Política

Entenda passo a passo o plano relatado por Do Val envolvendo Silveira e Bolsonaro

Senador capixaba inicialmente afirmou que ideia partiu do ex-presidente; ação envolvia gravações de conversas com o ministro Alexandre de Moraes, do STF

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Senador Marcos do Val (Podemos)

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) acusou nesta quinta-feira (2), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de articular um golpe de Estado, no qual ele foi convidado para fazer parte. 

Ao longo do dia, no entanto, após receber telefonemas dos filhos de Bolsonaro, o também senador Flávio e o deputado federal Eduardo, o parlamentar capixaba mudou a versão, atribuindo exclusivamente ao ex-deputado Daniel Silveira (PTB), preso na manhã desta quinta-feira (2), a autoria de um plano criminoso contra a democracia brasileira.

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Veja pontos do que, segundo o senador capixaba, foi sendo arquitetado. As informações foram fornecidas pelo político para a revista Veja. Segundo a publicação, foi realizada uma reunião entre o então presidente, em 9 de dezembro, com o senador e Silveira. 

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O objetivo era arquitetar uma situação que resultasse na prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, contribuindo para teses golpistas que anulassem a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Confira os pontos do plano golpista

– Gravação do ministro do Supremo Tribunal  Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

O plano era que o Marcos do Val tentaria gravar conversas com Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e perene desafeto de Bolsonaro. 

O ministro também era responsabilizado pela derrota de Bolsonaro nas eleições. A ideia era, nas gravações, captar algo comprometedor contra o magistrado, que seria o argumento para mandar prendê-lo. 

– Argumento para prisão iria dar combustível para confusão institucional

A partir da prisão e desmoralização pública de Moraes, a ideia era tumultuar o cenário político, ainda bastante polarizado e hostil mesmo depois das eleições. 

O fato iria contribuir para alimentar uma confusão institucional entre os Poderes, que seria a maior desde a redemocratização. Serviria de pretexto para pedir a anulação do pleito que deu vitória a Lula. 

– Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foi utilizado no plano golpista

Na reunião com Bolsonaro e Silveira, Do Val foi informado que os equipamentos e todo o aparato de gravação seriam fornecidos pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). 

O GSI é o órgão do governo brasileiro responsável pela assistência direta e imediata ao presidente da República na assessoria em assuntos de segurança. A ideia era aproveitar a proximidade que o senador tinha com Moraes para espionar o magistrado. 

 – Daniel Silveira mandou mensagens cobrando resposta de Do Val

Marcos do Val disse à revista que pediu tempo para pensar se iria participar do plano. Silveira cobrava uma tomada de decisão a mais breve possível. Prints das mensagens foram divulgadas por Veja na matéria. 

Em uma delas, ele afirmou ao senador de que não havia nada a temer. “Não há riscos. Caso não extraia nada, é descartado o conteúdo e ninguém saberá.” E insistia falando da importância da tal missão. “Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação”, reforçou. O senador não respondeu. Numa terceira mensagem, Silveira disse que “escutas usadas em operações especiais” já estavam à disposição. O senador não respondeu.

 – Senador desistiu do plano e avisou Alexandre de Moraes

No dia 14 de dezembro, Do Val encontrou-se com Alexandre de Moraes no STF, durante um intervalo em que era julgado a legalidade do orçamento secreto. Contou sobre a reunião ao ministro que, incrédulo, comentou que tudo aquilo era inconcebível. À noite, respondeu às mensagens de Silveira dizendo que não concordava em participar do plano. 

Senador muda a versão e volta atrás em relação a denúncia

Na madrugada desta quinta-feira (2) – antes da publicação da reportagem da Veja –, o senador do Podemos fez a mesma acusação contra Bolsonaro em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Foi numa conversa com o ex-deputado estadual paulista Arthur do Val, o Mamãe Falei, e Renan Santos, fundador do Movimento Brasil Livre (MBL).

A Polícia Federal solicitou nesta tarde a Alexandre de Moraes uma autorização para obter o depoimento de do Val e o pedido foi aceito pelo ministro.

Apesar de oferecer informações detalhadas, o senador capixaba mudou a versão relatada para a revista. Agora, Do Val afirma que o plano foi elaborado somente por Daniel Silveira. Também voltou atrás sobre a renúncia ao mandato e afirma que continuará com o cargo no Senado Federal.