Em meio às ruínas deixadas pela Segunda Guerra Mundial, o século XX presenciava um cenário desolador. Naquele momento, a ascensão do totalitarismo e do socialismo centralizador parecia ter conquistado as mentes e os corações de grande parte do mundo, enquanto os ideais de liberdade individual, economia de mercado e governo limitado estavam à beira da extinção. Foi nesse contexto que surgiu a Sociedade de Mont Pelerin, uma reunião de intelectuais que, em abril de 1947, se encontraram no pequeno vilarejo suíço de Mont Pelerin para discutir o futuro da civilização ocidental.
A iniciativa foi liderada por Friedrich Hayek, economista austríaco e ganhador do Prêmio Nobel (1974), que vislumbrava o risco iminente de que as democracias ocidentais abandonassem os pilares da liberdade em nome de um coletivismo disfarçado de progresso. A reunião inaugural contou com a presença de renomados pensadores como Ludwig von Mises, Milton Friedman, Karl Popper e outros defensores do liberalismo clássico, unindo economistas, filósofos e cientistas sociais em torno de um objetivo comum: preservar os ideais de uma sociedade livre.
A declaração de objetivos da Sociedade de Mont Pelerin é clara ao enfatizar o compromisso com os princípios da liberdade. Entre os pontos centrais está o reconhecimento de que a liberdade individual é a base do progresso e da prosperidade. Os fundadores também identificaram a ameaça representada pelo declínio do arcabouço moral e jurídico da sociedade ocidental, o que, segundo eles, abria espaço para regimes autoritários. A solução, acreditavam, estava em revitalizar o respeito pelas instituições que garantem a liberdade, como o estado de direito, os direitos de propriedade e a liberdade de expressão.
Ao longo das décadas, a Sociedade de Mont Pelerin desempenhou um papel crucial no ressurgimento das ideias liberais no mundo. Embora tenha começado como um pequeno círculo de intelectuais, sua influência transcendeu as fronteiras acadêmicas e políticas. Não por acaso, muitos de seus membros foram conselheiros de governos, como o caso de Milton Friedman nos Estados Unidos e de Ludwig Erhard na Alemanha Ocidental.
A disseminação das ideias da sociedade também foi impulsionada por institutos como o Cato Institute e o Fraser Institute, criados por membros ou seguidores de Mont Pelerin. Esses think tanks continuam a defender a liberdade econômica e a limitação do poder estatal, contribuindo para um debate global sobre políticas públicas.
A Sociedade de Mont Pelerin permanece ativa, mas os desafios enfrentados por seus membros fundadores assumiram novas formas. A ameaça do autoritarismo não desapareceu, ela apenas se modernizou. O aumento do populismo, tanto à esquerda quanto à direita, mostra que o fascínio pelo controle centralizado ainda seduz milhões.
Além disso, questões como mudanças climáticas, desigualdade e crise fiscal em muitos países são frequentemente usadas como justificativas para ampliar o alcance do Estado, muitas vezes em detrimento da liberdade individual. Para os pensadores de Mont Pelerin, o caminho para enfrentar esses problemas não passa por mais controle, mas por mais liberdade.
A Sociedade de Mont Pelerin é mais do que uma entidade histórica. Seu legado está em mostrar que, mesmo em tempos de crise, as ideias têm o poder de transformar sociedades e moldar futuros. Como afirmava Hayek, “A liberdade não pode ser considerada garantida; ela deve ser constantemente defendida.” Em um mundo no qual as forças do coletivismo e do autoritarismo continuam a se infiltrar nas mais diversas esferas, o espírito de Mont Pelerin nos lembra da necessidade de vigilância e compromisso com os valores que sustentam uma sociedade livre.
Assim, a história da Sociedade de Mont Pelerin é um testemunho de que as ideias podem mudar o mundo. E em tempos em que a liberdade parece sob ataque, a lição que aprendemos é clara: os valores da liberdade e da responsabilidade individual devem ser defendidos com vigor, não apenas em cúpulas acadêmicas, mas na prática cotidiana de cada cidadão.