Política

Guerino Zanon para o governo e Rose para o Senado: os planos do “novo” MDB-ES para 2022

Lelo Coimbra fala dos planos do partido para próximas eleições e de que como será condução da sigla após expulsão de Marcelino Fraga e José Esmeraldo

Foto: Folha Vitória

O MDB dos últimos anos no Espírito Santo teve mais destaque na Justiça Eleitoral do que nas urnas. A longa briga entre Marcelino Fraga e Lelo Coimbra pelo comando do partido dividiu e desorganizou a legenda, que perdeu seu tradicional protagonismo no cenário político do Espírito Santo.

O reflexo do desgaste ficou claro nas últimas eleições. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, em 2020 o MDB ficou na 7ª posição, empatado com o PSD em número de eleitos. Foram 44 vereadores, 8 prefeitos e 6 vices. Um resultado bem diferente de 2016, quando foram eleitos 66 vereadores, 17 prefeitos e 13 vices. Na ocasião, o partido foi o que teve maior número de eleitos.

Depois de muitas brigas na Justiça e acusações, a Executiva Nacional do MDB decidiu expulsar Marcelino Fraga e o deputado estadual José Esmeraldo da legenda. A notícia foi divulgada nesta semana. Sem entrar no mérito de quem está certo ou errado, a decisão pode atenuar o desgaste e colocar o MDB capixaba nos trilhos novamente.

A reportagem conversou com o ex-deputado federal Lelo Coimbra sobre o futuro da legenda a partir de agora. Segundo ele, o partido vai “brigar” para ficar entre os primeiros novamente, e pode lançar Guerino Zanon, prefeito de Linhares, para a disputa o governo do Estado. Além disso, Rose de Freitas deve tentar a reeleição ao Senado Federal. O ex-deputado federal também estará na disputa em 2022, mas fez mistério sobre o cargo. 

Em entrevista exclusiva ao Folha Vitória, Lelo Coimbra (MDB) atribuiu a crise interna do MDB nos últimos anos a supostas tentativas de intervenção da gestão Casagrande. Segundo ele, Marcelino Fraga e José Esmeraldo, que foram expulsos do partido, atuaram em favor do governo estadual para beneficiar a reeleição de Casagrande em 2022. Ele ainda criticou o governador por adotar postura do “resolvo tudo sozinho”. Entretanto, não descarta conversar com Casagrande sobre as eleições.

Veja a entrevista com o ex-deputado federal: 

Qual será o futuro do MDB a partir de agora?

Neste momento para os partidos interessa como vão montar suas chapas. Quem vai estar envolvido para ser candidato estadual, para deputado federal. Ainda não sabemos se a coligação permanecerá, qual o modelo, temos que trabalhar com o modelo que tem. Temos que ter chapa estadual, que são 60 nomes hoje, possivelmente com 15 mulheres. 20 nomes para federal, com 7 mulheres, no mínimo. E a chapa para senador, que é uma candidatura, e de governador pra quem for. Esse é o esforço central.

E quem são os pré-candidatos do MDB?

Temos a pré-candidatura, que está muita animada, do Guerino Zanon para governo do Estado. Ele já foi secretário, deputado estadual por vários mandatos, prefeito pelo quinto mandato, muito bem avaliado, acabou de ganhar a quinta eleição com 63% de aprovação. Temos a senadora Rose que veio para o partido e que naturalmente é candidata à reeleição, vai trabalhar pra isso. Nossa proposta é discutir isso nos encontros regionais, dentro do limite da pandemia. Se pudermos ter uma meta de três candidatos a estadual eleitos, um federal e a senadora Rose de Freitas eleita seria importante. E se o Guerino se viabilizar e for competitivo de repente pode ser uma alternativa viável no caminho. 

Qual a chance de o MDB compor para uma eventual reeleição de Casagrande?

Nós temos que conversar. Eu acho que Casagrande errou muito na política. Mas se o partido achar que deva conversar com ele eu também não tenho nenhuma restrição até porque somos amigos, sempre caminhamos juntos. Não vejo nenhuma dificuldade com isso não. Acho que é uma questão de conversar com o partido, tem um protocolo, sabendo que temos um pré-candidato a governador. Conversar não é obstáculo.

O senhor disse que o governador errou. Em que sentido?

Ele disse em uma entrevista recente que ele tem um governo que é só dele. O outro era dele e dos outros. Esse é só dele. Então parece que esse é o modelo que o deixa confortável. Eu acho que é um modelo estreito, um modelo curto, que precisa, pra quem quer fazer segundo mandato, ser repensado. O projeto de Estado tem que dar conta dos desafios do Estado. Não dá pra fazer da política primeiro uma polaridade em que ninguém resolve nada. Segundo é achar que eu sozinho resolvo. Essas duas coisas já foram superadas na vida pública.

