Política

Secretário do ES tem título de cidadão de Vitória retirado e se manifesta nas redes sociais

Maioria dos vereadores da Capital votou a favor da revogação da honraria, concedida a Nésio Fernandes no ano passado pela gestão da pandemia

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Sesa/Divulgação

Após ter o título de Cidadão Vitoriense revogado pela Câmara Municipal de Vitória, durante a sessão ordinária de terça-feira (22), o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, se manifestou, pelas redes sociais, sobre o ocorrido. A honraria havia sido concedida ao secretário, no ano passado, pela vereadora Karla Coser (PT).

No Twitter, Nésio Fernandes garantiu que não guarda rancor dos vereadores que votaram a favor da retirada da homenagem, mas mandou um recado, sem citar nomes.

"Há poucos líderes escarnecedores que preferem trocar fontes de água por cloacas de esgoto. Estes não merecem nossa espada e nem nossas flores. Deles nascem impropérios, palavrões, ofensas, ameaças e discursos de ódio", escreveu.

"O que mudou depois de ontem (terça-feira)? Seguimos vendo o mundo girar, nossas lutas ganhando energias e fôlego para um ano de esperança. Às vezes o mundo não gira, ele capota", disse Nésio Fernandes, em outra postagem.

O secretário destacou ainda que a maior parte da população de Vitória tem aderido à vacinação contra a covid-19 e aceitado bem as recomendações e determinações estipuladas pelo governo estadual.

Ele lembra que 98% da população de Vitória já está vacinada com a segunda dose e que 51% já recebeu a dose de reforço. Além disso, 93% dos adolescentes já  receberam a D1, na Capital, e 73% a D2. Com relação às crianças de 5 a 11, anos, 46% já foram imunizadas com a primeira dose.

"Gentilmente o título que recebi foi um reconhecimento da obra construída pelo governo liderado por @Casagrande_ES no enfrentamento à #pandemia. Apostamos na ciência, no fortalecimento do #SUS e em muitas entregas ao povo capixaba. Hoje dedicamos nossa aposta nas vacinas como a principal arma contra o vírus. Inaceitável como na capital da vacina tenha alguém com coragem de gritar tanto e todo o tempo contra um cartão de vacina", disparou.

Maioria dos vereadores votou a favor da retirada da honraria

Ao todo, sete parlamentares votaram favoravelmente à retirada do título de Nésio Fernandes: André Brandino (PSC), Armandinho Fontoura (Podemos), Dalto Neves (PDT), Denninho Silva (Cidadania), Gilvan da Federal (Patriota), Leandro Piquet (Republicanos) e Luiz Emanuel (Cidadania).

Outros cinco foram contrários à proposta: Karla Coser (PT), Camila Valadão (PSOL), Aloísio Varejão (PSB), Duda Brasil (PSL) e Luiz Paulo Amorim (PV). Os vereadores Anderson Goggi (PTB) e Davi Esmael (PSD) não votaram.

Esmael não votou por ser o presidente da Câmara. No entanto, em seu discurso na tribuna, ele mostrou favorável à retirada do título e criticou a forma como Nésio Fernandes vem conduzindo a Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo.

Foto: Divulgação/Câmara de Vitória

O motivo alegado pelos vereadores que votaram pela revogação do título foi o fato de o secretário ter divulgado, em suas redes sociais, um vídeo no qual critica a postura de quem é contra a exigência do passaporte vacinal, afirmando ser uma forma de esconder o posicionamento antivacina.

A afirmação aconteceu após a Câmara de Vitória ter aprovado um projeto que proíbe a exigência do comprovante de vacinação para se ter acesso a estabelecimentos públicos e privados na Capital.

"Alguns grupos extremistas, de extrema direita, e alguns que escondem o negaciosismo e seu posicionamento antivacina, na polêmica, na intensidade, nos gritos e no financiamento de assessores para ocupar câmaras de vereadores no nosso estado, escondem suas posições antivacinas na narrativa contra o passaporte vacinal, que é uma medida adotada em praticamente todo o mundo civilizado, que ajuda a reduzir os riscos de infecção e garante que toda a população esteja com o calendário de vacinação em dia", disse Nésio Fernandes, na ocasião.

Em sua manifestação na tribuna da Câmara, o vereador Denninho Silva, que votou a favor da retirada do título, disse que o secretário deveria se retratar ao legislativo da capital capixaba.

