No mesmo dia em que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) determinou que um militar pegasse um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em Brasília e fosse até Guarulhos para retirar as joias de diamantes apreendidas pela Receita Federal, o seu gabinete solicitou que os itens avaliados em até R$ 16,5 milhões e que seriam dados a Michelle Bolsonaro, fossem cadastrados no sistema federal como “acervo privado”, conforme informações divulgadas com exclusividade pelo Estadão nesta quinta-feira (9).
Os dados dos itens que entraram ilegalmente no País, uma caixa com relógio, caneta e outros itens de ouro, já estavam cadastrados no sistema do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
Faltava cadastrar as joias apreendidas, como revelou o Estadão na última sexta-feira (3). Conforme os planos de Bolsonaro, os diamantes deveriam ser retirados da alfândega de Guarulhos naquele mesmo dia.
Ainda segundo a reportagem do Estadão, era uma quinta-feira, 29 de dezembro de 2022. Faltavam apenas dois dias para o encerramento de seu mandato.
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No dia 30, Bolsonaro e Michelle pegariam um avião com destino aos Estados Unidos. Dentro do Palácio do Planalto, a ordem era, portanto, adiantar o cadastro das joias que ainda estavam retidas nos cofres da Receita.
Segundo reportagem do Estadão, o pedido de cadastramento partiu da Chefia de Ajudância de Ordens da Presidência, que era comandada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Não cabia a Cid fazer esse cadastramento, mas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica.
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O fato revela a intenção clara de Bolsonaro em ficar com o bem, e não em repassá-lo para o acervo público da Presidência da República, o que significaria manter as joias sob o controle do Estado.
A retirada das joias acabou não ocorrendo, devido à resistência do auditor-fiscal da Receita em Guarulhos, Marco Antônio Lopes Santanna, que negou a entrega das joias.
O Palácio do Planalto não confirmou se os dados referentes às joias permanecem no sistema do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica. Há informações de que esses poderiam ter sido retirados do sistema, depois de frustrada a tentativa final do presidente.
O caso está sendo investigado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal. A partir do material recebido, os procuradores vão definir os próximos passos. Não há prazo para a conclusão dessa análise. O procedimento tramita em sigilo na Procuradoria em Guarulhos.
*Com informações do Estadão