Política

"Moraes coloca o que quer nos inquéritos", diz Bolsonaro após se tornar réu

Ex-presidente Bolsonaro fez primeira manifestação pública após se tornar réu pela Primeira Turma do STF por tentativa de golpe

O ex-presidente Jair Bolsonaro
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em sua primeira manifestação pública após se tornar réu pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (26), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou as acusações e disse que o ministro Alexandre de Moraes “coloca o que quer nos inquéritos”.

“Lamentavelmente, as imagens não estão no inquérito do Alexandre de Moraes. Ele bota o que ele quer lá. Por isso seus inquéritos são secretos ou confidenciais”, declarou.

Bolsonaro mencionou em mais de uma oportunidade o ministro da Defesa, José Múcio, que teria afirmado no programa Roda Vida, da TV Cultura, que “não houve tentativa de golpe”.

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Ele também citou o ex-presidente Michel Temer (MDB), que teria dito algo semelhante, segundo o capitão.

“Durante a transição conduzida pelo senador Ciro Nogueira, tive um encontro com o futuro ministro da Defesa, José Múcio. No dia seguinte ele foi atendido em tudo e pediu que eu nomeasse os comandantes militares indicados pelo presidente eleito Lula da Silva, foi o que fiz”, continuou Bolsonaro.

“Se tivesse qualquer ideia (de golpe), não deixaria os comandantes do Lula assumir.”

Bolsonaro aproveitou o pronunciamento para ler um trecho discurso que leu em 2022 após eleição de Lula. Ele reclamou que a sua fala não foi incluída por Alexandre de Moraes no inquérito.

“As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, leu o ex-presidente.

O capitão reformado afirma também que não compareceu ao STF nesta quarta porque “sabia o que ia acontecer” e que a decisão de ontem foi de última hora.

“Parece que tem algo pessoal contra mim. E são acusações muito graves e infundadas”, disse Bolsonaro.

Segundo o ex-presidente, ele é acusado injustamente de liderar a trama golpista por defender o voto impresso e questionar o resultado das eleições de 2022.

Bolsonaro também rebateu a denúncia da PGR que o acusou de ter convocado comandantes das Forças Armadas para consultá-los para uma eventual ruptura democrática por uma decretação de estado de sítio.

Segundo ele, um golpe jamais seria concretizado a partir de um mecanismo constitucional.

“Nem atos preparatórios houveram para isso, se é que para você trabalhar com dispositivo constitucional é sinal de golpe. Golpe não tem lei, não tem norma. Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do poder Judiciário, setores da economia, fora do Brasil. Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe, nada disso houve”, disse Bolsonaro.

Críticas às urnas e ao 8 de janeiro

O ex-chefe do Executivo também voltou a disparar acusações, sem provas, de fraudes no sistema eleitoral brasileiro.

“Eu não sou obrigado a acreditar e confiar em um programador”, afirmou.

Conforme o ex-presidente, a entrada dos invasores de 8 de janeiro de 2023 ao Palácio do Alvorada “foi facilitada”.

“Dormem aqui embaixo por volta de 60 militares armados. Alguém viu algum soldado armado nesse dia? Facilitaram a entrada deles. Não resta dúvida”, disse.

O capitão reformado aproveitou para criticar a imprensa brasileira, que teria exibido apenas a imagem de um invasor com uma camisa estampada com o rosto dele derrubando o relógio do Palácio.

Ele também reclamou sobre alguns veículos de mídia terem afirmado que a manifestação que ocorreu no dia 16 de janeiro teria “flopado” – gíria para “fracassar”. Segundo o ex-presidente, 3,5 milhões de pessoas acompanharam os atos à distância pelas redes sociais.

Ele reiterou a sua inocência em diversos momentos durante a sua fala e que estaria sofrendo uma perseguição “pessoal” pelo ministro Alexandre de Moraes.

Nesse sentido, Bolsonaro afirmou que convidou o ministro Edson Fachin para participar de reunião com embaixadores – responsável por sua condenação de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2023 – mas, o magistrado optou por não comparecer.