concreto nenhum para a Odebrecht?
Eu tinha… o governador, por administrar um Estado pequeno, ele era um bom formador de opinião. Ele era uma pessoa que eu gostava de me relacionar, era uma pessoa que agregava valor para o meu conhecimento. Ele não era uma pessoa patrimonialista, preocupada com aspectos financeiros. Ele cuidava da política, do partido dele. Nunca tive uma agenda para dizer “olha, ele fez isso por mim”. Discutíamos assuntos privados. Por exemplo, perguntava “eu to fazendo negócio com a Vale, que vai construir uma ferrovia que vai passar pelo seu Estado. Você acha que vai ser importante? A Vale vai construir…”. Tinha uma entabulação de ouvi-lo para as ações que estávamos fazendo para o nosso lado, mas nunca pedi a ele e nunca tivemos um benefício.
– Pode falar do outro documento?
O primeiro foi o 46-A. O 46-B, ele traz uma síntese dos pagamentos que foram extraídos, que nós importamos do nosso sistema “Drousys”. Aqui são cópias em PDF, mas estão contemporaneamente dentro do sistema, e foi entregue integralmente ao Ministério Público para ser usado como corroboração de nossas provas. Aqui tem um resumo dos pagamentos, mas tem planilhas com e-mails demonstrando os pagamentos, planejamento e programação de pagamentos para o codinome “Baianinho”, que era o codinome que adotamos por ser um Estado próximo à Bahia, que era o codinome que usávamos para o doutor Paulo Hartung. Tem um e-mail na minha programação confirmando os pagamentos que foram feitos.
– O fato de constar esses pagamentos nas planilhas atesta que eles foram realmente realizados?
Atestam que foram realmente realizados.
– Quando o senhor Paulo Hartung conversou com o senhor, pedindo dinheiro para a campanha, ele já sabia que o dinheiro seria por caixa 2?
Quando ele me pediu dinheiro, nós dois não discutimos. Depois, quando o Sérgio Neves conversou com o Neivaldo, eles detalharam como seria. Como era um valor muito acima de uma doação que nós faríamos para um partido ou um candidato, o Sérgio ficou… o Neivaldo inclusive de fazer caixa 2. Como Neivaldo era uma pessoa de confiança do doutor Paulo, eu pressuponho que o doutor Paulo sabia que nós íamos fazer caixa 2.
– O senhor chegou a ter reuniões com ele no Palácio do governo?
Nesse período não, porque ele não estava mais. Mas teve reunião no Palácio.
– Mas você tratou com ele desses pagamentos lá no Palácio?
Não.
– Tratou disso sempre no escritório dele?
No escritório dele.
– Onde era o escritório?
Na Avenida Nossa Senhora da Penha, no edifício Corporate Tower, se não me engano.
– Onde foi feita a entrega desses valores?
O R$ 1 milhão em 2010 foi feito em hotéis no Rio de Janeiro. O meu executivo que tratou diretamente com Neivaldo, na colaboração dele, deve ter trabalhado como os pagamentos foram feitos, porque foram eles que combinaram os hotéis. O doutor Neivaldo deve ter vindo de Vitória até aqui para fazer o recebimento do dinheiro.
– Todos esses valores?
As quatro parcelas de R$ 250 mil, os 1 milhão, de 2010. O de 2012, os R$ 80 mil, foram entregues a uma pessoa dentro do comitê de campanha do PMDB em Vitória. O nome da pessoa é Roberto Carneiro.
Por meio de nota, o governador Paulo Hartung tem afirmado que não disputou as eleições de 2010 e 2012. “Portanto, é leviana, mentirosa e delirante a citação de que ele teria recebido recursos da construtora Odebrecht. O governador afirma que acusações infundadas como essa só contribuem para confundir, tumultuar a investigação e manchar a trajetória das pessoas de forma irresponsável”, diz o informe encaminhado pela assessoria do chefe do executivo capixaba.