Política

Major do Exército alvo da PF no ES é suspeito de produzir notícias falsas

Angelo Martins Denicoli também terá que entregar o passaporte, segundo decisão que o Folha Vitória teve acesso; operação investiga suposto núcleo que atuava contra a democracia

Tiago Alencar

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/ Instagram @angelodenicoli

O major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, que mantém casa em Colatina, no Noroeste do Estado, e é um dos investigados na Operação "Tempus Veritatis", deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (08), é apontado como um dos integrantes de suposto núcleo que produzia desinformação e fazia ataques ao sistema eleitoral brasileiro.

A informação consta na decisão, a qual a reportagem do Folha Vitória teve acesso, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou o cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão contra os alvos da operação que apura a existência de uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente Jair Bolsonaro no poder.

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No caso do major, ele faria parte do núcleo 1 da suposta organização criminosa que, segundo o documento do STF, tinha como principal função "a produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações, das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de estado e desacreditar a Justiça Eleitoral".

No mesmo documento, é apontado que Denicoli manteve relações e contatos de proximidade com o argentino Fernando Cerimedo, no sentido de disseminar desinformação sobre o processo eleitoral brasileiro.

Apresentado ao público como consultor, Fernando Cerimedo era responsável pelo canal "La Derecha Diário", do YouTube, em que divulgava conteúdo de apoio à família Bolsonaro.

"Todo o panorama exposto, segundo a Polícia Federal, aponta a ação coordenada dos integrantes do grupo criminoso para amplificação das falsas narrativas que construíram e replicavam acerca do sistema eleitoral brasileiro, estando ainda devidamente comprovada a relação mantida entre Fernando Cerimedo e Angelo Martins Denicoli", diz trecho da decisão.

Entrega de passaporte e proibição de contato com demais investigados

Entre as medidas cautelares impostas ao major do Espírito Santo, que até 2021 ocupava o cargo de diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do Sistema Único de Saúde no governo Bolsonaro, estão a proibição de qualquer tipo de contato com os demais investigados na operação, bem como de se ausentar do país; entrega de todos os passaportes e, por fim, suspensão do exercício da função pública.

A reportagem tenta localizar a defesa do major para repercutir a operação desta quinta-feira. Este texto poderá ser atualizado a qualquer momento.

Operação em outros estados da federação

Além do Estado, as medidas judiciais, expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), também estão sendo cumpridas no Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Paraná e Goiás, além do Distrito Federal. O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados.

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Ao todo, estão sendo cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva, além de 48 medidas cautelares que incluem a proibição de manter contato com outros investigados; a proibição de se ausentar do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas; e a suspensão do exercício de funções públicas.

“As apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”, informou a PF.
“O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”, completou a corporação.

Já o segundo eixo de atuação do grupo, de acordo com o comunicado, consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais em “ambiente politicamente sensível”.

Por fim, a PF destacou que os fatos investigados configuram crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

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