O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse nesta terça-feira, 22, desejar que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, permaneça no cargo. A continuidade de Ribeiro no comando da pasta ficou ameaçada após o Estadão revelar a atuação de um “gabinete paralelo”, que prioriza solicitações de prefeituras ligadas a pastores evangélicos.
O filho ’01’ do presidente Jair Bolsonaro (PL) ignorou a crise e afirmou que Ribeiro deveria permanecer no comando do ministério caso o pai seja reeleito.
“Na minha opinião, deve ser o ministro da Educação num segundo mandato de Bolsonaro”, disse o senador.
“O ministro Milton está fazendo um trabalho fenomenal na educação, destruída por décadas de governos que atendiam militantes pedindo comunismo nas universidades.”
O senador também criticou a atuação da União Nacional dos Estudantes (UNE), que representa os estudantes de ensino superior do Brasil e tem sofrido embates com o MEC desde o início do governo Bolsonaro.
“O governo Bolsonaro, entre outras vitórias, resolveu a vida dos estudantes endividados do FIES e implementou a carteira de estudante virtual e gratuita, acabando com a mamata da UNE”, disse o senador do PL.
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), também disse que prefere que Milton Ribeiro permaneça no cargo. “Está tudo tranquilo”, afirmou o deputado ao Estadão, ao negar que participe da pressão pela saída de Ribeiro.
O Estadão ouviu de outros líderes do Progressistas, porém, uma cobrança da troca do comando da pasta. Hoje, a sigla do Centrão controla o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão bilionário da pasta. A estrutura é chefiada por Marcelo Lopes da Ponte, ex-assessor do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do partido.
Além dos partidos do Centrão, a saída de Ribeiro do cargo é até mesmo avaliada pela bancada evangélica do Congresso. Líderes religiosos negam qualquer vínculo com Ribeiro, que é evangélico, e dizem que apoiaram para o cargo, em 2019, o reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Anderson Correia.
Deputado pede criação de CPI para apurar gabinete paralelo do MEC
O deputado Professor Israel (PV-DF) apresentou nesta terça-feira, 22, um requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) com o objetivo de apurar o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação.
Para ser instalada, a CPMI precisa reunir a assinatura de pelo menos 171 deputados e 26 senadores, além de ser autorizada pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Se criado, o colegiado será composto por deputados e senadores. Como revelou o Estadão, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, deu prioridade na liberação de verbas do MEC para prefeituras ligadas a pastores. O caso tem despertado revolta até de líderes do Centrão e da bancada evangélica, que nega qualquer vínculo com Ribeiro.
“Estou muito seguro de que vamos conseguir o número de assinaturas para a aprovação da CPMI com muita rapidez. Nossa projeção é de que até a próxima semana consigamos ter todos os parlamentares necessários. A temperatura está subindo muito rapidamente”, disse Israel.
“A cada dia, novas evidências, cada vez mais preocupantes, são publicadas na imprensa. E o governo se esconde, não responde aos jornalistas nem à sociedade. Então, pode ser ainda antes”, completou.
Pacheco
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que a atuação de pastores no Ministério da Educação é um caso que precisa ser explicado. Em coletiva de imprensa, Pacheco afirmou que nunca precisou “má vontade” do ministro Milton Ribeiro, mas cobrou um tratamento igualitário da pasta na condução de políticas públicas a Estados e municípios.
Lira sobre MEC: Não pode haver dúvidas sobre seriedade do trabalho do ministro
Após repercutir no meio político a atuação do gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta terça-feira, 22, que não pode haver dúvidas sobre o trabalho do ministro Milton Ribeiro.
O deputado, contudo, disse que ainda não ouviu o áudio em que o chefe do MEC diz atender às demandas do grupo de religiosos a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Eu não ouvi o áudio, a gente teve o dia cheio de reuniões”, disse Lira. “Eu não sei em que quadrante, em que situação ele falou isso. Ele é que tem que se explicar com relação a isso. Não pode haver dúvidas com relação à seriedade tanto do trabalho do ministro, principalmente da Educação, quanto do Ministério”, acrescentou.
Lira afirmou que é preciso aguardar os desdobramentos. “Eu já soube que houve pedidos de posicionamento inclusive por parte da bancada evangélica. Vamos esperar com serenidade para ver o que acontece”, disse. Ao ser questionado sobre o trabalho de Milton Ribeiro no comando do MEC, o presidente da Câmara disse que essa avaliação cabe a Bolsonaro, e não ao Congresso.
“Cada um tem o direito de se posicionar. Se tiver alguma coisa que realmente fuja do padrão do trabalho do ministro e dos funcionários, deve haver repercussão”, declarou Lira.
Como revelou o Estadão, a atuação de Milton Ribeiro tem sido “dirigida” por um grupo de religiosos sem nenhum vínculo com o MEC ou o tema Educação. Capitaneado pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura, o “gabinete paralelo” age para facilitar a liberação de recursos, permitir o acesso de outras pessoas ao ministro e interferir na gestão da Pasta.
Em nota divulgada nesta tarde, Ribeiro disse que Bolsonaro não ordenou “atendimento preferencial a ninguém”, ao contrário do que mostrou áudio divulgado pela Folha de São Paulo. Ele também negou favorecer determinados grupos em detrimento de outros.