Política

Jogo truncado na disputa pela vice de Casagrande

Ao tornar público com tanta antecedência o interesse no cargo de vice-governador da coligação com o PSB, o PPS buscou se valorizar, mas acabou criando embaraço para os aliados. Entrada do PDT pode embolar ainda mais o jogo.

Jogo truncado na disputa pela vice de Casagrande

No futebol, o que interessa aos times é conquistar o título de campeão. O vice-campeonato, embora honroso, regra geral é visto como um troféu de consolação para quem fracassou no fim.

No campo eleitoral, porém, o jogo é mais complexo do que os esquemas táticos e as variáveis estratégicas do esporte bretão. É um terreno onde “é possível perder ganhando ou ganhar perdendo”, como o próprio governador Paulo Hartung já filosofou.

Na política, o cargo de vice, longe de servir de consolo, é objeto de grande interesse por parte dos “jogadores”. Apesar disso, ninguém costuma se manifestar abertamente, pois a discrição também é importante na tática da “partida”.

No Espírito Santo, o PPS chutou a discrição para escanteio e não fez questão de disfarçar o interesse em indicar o nome do candidato a vice-governador na coligação com o PSB. Logo após declarar apoio à candidatura de Renato Casagrande ao Governo do Estado, marcou território e deixou claro: quer a vice da chapa. 

Entre os nomes à disposição, desponta o do vereador Vinícius Simões, presidente da Câmara de Vitória. No meio político, soou como uma forçação de barra, já que, tradicionalmente, o nome do vice das candidaturas majoritárias é sempre uma das últimas decisões tomadas, justamente para facilitar as negociações com outros possíveis aliados. 

Pleito legítimo “para todos”, diz PSB

Minimizando a saia justa, o presidente do PSB no Espírito Santo, Luiz Cicillioti, não vê problemas no interesse do PPS. Mas enfatiza que “é legítimo que o PPS queira a vaga, assim como é legítimo para todos os partidos com os quais conversamos”. E deixou claro que “agora não é hora de discutir vice, e sim de consolidar alianças. Os partidos vão colocar os nomes possíveis na mesa e haverá a definição no momento certo”. O Diretório Nacional do PSB vai se reunir no dia 10 de julho, e as convenções estaduais vão ocorrer após o dia 21.

Defesa, retranca e meio campo

Talvez buscando “preservar o time”, tanto o vereador Vinícius Simões como o presidente estadual do PPS, Fabrício Gandini, não quiseram “bater uma bola” sobre o assunto. Outros integrantes do partido, contudo, avalizam o nome de Vinícius Simões por ele ser professor, representar o novo na política – está apenas no segundo mandato -, e também já ter a marca da experiência como presidente da Câmara de Vitória. Um deles acredita ainda que, pelo fato de existirem 852 vereadores no Espírito Santo, ter um vice com essa origem pode ainda conferir mais representatividade à Casagrande junto às lideranças municipais.

No entanto, ao partir para o ataque em busca do cargo de vice, em vez de marcar um gol de placa o PPS deixou vários partidos na retranca, além de bagunçar o meio campo do PSB no momento em que os socialistas “armavam a jogada” em busca de novas alianças.

PDT pode ser escalado

O jogo em torno da disputa pela vaga de candidato a vice governador na coligação PSB/PPS tem tudo para ficar ainda mais embolado. Nos últimos dias, surgiu um “fator extra-campo” de relevância. O PSB se aproximou do candidato à presidência da república do PDT, Ciro Gomes, que vem tentando “trocar passes” com os socialistas há semanas. Ao que tudo indica, é grande a possibilidade das duas siglas caminharem juntas nacionalmente. Em reunião no dia 25 de junho, em Brasília, o conselho dos presidentes estaduais do PSB definiu por ampla maioria que o caminho a ser tomado será fechar aliança com uma “candidatura de centro esquerda”. 

O próprio Cicillioti vê grandes chances dessa “tabelinha” se concretizar. E não disfarça o interesse em ter os trabalhistas “jogando no mesmo time” também no plano local. “O PSB tem grande interesse em ter o PDT junto conosco, para ajudar no processo de construção do projeto que temos para o futuro do Espírito Santo”, afirmou. “Tive uma conversa nesse sentido com o secretário-geral (do PDT no estado, Weverson Meireles). Foi uma conversa muito boa. Eles têm duas prioridades: um palanque para o Ciro aqui, e uma coligação proporcional que abranja tanto Assembleia quanto Câmara dos Deputados”, disse. 

Ainda segundo Cicillioti, o mesmo assunto foi tema de conversa entre Renato Casagrande e o presidente do PDT no estado, o deputado federal Sérgio Vidigal, no início desta semana, em Brasília. 

Na retranca

O PDT capixaba, no entanto, parece zagueiro fazendo “linha de impedimento”. Segundo Weverson Meireles, “não há essa discussão, o partido está alinhado ao atual governo e no plano político apoia a reeleição de Paulo Hartung. Seria como discutir o problema de uma família sem fazer parte dela”, resumiu, negando as tratativas de bastidor. 

Weverson garante ainda que até o momento não há nenhum direcionamento do PDT nacional verticalizando uma posição de aliança com o PSB nos estados, e diz que a postura do Diretório Estadual é de respeito e coerência com as instâncias superiores. Outro membro do partido, que preferiu o anonimato, acredita que, caso o PDT nacional queira impor uma aliança com o PSB no Espírito Santo, vai causar “uma grande dor de cabeça”.

Em clima de Copa do Mundo, a disputa pelo troféu de vice na chapa de Casagrande ainda reserva muitas emoções para os “minutos finais” dessa partida.

Alex
Jornalista com mais de 3 décadas de experiência profissional em rádio, jornal, TV, assessoria de imprensa, publicidade e propaganda e marketing político. Além d