Política

Élcio assume que deve deixar a liderança do Governo na Ales e apoiar Hartung

Líder do Governo Renato Casagrande (PSB) na Assembleia Legislativa, o deputado Élcio Álvares só acredita em fato consumado. “A política muda”, diz. Ele se coloca como amigo do ex-governador Paulo Hartung (pmdb) e com uma tendência grande a apoiá-lo nas eleições, mas diz que não deixa de defender os interesses do Governo na Casa de Leis. 

O líder do governo na Assembleia diz que vai se posicionar com o seu partido, o Democratas, e o partido deve apoiar Hartung.

Leia a entrevista íntegra: 

Folha Vitória: Como está, esta semana, a agenda de Líder do Governo na Assembleia?
Élcio Álvares: A mecânica da liderança se repete através das matérias que constam na ordem do dia e acompanhar de perto algumas coisas pra repercutir que é do interesse do governo. Geralmente o Tyago (Hoffman, secretário da Casa Civil) e o governador me sinalizam que é de interesse do governo. Por exemplo, algumas urgências que não são de interesse do governo. Então eu declaro no plenário que não há conveniência nisso ou naquilo.

FV: Por exemplo…
EA: O próprio (Theodorico) Ferraço (DEM) tinha apresentado sobre o pedágio da Terceira Ponte. A gente ia se posicionar sobre a urgência.

FV: O decreto do Euclério Sampaio (PDT) que proíbe o pedágio?
EA: Não é do Euclério. O Ferraço encampou. O projeto é da Mesa Diretora. É um projeto que proíbe o pedágio. O governo está analisando e na segunda (hoje) eu vou apresentar o interesse do governo. Há uma sinalização de que o governo ao assumir a iniciativa de anular o pedágio encerrou o assunto para nós (deputados). Todas as outras coisas referentes ao Governo vai balizar o assunto para a Assembleia. Como líder eu tenho que traduzir para a Assembleia o pensamento do governo. Eu tive a semana muito calma porque este assunto não veio à tona. Há uma ideia de que o Ferraço estaria deixando esse assunto para semana que vem (esta semana).

FV: Semana que vem já devem ser realizadas audiências públicas sobre isso?
EA: Audiências públicas vão ser feitas sobre o pedágio, mas vai ser a comissão de finanças que vai tomar conta. Vou adiantar pra você o posicionamento do governo: no momento o governo não passou palavra de apoiamento a essas audiências públicas. Essa discussão de audiência pública é um assunto que deve ser resolvido pela comissão de financias e ficará a critério da comissão dar o rumo necessário. 

FV: Você e o Ferraço são do mesmo partido, o Democratas, e estão assumindo posicionamentos diferentes. Como fica a relação de vocês dentro da Assembleia?
EA: Até o momento em que eu estiver líder do governo eu sou fiel ao governo. Não tem problema nenhum e Ferraço sabe disso muito bem. Nosso pensamento político vai chegar uma hora que vai coincidir, mas no momento eu tenho uma missão como líder do Governo. Eu falei há algum tempo que minha tendência política é apoiar Paulo Hartung em qualquer momento. Como eles (Hartung e o governador Renato Casagrande) estavam unidos eu administrei bem ser líder. Agora que eles estão separados, eu preciso ver como vai ser. Ficaria incompatível eu como amigo de Paulo, apoiador de Paulo continuar como líder. Qual que é minha posição, meu compromisso? Líder do governo. Eu vou atender ao posicionamento do governo. Quando eu falar no plenário vou traduzir o governo. Agora, até quando? O tempo vai dizer. Eu tenho tempo pra decidir.

FV: Mas o senhor vai sair da liderança do governo?

EA: Enquanto o fato não é consumado não dá para dizer. No momento em que fato acontecer, eu tenho que me determinar. No momento está na mídia, na boca de todo mundo. Eu estimaria que não houvesse essa disputa. Se houver, eu me situo dizendo da possibilidade ou não de ser líder. Eu não quis falar antes porque agora chegou o momento de falar, mas ainda não é o momento de decidir. Há tempo de falar, e tempo de decidir. No momento eu estou falando porque eu tenho que construir um raciocínio político. 

FV: Existe alguma previsão para deixar a liderança?
EA: Não, não tenho. Tudo é o tempo. As coisas ainda não aconteceram no seu tempo. Eu acompanho Paulo Hartung, mas até o momento não temos uma candidatura definida. A partir daí é do meu dever examinar meu posicionamento como líder. Mas no momento eu estou vivendo a compatibilidade entre Paulo Hartung e Casagrande. Foi a unidade que nos levou ao governo. O tempo necessário nós vamos ter uma posição. Eu sou candidato à reeleição. Sou político como outro qualquer. Vou ver qual o grupo que me aceita para fazer uma campanha vitoriosa e conseguir mais um mandato. Mas não chegou ainda o momento de fazer essa avaliação. Eu sou um deputado que defendo em todos os momentos a governabilidade. Eu sempre acreditei que pudesse o Renato e o Paulo passar juntos, mas se não acontecer isso eu tenho que tomar uma posição. Sou de um partido chamado Democratas que ainda não se definiu. Tudo isso tem um tempo. Nós dependemos de posições maiores, principalmente dos dois grandes líderes: Renato e Paulo Hartung.

FV: Como o senhor está vendo essa possibilidade de disputa entre os dois?
EA: É saudável democraticamente. Analisando pelo aspecto democrático, ganha a democracia a partir do momento em que tem mais opção para o eleitor. Quanto tem um só candidato fecha muito o visor. Eu fui eleito em uma coligação que não apoiou o Renato, mas depois se integrou. Mas tudo cessa quando eu coloco o mais importante: sou deputado que luto pela governabilidade. Eu quero votar sempre pela governabilidade, jamais pela paixão, pela emoção. Eu sempre apoiei o governo e não quero deixar de dar meu apoio ao governo, mas não posso esquecer que sou político e quero me eleger. Tudo indica que meu posicionamento será ao lado de Paulo Hartung. O Rodney (Miranda, presidente estadual do DEM) é muito ligado ao Hartung. 

FV: Você precisa lidar com assuntos desagradáveis para sustentar a governabilidade? Como é isso?
EA:  Me preocupo com aspecto constitucional. Quando Euclério fez o decreto eu não tive dúvidas em derrubar. Eu me posicionei com os companheiros. Por exemplo, acho que essa questão do pedágio há um aspecto político eminente, mas temos que conciliar isso para que amanhã a justiça não declare que o ato foi inconseqüente do ponto de vista jurídico. Temos que ter esse cuidado. É um assunto muito delicado. 

FV: O senhor é presidente da Comissão de Justiça e líder de Governo ao mesmo tempo. Essa prática acontece na Assembleia e na Prefeitura de Vitória, mas não foi sempre assim, não é? Isso começou no Governo Paulo Hartung, se não me engano. Como funciona isso? 
EA: Você está correta. A gente é acima de tudo Estado. Independente do interesse político tem o interesse do Estado. Entre o interesse da Comissão de Justiça e o de líder do governo, eu vou votar a favor do Estado. Isso me dá um norte que me deixa tranquilo. Eu não vou votar com um projeto que seja inconstitucional. O governo sabe disso e isso me comove muito. O Renato (Casagrande) confia no meu caráter. Isso me agrada porque meu caráter é minha dignidade de deputado. Em nenhum momento vou fazer algo que contrarie o Estado.