"Não teve a humildade de pedir desculpa. Continuou no erro, dizendo que não falou daqui. Falou daqui, porque aqui foi a única Câmara que aprovou o projeto. Depois as outras foram aderindo", afirmou.

Outro parlamentar que votou pela revogação do título ao secretário foi Armandinho Fontoura, que chamou Nésio Fernandes de "delinquente" e "charlatão", e classificou a atitude do secretário como "criminosa".

"O que vimos na semana passada foi uma atitude criminosa deste, que é um secretário de Estado, atacando um Poder Legislativo, o Parlamento da Capital. Isso é inadmissível! Ao fazer falsas afirmações e imputar ao parlamento, sem especificar qual é a pessoa, ele passa do limite do razoável. Ou seja, é uma resposta clara a esse delinquente, a esse charlatão chamado Nésio Fernandes", disparou.

Autor da proposta de retirar a honraria de Nésio Fernandes, o vereador Gilvan da Federal, que também apresentou o projeto sobre a proibição da exigência do passaporte vacinal, também não poupou "adjetivos" ao secretário, o chamando, entre outros nomes, de "charlatão" e "curandeiro", e afirmando que ele não entende nada de saúde.

"Deveria estar na Venezuela ou Cuba defendendo o seu comunismo. Nunca deveria ter pisado em solo capixaba. Esse Nésio Fernandes é uma vergonha para o nosso Estado. O governador Renato Casagrande cometeu um grave erro de trazer alguém que não tem capacidade de comandar a saúde do Espírito Santo. Está mais para curandeiro do que para médico. Irresponsável, charlartão, curandeiro, comunista", disparou Gilvan, na tribuna da Casa.

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Pedido de desculpas

Responsável por conceder o título de Cidadão Vitoriense a Nésio Fernandes, a vereadora Karla Coser usou seu tempo na tribuna para pedir desculpas ao secretário pela retirada da honraria e elogiar seu trabalho à frente da Secretaria Estadual de Saúde.

Foto: Divulgação/Câmara de Vitória
Karla Coser criticou a postura dos vereadores que votaram a favor da revogação do título e pediu desculpas a Nésio Fernandes

"Tenho bastante orgulho e apreço pela gestão que ele fez da pandemia aqui no Estado do Espírito Santo, que elevou a gente e protegeu as vidas de milhares de pessoas nesta condução. Então, ao secretário Nésio, todo o meu respeito e meu pedido de desculpas que esta Casa está fazendo aqui hoje", disse Karla.

A vereadora também considerou o resultado da votação como um "desrespeito" à sua autoridade como parlamentar. 

"Gostaria de deixar registrado que quem concordar com esse projeto, especialmente no seu mérito, está assinando um cheque em branco para que os poderes dados a nós, vereadores, parlamentares, diminuam a cada dia. Esse projeto é um grande desrespeito à minha autoridade legislativa".

Além disso, ironizou ao questionar sobre como, na prática, seria retirado o título de Nésio Fernandes. "Eu tenho uma dúvida: vão fazer como para retirar a honraria do Nésio? Vão lá na casa dele fazer busca e apreensão do título que eu dei? O absurdo é tão gigante que eu não sei nem por onde começar".

Outra que votou contra a retirada da honraria ao secretário foi a vereadora Camila Valadão, que criticou o tempo perdido pelos parlamentares na discussão sobre o assunto.

"Estamos há três sessões, de maneira bastante atabalhoada, em um método que a gente, inclusive, vem falando em várias sessões, dos inúmeros erros para poder cancelar, suspender, cassar uma homenagem concedida ao secretário de saúde, homenagem essa aprovada no ano passado. É muito gasto de dinheiro público e muita falta de compromisso, inclusive, com algumas pautas que são tão caras para a nossa cidade", afirmou.

Em seu fio de postagens no Twitter, Nésio Fernandes agradeceu aos vereadores que votaram contra a perda do título, especialmente a Karla Coser, que o defendeu publicamente em plenário.

"Minha homenagem a você por toda expressão de carinho em sua trajetória no mandato parlamentar. De você nasce sensibilidade às causas sociais, aos vulneráveis. Sua atuação parlamentar está em sintonia com as pessoas de todos os estratos sociais que já se vacinaram, você defende a decisão de muitos, da maioria. Sua fonte é de água doce, dela não pode sair água salgada", escreveu o secretário, direcionado à vereadora.