Diferentemente da sinfonia de uma orquestra, que precisa de sintonia, equilíbrio e harmonia para despertar o encantamento do público, a “melodia” que dá o ritmo da vida nas cidades, composta pelo som de pedestres, carros, motos, caminhões, ônibus, bicicletas e outros veículos, geralmente é marcada pela falta de coordenação. Nesse caso, não de um maestro, mas principalmente do prefeito da cidade.
A falta de serviços eficientes de transporte e infraestrutura impacta a vida de toda a população. Na Grande Vitória, por exemplo, milhares de pessoas sofrem diariamente com os transtornos do trânsito, seja utilizando o transporte público ou o próprio veículo.
De acordo com a Lei 12.587, de 2012, que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana no Brasil, o prefeito deve garantir, dentre outras coisas, segurança no trânsito, igualdade no acesso ao transporte público e priorização de veículos não motorizados e do transporte público coletivo.
A lei ainda determinou a criação de um plano de mobilidade urbana até 2015. Entretanto, poucos municípios cumpriram. Neste ano, o prazo foi prorrogado: municípios com mais de 250 mil habitantes têm até 2022 para entregar o documento. Já as cidades com até 250 mil moradores têm até 2023. Na Grande Vitória, nenhum município implantou o plano até agora.
“O antigo Ministério das Cidades tinha políticas específicas. O ministério acabou, mas as políticas não acabaram. Então cidades que não tiverem planos de mobilidade correm o risco de não obter recurso para fazer obras de infraestrutura visando melhorar a mobilidade das cidades”, destacou o especialista de trânsito Tarcísio Bahia.
Na contramão da mobilidade, a frota de carros tem crescido. Segundo dados do “Observa Vix”, entre 2010 e 2018, a população da Grande Vitória cresceu 15%. Já a frota de veículos aumentou 50% no mesmo período.
A situação ainda se agrava diante da falta de serviços de engenharia de tráfego, fiscalização e educação no trânsito em municípios capixabas. Uma das regiões que mais sofre com os gargalos na área de mobilidade no estado é a capital, o coração da Grande Vitória.
“As duas maiores cidades da região metropolitana — o que é uma coisa rara no Brasil — não é a capital. Então aqui você tem a Serra e Vila Velha que são as maiores cidades. Vila Velha é uma cidade dormitório e Serra é uma cidade industrial. Então isso cria um fluxo de pessoas passando por Vitória e que, muitas vezes, nem querem vir a Vitória”, frisou Tarcísio Bahia.
Será que a situação poderia ser diferente se houvesse maior diversificação? “A mobilidade não se resolve com uma única solução mágica. Não vai ser só o ônibus. Tem uma série de outras situações: o transporte de aplicativo, regulamentar ele para incentivar as pessoas a utilizarem; a questão da bicicleta; a questão de criar outras linhas, talvez menores, com maior capilaridade entre bairros”, ressaltou o especialista.
Frota de veículos
Atualmente, a frota de veículos particulares na Grande Vitória é de mais de 800 mil, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) referentes ao ano passado.
Confira a frota de cada município:
– Vitória: 198.063 veículos
– Vila Velha: 228.483 veículos
– Serra: 208.738 veículos
– Cariacica: 163.708 veículos
– Viana: 32.463 veículos
Total: 831.455 veículos