Política

“Não há arrependimento. Estou muito bem fora de um governo que nunca me valorizou”, diz Ramalho

O ex-secretário de Segurança reagiu às falas de Gilson Daniel e mirou sua artilharia contra Casagrande. Disse ainda que brigaria pela vaga de deputado federal

Coronel Ramalho (foto: Hélio Filho)
Coronel Ramalho (foto: Hélio Filho)

Pivô do impedimento do deputado federal Gilson Daniel (Podemos) virar secretário estadual, coronel Alexandre Ramalho (PL) reagiu às falas do deputado e negou qualquer arrependimento por ter deixado o governo para disputar a Prefeitura de Vila Velha num palanque de oposição ao grupo do governador Renato Casagrande (PSB).

Em contato com a coluna para responder à entrevista de Gilson, Ramalho demonstrou profunda mágoa do governo do Estado, o qual chamou de “revanchista” e “nada democrático”. E sinalizou que, numa eventual oportunidade, brigaria pela cadeira de suplência na Câmara Federal: “A vaga é minha”.

O motivo da bronca de Ramalho foi a entrevista concedida por Gilson Daniel à coluna De Olho no Poder e publicada no início da tarde desta sexta-feira (07). Gilson disse achar que Ramalho reconheceu ter feito “movimentos equivocados” durante a campanha eleitoral.

“A movimentação dele foi equivocada e ele sabe disso. Eu fui contra, a todo momento quis que ele fosse candidato à Prefeitura de Vitória e não conflitasse com a candidatura do Podemos em Vila Velha, mas foi uma opção pessoal dele. Uma opção que, infelizmente, pra mim, foi um equívoco dele. E hoje, eu acho que ele reconhece isso (…) Eu estive com ele recentemente, conversando um pouco com ele até pra poder amadurecer essa questão, porque as escolhas dele foram escolhas equivocadas. Ele fez um movimento contra o governador, sendo que ele foi secretário do governador”, disse Gilson.

Exatamente 22 minutos após a divulgação da entrevista – coincidência ou não, 22 é o número de urna do partido de Ramalho –, o coronel da PM entrou em contato com a coluna e negou um suposto arrependimento como também de ter feito qualquer reflexão com o deputado a respeito.

“Só para deixar claro, nunca fiz reflexão com Gilson concordando que meu movimento político foi equivocado. Muito pelo contrário, ao meu sentir pessoal, a melhor coisa que fiz foi tomar a decisão de que eu quem deveria dar o direcionamento político na minha vida”, disse Ramalho.

E ao rebater Gilson, Ramalho também mirou sua artilharia no governo do Estado:

Nunca tive apoio do atual governo do Estado em nenhum projeto político meu. Portanto, não tem porque ter arrependimento. Tive foi coragem para romper com comodidades e possíveis conchavos políticos. Hoje estou muito bem decidido fora de um governo que nunca me valorizou”, afirmou Ramalho.

Ex-secretário da Segurança Pública do Espírito Santo durante quatro anos da gestão do governador Renato Casagrande, Ramalho queria disputar o Senado em 2022 e chegou a receber convites de outras legendas para o pleito.

Porém, após ser convencido pelo Podemos e pelo governador, continuou no partido presidido por Gilson Daniel, na expectativa de ser o candidato ao Senado pelo grupo de Casagrande. Não foi.

O grupo fechou com a então senadora Rose de Freitas (MDB), que disputava a reeleição e acabou perdendo a vaga para Magno Malta (PL).

Ramalho então disputou uma cadeira de deputado federal. Teve 33.874 votos, mas não foi eleito. O partido elegeu Gilson e Victor Linhalis. Ramalho ficou com a primeira suplência e, ao final do pleito, reclamou muito da falta de apoio durante a campanha.

Ainda assim continuou no partido na esperança de que Casagrande fosse puxar Gilson ou Victor para o governo para que ele fosse, enfim, para a Câmara dos Deputados. Mas, isso também não ocorreu.

Coronel Ramalho e o presidente do Podemos, deputado Gilson Daniel (foto: divulgação)

Em janeiro do ano passado, já com todo o mercado político fazendo cotações para a disputa municipal, Ramalho deixou a gestão, após entregar a Secretaria de Segurança Pública registrando a menor taxa de homicídios em 27 anos série histórica.

Na ocasião, ele alegou que precisava cuidar do seu futuro político e, até então, não estaria decidido sobre permanecer no Podemos e disputar a Prefeitura de Vitória ou deixar a legenda e disputar a Prefeitura de Vila Velha. Ele escolheu a segunda opção e fez uma campanha de críticas ácidas a aliados do governo e ao próprio governo do Estado.

Ao sair do Podemos e se filiar ao PL para concorrer ao cargo de prefeito, Ramalho chegou a dizer que abriria mão da suplência.

Questionado hoje se brigaria pela vaga de deputado federal caso Gilson virasse secretário e houvesse a suplência, o militar da reserva não titubeou: “A vaga é minha, claro que eu iria assumir. Juridicamente não existe isso. Naquele momento abria mão de acordos, tipo: ‘vamos fazer isso, que acontece aquilo. Não abri possibilidades de barganha”.

Embora tenha trocado de partido, Ramalho poderia sim assumir como deputado, cabendo ao Ministério Público e ao partido entrarem com ação de infidelidade partidária na Justiça Eleitoral numa tentativa de reaver a cadeira.

Como há todo um trâmite até a decisão judicial, que poderia ser negativa ou positiva, o governo preferiu não arriscar e barrou a entrada de Gilson Daniel no governo.

Ramalho também reagiu ao ser citado como “impeditivo” para Gilson Daniel virar secretário: “Se, de fato, eu sou a causa do impedimento do Gilson virar secretário, só mostra que é um governo revanchista e nada democrático”.

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Fabiana Tostes
Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.