O senhor acha que Casagrande adotou essa postura?

Acho que esse é o desenho dele. Ou melhor, eu resolvo e estou mais confortável dessa forma. Então acho que esse não é o modelo. É preciso superar isso aí. Com base nisso, nada impede que diálogos sejam estabelecidos. A vida política é isso, é conversar.

E sobre o MDB, quando será a nova eleição?

Organizando convenção pra um prazo médio até porque é preciso dar estabilidade ao partido para as pessoas que virão se sintam seguras. E que elas tenham lugar seguro, que saibam que lá na frente sendo candidatas vão ter os seus pleitos encaminhados. Acho que a estabilidade partidária é boa para as pessoas se sentirem também estáveis, se não vão pra outro projeto. Ninguém vem para um partido porque acha as letras bonitas. É porque tem projeto, caminho, rumo, norte pra trabalhar. Essa é a nossa expectativa.

E a data?

Não tem data, mas vai ser breve. Trinta, sessenta dias temos que ter uma convenção concluída pra o que tiver organizado em torno dela ser um norte pra trabalharmos as migrações e articulações com pessoas do partido e lideranças. 

Quem será o novo presidente?

Nós vamos conversar no caminho. Qualquer pessoa que possa ajudar a construir isso é bem-vinda. Não sou candidato a qualquer custo e não sou prisioneiro de uma candidatura dessa, sou prisioneiro de construir o projeto. Qualquer um que possa ser o condutor partidário como presidente desse processo é bem-vindo.

E se houver um convite e um caminho mais tranquilo para o senhor disputar a presidência?

Eu não tenho dificuldade com isso. Mas não estou predestinado a isso. Eu aceito e admito que a gente possa construir uma liderança que nos represente e a gente possa ser um movimento do colegiado, sem nenhuma dificuldade. O que me importa é a gente construir um caminho que seja bom pra todo mundo. Já conversei muito com Baleia Rossei, que é o nosso presidente, a senadora Rose, com Guerino. Acho até que o Guerino é um nome interessante, já que ele é candidato a governador ele poderia ser o coordenador desse processo.

Em 2022, o senhor será candidato a algum cargo eletivo?

Eu desejo oferecer meu nome pra disputa. Eu quero estar pronto pra discutir e participar do projeto eleitoral. E aí vamos ver nessa discussão como é que eu me movo. Tem o ambiente eleitoral, as condições da eleição, tem as alianças e as relações serão estabelecidas nesse processo. Essa decisão é pra junho de 2022, não é pra agora.

Houve grande desgaste do MDB nos últimos anos em relação a essa disputa pela presidência que acabou refletindo nos resultados da eleição do ano passado. Como o senhor enxerga o partido hoje?

Em primeiro lugar considero o partido vitorioso, a crise à qual ele foi submetido foi muito grande, as interferências de governo sobre ele. O governo tirou quatro prefeitos que eram do partido. O governo fez 12 prefeitos e nós fizemos 8. E os 12 que o governo fez 4 são nossos. Mas eu acho que o partido saiu fortalecido. Precisa resgatar mais algumas coisas que foram perdidas por causa dessa crise e disputar o mundo político que está aí. Não vejo o partido enfraquecido, eu vejo que se fortaleceu na forma do enfrentamento. Está pronto pra grandes batalhas e grandes momentos.

Como o senhor avaliou a expulsão de Marcelino Fraga e José Esmeraldo?

Eu acho que o José Esmeraldo transbordou. Ele não tem inteligência emocional para lidar com conflito. O Marcelino e ele operaram movimentação a serviço do governo que foi quase que uma intervenção externa no partido. Então isso acabou gerando esse conflito todo. Se não tivesse tido essa forma de intervenção, nós teríamos tratado essa crise partidária como uma disputa natural. Essa disputa não foi dada dentro do MDB, foi dada fora, pra quem queria controlar o MDB para o projeto de 2022.

O senhor acha que os dois queriam conduzir o partido para beneficiar a reeleição de Casagrande em 2022?

Essa é minha avaliação. A crise foi essa. Foi o controle do partido para não ter nele surpresas de candidaturas que não são os interesses do Palácio. Eu acho que nós devemos fortalecer o partido com a matriz própria e acho que Guerino é um nome interessante e importante de ser trabalhado. Mas, como o Palácio trabalha com o ‘fantasma Paulo Hartung’ ele vê tudo isso no ‘fantasma Paulo Hartung’. Mas eu acho que não tem Paulo Hartung nesse processo, tem Guerino que é nosso candidato a governador.

O senhor está dizendo que o Palácio vê o MDB como sinônimo do Paulo Hartung?

Com certeza. Esse foi o erro e a base da crise toda. O MDB sofreu grande desgaste nos últimos anos por conta das brigas pela disputa do comando do partido.