Política

Do Val cita "boa-fé" e nega participação em gabinete paralelo para propagar tratamento precoce

Segundo o portal The Intercept Brasil, senador do ES Marcos do Val foi chamado de "padrinho político" da promoção de medicamentos ineficazes durante reunião com Carlos Wizard e médicos de 27 estados

Foto: Reprodução

O senador Marcos do Val negou fazer parte do que foi chamado de gabinete paralelo do governo federal para promover medicamentos ineficazes para o combate da covid-19. 

Reportagem divulgada pelo portal The Intercept Brasil, nesta quinta-feira (07), revela que o senador participou de uma reunião privada com o empresário Carlos Wizard e médicos “de 27 estados”, no dia 28 de junho do ano passado. Na ocasião, Do Val foi apresentado como “padrinho político” da iniciativa. (Veja o vídeo abaixo) 

Por meio de nota, o parlamentar afirmou que defendeu o “tratamento precoce” no início da pandemia, e que agiu “de boa-fé para maximizar a saúde e o bem-estar de todos”. Ainda destacou que, quando as vacinas se mostraram eficazes, passou a apoiar a imunização dos brasileiros.

Veja trecho da nota:

A defesa que fiz do tratamento precoce foi pública, no momento inicial da pandemia da Covid-19, como prova a documentação e vídeos enviados ao The Intercept Brasil e em representação democrática de segmentos da sociedade brasileira em defesa dos direitos constitucionais à saúde de todos.

Àquela época, lidávamos com uma doença completamente desconhecida. Não havia vacina e as pesquisas sobre tratamentos da Covid-19 ainda estavam em estágio inicial. De boa-fé, atuei por força de meu Mandato para maximizar a saúde e o bem-estar de todos em meio à maior crise sanitária da história do país.

A partir do momento em que os imunizantes passaram a ser desenvolvidos e se mostraram eficazes, iniciei um vasto trabalho de suporte para que chegassem rapidamente ao maior número de brasileiros – posição claramente divergente a do grupo de apoio do Presidente da República.

REUNIÃO EM VÍDEO

Na gravação a que o portal The Intercept Brasil teve acesso, o senador afirma que seu trabalho é o de “fazer a logística e de conseguir viabilizar a medicação para os médicos”. 

Ele também menciona negociações com as Forças Armadas, governadores, prefeitos, o Ministério Público, a Anvisa e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

“Consegui fazer com que as Forças Armadas disponibilizassem oficialmente o Exército aqui no meu Estado para armazenar a medicação e também fazer a distribuição. Consegui recursos com o Ministério da Saúde para a compra de mais de 200 mil kits para o meu Estado. Então, a gente está conseguindo fazer o movimento mesmo o governador daqui ter sido contrário”, afirmou. 

Do Val se coloca à disposição para ajudar a convencer governadores a garantir a opção do “tratamento inicial” contra a covid-19. “Quem decide são vocês. Essa é nossa bandeira”

“Estou aqui não só como padrinho, mas como ponta de lança para entrar onde vocês vão ter dificuldade”, disse o senador no encontro. “Até peço: não entre na seara política, que é muito complicada. Pode contar comigo que vou estar na neutralidade, não quero e não vou fazer publicidade disso. Para mim, fazer publicidade disso é um crime”.

CONTRADIÇÕES DURANTE CPI DA COVID

Foto: Reprodução

No dia 30 de junho, durante sessão da CPI da Covid que ouvia Carlos Wizard, o senador disse que recebeu o convite do empresário para participar de live, junto com Nise Yamaguchi e outros médicos, para tratar do tratamento precoce. 

De acordo com o parlamentar, o convite foi feito após ele afirmar que teria usado medicamentos do “tratamento precoce” quando foi contaminado com a doença. 

Veja também: Do Val defende Carlos Wizard e diz que participou de live com o empresário e Nise Yamaguchi

“Fui contactado por Wizard dizendo que tinha um grupo de médicos que estavam estudando essas medicações, a Nise Yamaguchi, dentre outros, e se eu gostaria de fazer uma live para eles explicarem que pesquisas eram essas e como eram utilizados esses medicamentos. Eu topei. Fizemos essa live”.

Entretanto, Do Val não fala sobre seu empenho em conseguir medicamentos do chamado “tratamento precoce”, e nem que era considerado o “padrinho” do grupo que buscava propagar a utilização de medicamentos inúteis para combater a covid-19. 

Durante o depoimento de Wizard, o senador fez uma série de elogios ao depoente. “Quando não se tem interesse, se está fazendo um trabalho de coração, isso a gente sente, é notório, não precisa convencer as pessoas disso. E todo o trabalho dele foi nesse sentido. Aproveito aqui e te parabenizo por isso”.

O QUE DIZ A CIÊNCIA SOBRE O TRATAMENTO PRECOCE

Instituições ao redor do mundo já se manifestaram contra a recomendação de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina para combater a doença. Uma delas é a Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirmou que a medicação não reduz a mortalidade e pode causar efeitos colaterais, como náusea e dor de cabeça. 

No Reino Unido, uma ampla pesquisa com mais de quatro mil pacientes do sistema público de saúde concluiu que a hidroxicloroquina não apresenta benefícios no tratamento de pacientes com covid 19. 

O diretor-presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou que os estudos até o momento indicam que a cloroquina não seria efetiva e recomendável no tratamento da covid-19.

VEJA A NOTA DO SENADOR NA ÍNTEGRA:

 “NUNCA PARTICIPEI DE GABINETE PARALELO”, AFIRMA DO VAL 

Esclareço, ante a publicação da reportagem “O Padrinho” pelo site The Intercept Brasil, que nunca participei de gabinete paralelo da Presidência da República, nem atuei no exercício do mandato de Senador da República de qualquer iniciativa para influenciar, de forma clandestina, políticas públicas de competência do Ministério da Saúde.
A reunião que o Intercept anuncia como secreta e cujo vídeo teria sido obtido por vazamento aconteceu no dia 28 de junho de 2020. As gravações das reuniões consecutivas, que contaram com a participação de ainda mais médicos brasileiros e estrangeiros, estão disponíveis em minhas redes – fato que poderia ter sido averiguado por simples apuração jornalística. Isso consequentemente evitaria que o veículo, com tantos serviços prestados à informação da sociedade, incorresse em divulgação de fakenews.
A defesa que fiz do tratamento precoce foi pública, no momento inicial da pandemia da Covid-19, como prova a documentação e vídeos enviados ao The Intercept Brasil e em representação democrática de segmentos da sociedade brasileira em defesa dos direitos constitucionais à saúde de todos.
Àquela época, lidávamos com uma doença completamente desconhecida. Não havia vacina e as pesquisas sobre tratamentos da Covid-19 ainda estavam em estágio inicial. De boa-fé, atuei por força de meu Mandato para maximizar a saúde e o bem-estar de todos em meio à maior crise sanitária da história do país.
Trabalhei junto a órgãos estaduais e municipais para viabilizar medicação para tratamento precoce unicamente aos municípios solicitantes, e todo o meu trabalho foi acompanhando pelo Ministério Público do Espírito Santo.
A partir do momento em que os imunizantes passaram a ser desenvolvidos e se mostraram eficazes, iniciei um vasto trabalho de suporte para que chegassem rapidamente ao maior número de brasileiros – posição claramente divergente a do grupo de apoio do Presidente da República.
Ademais, vale ressaltar que nunca estive em qualquer reunião oficial com o Presidente da República no Palácio do Planalto, seja para tratar de assuntos referentes ao exercício do meu mandato parlamentar, nem tão pouco para tratar sobre a pandemia da Covid-19.”