Política

CPI da Covid: Mayra contradiz Pazuello sobre falta de oxigênio em Manaus e defende cloroquina

Secretária da Saúde disse que foi comunicada do problema pela White Martins no dia 7, e Pazuello afirmou que só teve conhecimento no dia 10 de janeiro

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Mayra Pinheiro contradisse, em seu depoimento na CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre o momento em que a pasta foi informada sobre o problema de abastecimento de oxigênio em Manaus, no início do ano.

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação afirmou no depoimento à CPI da Covid que não teve informações sobre problemas quando esteve na cidade. A visita ocorreu entre os dias 3 a 5 de janeiro, na véspera do colapso na rede hospitalar, quando pacientes de covid-19 morreram por asfixia após o esgotamento dos estoques do produto. “Não houve uma percepção de que faltaria”, afirmou a secretária.

Segundo ela, a primeira vez que a pasta soube do ocorrido foi no dia 7 de janeiro, dois dias depois. “Pelo que tenho de provas é que tivemos comunicação por parte da secretaria estadual que transferiu ao ministro email da White Martins dando conta sobre problema na rede de abastecimento”, disse Mayra aos senadores.

A versão contradiz o que disse Pazuello. Inicialmente, o ex-ministro afirmou ter sido comunicado apenas no dia 10, três dias depois do e-mail. Depois, confrontado com um documento apresentado pelo ex-secretário-executivo da Saúde Élcio Franco que relatou a comunicação da White Martins, o general fez um ajuste no seu depoimento e disse que só soube “de forma clara” no dia 10.

Questionada sobre a divergência de versões, Mayra Pinheiro afirmou que Pazuello teve conhecimento do desabastecimento do oxigênio em Manaus no dia 8 de fevereiro.

“No dia 8 de janeiro, seis dias antes, nós já tínhamos iniciado o transporte aéreo de oxigênio para Manaus. Eu tomei conhecimento de riscos em Manaus no dia 10, à noite, numa reunião com o governador e o secretário de Saúde, quando eles me passaram as suas preocupações que estavam com problema logístico sério com a empresa White Martins”, afirmou Pazuello à CPI na semana passada.

Nesta terça-feira, 25, Mayra alegou que a situação era “extraordinária” e que seria impossível fazer previsão sobre a falta do produto. “Em Manaus, vivíamos uma situação extraordinária de caos, era impossível fazer previsão de quanto se usaria a mais. O uso passou de 30 mil metros cúbicos para 80 mil metros cúbicos”, afirmou Mayra, que disse ainda não ter atuado na força-tarefa de obtenção de oxigênio. “Eu não estava mais em Manaus”, afirmou ela.

As contradições serão tratadas em novo depoimento de Pazuello, que deve ser reconvocado sobre essa mesma carta da White Martins. Segundo a secretaria, a escolha de seu nome para ir a Manaus no início de janeiro se deu por ela estar no ministério desde o início do governo. Mayra disse ainda que, desde a gestão de Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde deu continuidade aos trabalhos. “Todas as ações tiveram grandes contribuições em momentos diferentes.”

Defesa da cloroquina

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, voltou a afirmar que a cloroquina não tem efeitos na fase tardia da doença. A secretária ainda defende, no entanto, que o uso do medicamento em fases iniciais da doença deveria ser o preconizado para o tratamento da covid.

Mayra voltou a culpar o estudo sobre cloroquina realizado em Manaus, que levou a óbito 22 pessoas, como algo que teria “estigmatizado” o medicamento. Segundo ela, o estudo, ao invés de mostrar “resultados positivos”, usou critérios metodológicos inadequados, que acabaram por mostrar resultados que foram negativos, “mortes e desfechos desfavoráveis”.

A médica também declarou que os medicamentos como cloroquina e ivermectina não curam a covid, mas reduzem internações e óbitos. Para Mayra, “não podemos esperar o mais alto nível da evidência, porque ela não vem. Num curto espaço de tempo, nós temos que enfrentar a doença com o que nós temos hoje”, declarou. A secretária também advogou a favor do uso de medicamentos fora da bula, que, segundo ela, se fossem proibidos, resultariam na paralisação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Mayra voltou a afirmar que ainda não foi vacinada contra covid-19 por ter contraído a doença pouco antes de sua imunização, e que agora está esperando o intervalo de 30 dias entre a doença e a primeira aplicação da vacina.

Diante do encaminhamento das respostas ao senador Jorginho Mello (PL-SC), aliado do governo, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), alertou os presentes na comissão a não fazerem qualquer tipo de recomendação de medicamento sem eficácia comprovada. “Temos que ter cuidado”, disse Aziz.