Política

ES coloca 25 policiais militares à disposição para envio ao DF

Na manhã desta segunda-feira (09), o governador Renato Casagrande embarca para Brasília para reunião com o presidente Lula

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

O Espírito Santo colocou 25 policiais militares à disposição para envio ao Distrito Federal. A medida foi tomada após o presidente Lula decretar intervenção federal na segurança pública na capital do Brasil.

Na manhã desta segunda-feira (09), o governador Renato Casagrande embarca para Brasília. Uma reunião com o presidente Lula, os governadores e chefes de poderes está prevista para começar às 18 horas.

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A intervenção federal no Distrito Federal foi decretada após bolsonaristas radicais marcharem pela Esplanada dos Ministérios, invadirem a sede dos três Poderes da República e deixarem um rastro de destruição pelos principais edifícios de Brasília. Sem atuação ostensiva da Polícia Militar, vândalos pediram intervenção militar e a prisão do presidente Lula.

A passeata começou por volta das 14 horas e tinha por objetivo levar o caos para uma tomada de poder. Perto das 15 horas, o grupo desceu pelo Eixo Monumental, furou, sem resistência, o bloqueio da PM e ocupou gramado, rampas, acessos e teto do Congresso. Houve a primeira invasão, com cenas de vandalismo no Senado e na Câmara.

Em seguida, pela Praça dos Três Poderes, transformada em campo de batalha, os radicais tomaram o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Quebraram vidraças, entraram em gabinetes e depredaram obras de arte. Houve focos de incêndio. 

Os plenários de Câmara, Senado e STF foram ocupados. Exibiram como troféu a porta do armário onde fica a toga do ministro Alexandre de Moraes - visto como algoz por bolsonaristas. Tudo foi transmitido em redes sociais, ao vivo, pelos invasores.

Do lado de fora do Congresso, os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro aplaudiram PM. Transmissões ao vivo, em redes sociais, mostraram os manifestantes chamando policiais de patriotas. 

Nas lives, os extremistas divulgavam os atos de vandalismo. Houve cenas de leniência de PMs, que tiraram fotos com manifestantes e compraram água de coco, enquanto o tumulto se formava.

Os atos de cunho golpista foram controlados pelas forças de segurança - PM, Polícia Civil, Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e Polícia do Exército - cerca de três horas e meia depois. 

Os bolsonaristas agrediram, ainda, policiais, que reagiram com bombas de gás, spray pimenta e cavalaria. O primeiro prédio liberado foi o do STF, depois Planalto e Congresso. Do alto, um helicóptero da PF também fazia disparos e foi usado jato d'água.

Sinais

Ao menos, 400 vândalos foram presos em flagrantes, e a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu a prisão de Anderson Torres, secretário da Segurança Pública do DF e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Ambos estão nos EUA, e o ex-presidente, em rede social, afirmou que depredações "fogem à regra".

Os sinais de que os atos seriam violentos já haviam sido dados desde sábado. Caravanas com cem ônibus chegaram à capital federal de vários pontos do País. Ao menos, 4.000 pessoas estavam prontas para atacar as instituições. Desde a derrota de Bolsonaro na eleição, radicais mantém acampamento na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília.

Lula estava em Araraquara (SP), para onde viajou para levar ajuda federal após fortes chuvas. De lá, onde acompanhou a crise. Como interventor foi nomeado o atual secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli - braço direito do ministro Flávio Dino. O governo federal vai agir até o dia 31 de janeiro, e a intervenção passará pelo aval do Congresso.

"É preciso que essa gente seja punida de forma exemplar, de forma que ninguém nunca mais ouse, com a Bandeira Nacional nas costas, ou com a camiseta da seleção brasileira, para se fingirem de nacionalistas, de brasileiros, façam o que eles fizeram hoje", afirmou Lula. O petista comparou os invasores a nazistas e fascistas. "Vamos descobrir quem foram os financiadores desses vândalos que foram a Brasília e pagarão com a força da lei por esse gesto antidemocrático", afirmou.

Financiamento

Lula está convencido de que o atos foram financiados por empresários defensores de um golpe do Estado. Lula recebeu informações de que na lista dos financiadores há empresários do agronegócio e outros com ligações no exterior, que já bancaram vários atos antidemocráticos.

No pronunciamento em Araraquara, Lula disse que possivelmente o "agronegócio maldoso" estava por trás das cenas de vandalismo. Lula também está convencido de que Bolsonaro vem estimulando um ataque "a la Capitólio" desde a derrota nas urnas. O presidente voltou ontem mesmo para Brasília.

Acuado, o governador Ibaneis Rocha (MDB) exonerou Torres e pediu desculpas a Lula. Em vídeo, ele disse que a ação era "inaceitável". "Quero me dirigir aqui, primeiramente, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir desculpas pelo que aconteceu na nossa cidade, à presidente do Supremo Tribunal Federal (Rosa Weber), ao meu querido amigo Arthur Lira, ao meu amigo Rodrigo Pacheco", disse.

Absurdo

Dino classificou como "absurda" os episódios. "Essa absurda tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer", disse. "Enxergamos omissão do aparato de segurança pública do DF", afirmou Dino, em entrevista coletiva, após os atos de vandalismo. "Abrir a Esplanada se revelou decisão desastrosa."

Segundo especialistas em direito, os envolvidos podem responder por crimes como dano qualificado, atentado contra o estado democrático de direito e terrorismo. A pena chega a 30 anos de prisão. "Houve uma violência imediata, que foram as invasões e depredações, mas com um objetivo maior, que era derrubar a democracia", disse o jurista Walter Fanganiello Maierovitch, que vê terrorismo.

Com informações do Estadão