Câmara de Vitória: um dia após homenagem às mulheres, Gilvan manda vereadora calar a boca
Discussão entre o vereador do Patriota e Camila Valadão do PSOL ocorreu no plenário da Casa, nesta quarta-feira. Em discurso, Karla Coser criticou a postura dos demais parlamentares, que não reagiram com indignação à fala de Gilvan
O clima voltou a ficar tenso entre o vereador Gilvan da Federal (Patriota) e as vereadoras Camila Valadão (PSOL) e Karla Coser (PT) durante a sessão ordinária desta quarta-feira (09), na Câmara Municipal de Vitória.
Em meio ao seu discurso em plenário, Gilvan mandou Camila Valadão calar a boca, afirmando estar com a palavra e pedindo para a vereadora esperar sua vez para se manifestar.
O episódio aconteceu um dia após o Dia Internacional da Mulher, quando a Câmara de Vitória promoveu uma sessão solene para celebrar a data e homenagear as mulheres — incluindo as duas únicas vereadoras do sexo feminino da Casa.
A discussão começou após Gilvan ler, na tribuna, um trecho de uma nota de repúdio emitida contra ele pelo Conselho Municipal de Educação de Vitória (Comev) e, em seguida, rasgar o papel e jogar no chão.
Logo após o ato, o vereador se dirigiu aos funcionários da Câmara e disse que ele mesmo cataria o papel que havia jogado no chão. Após uma intervenção feita por Camila Valadão, Gilvan mandou a parlamentar ficar quieta.
"Você não espera nada, você cala sua boca aí. Amanhã sai no jornal. Está na minha fala. Cala a sua boca!", disparou o vereador.
Na sequência, Camila Valadão responde: "Você não me manda calar a boca não", enquanto Gilvan prossegue: "Fique quietinha, está na minha fala. Está interrompendo minha fala".
Durante a discussão, o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), chama a atenção de Gilvan, pedindo para ele manter a "política dos bons costumes".
O vereador do Patriota retruca: "Eu não tenho política de bom costume com o PSOL. Quem defende aborto, vacina salva e defende assassinato de criança não tem conversa comigo. Não tem politicamente correto com o PSOL comigo não. Nem com o PT. Então podem calar a boca de vocês quando eu estiver falando. Quando subir aqui fala e eu fico quieto".
Karla Coser diz que outros vereadores tinham que ter se manifestado
Minutos após o ocorrido, Karla Coser, que já havia discursado em plenário rebatendo uma acusação feita por Gilvan, envolvendo o uso de máscara durante o Carnaval, voltou à tribuna para defender Camila Valadão e se dirigir aos demais vereadores que, segundo Karla, deveriam ter reagido com indignação à fala de Gilvan.
Karla lembrou ainda da homenagem recebida no dia anterior, referente ao Dia Internacional da Mulher, mas cobrou uma postura diferente por parte dos homens que integram a Câmara Municipal.
"Eu acho inaceitável que vocês tenham escutado um vereador mandar outra vereadora calar a boca e não tenham feito nada. Ontem eu recebi flores na nossa sessão solene pelo Dia Internacional da Mulher. Eu agradeço, gosto muito de flores. Mas eu não queria só flores. Eu gostaria muito que quando episódios como esse acontecessem, que vocês se levantassem e ficassem tão assustados quanto eu fico, porque não é possível que vocês achem isso normal. 'Ah, é o jeito dele'. Não pode ser o jeito dele. Essa Casa está passando vergonha lá fora", disparou a parlamentar.
"É difícil ver essa cena e não fica muito nervosa. Eu acho um absurdo vocês não reagirem tão efusivamente. Eu aceito as flores, eu aceito os parabéns, mas eu quero mais de vocês. E eu tenho certeza que vocês podem dar mais para a gente", completou.
Após a fala de Karla Coser, Davi Esmael ressaltou sua desaprovação com a postura de Gilvan da Federal, de mandar Camila Valadão calar a boca.
"Eu queria deixar bem claro, vereador Gilvan, que eu também enxergo excesso quando qualquer vereador manda o outro calar a boca. Fiz isso e repito, sobretudo como pai de meninas: não cabe, num ambiente de plenário, mandar calar a boca ninguém. Então presto também minha solidariedade", declarou.
'Seus gritos não me intimidam', diz Camila a vereador
Camila Valadão também usou a tribuna para se defender. Ela agradeceu à vereadora Karla Coser pelas palavras e também criticou a falta de ação dos demais parlamentares à fala de Gilvan.
"De nada adianta fazer homenagem às mulheres, dizer que aqui não tem violência contra as mulheres, sendo que a violência está todos os dias aqui nesse plenário da Casa. E eu sei, vereador Gilvan, qual o objetivo da violência. Por isso estamos dando nome: violência política de gênero, que tem o objetivo de silenciar mulheres", disparou Camila, direcionando sua fala ao vereador.
"Quero dizer para o senhor que seus gritos não me intimidam. Eu vou seguir no meu lugar com o voto popular dado defendendo todas as minhas ideias para o qual eu fui legitimamente eleita. Não tenho medo de macho me mandando calar a boca não", completou.
Camila Valadão também mencionou o Regimento Interno da Câmara, no que diz respeito à falta de respeito entre parlamentares, e cobrou uma atitude da Mesa Diretora quanto ao cumprimento das regras, ameaçando acionar a Justiça caso nada seja feito.
"Quero cobrar à Mesa Diretora que tome as medidas cabíveis. O regimento da Casa é nítido: são atribuições do presidente interromper o orador que faltar com o respeito devido à Câmara ou a qualquer de seus membros, adverti-lo, chamá-lo à ordem e, em caso de insistência, cortar o áudio dos seus microfones. Passamos o ano passado inteiro sendo agredidas aqui e nada foi feito pela Presidência da Câmara e pela Mesa Diretora. Pois que se aplique o regimento. Quando um vereador mandar calar a boca, quando o vereador infringir as normas nesta Casa, que esse procedimento seja adotado. Porque senão nós vamos acionar as instâncias para que a Câmara responda àquilo que é sua responsabilidade".
Em nova fala na tribuna, Gilvan afirmou que quem infringiu o Regimento Interno foi Camila Valadão, ao interromper seu discurso. Disse ainda que voltará a mandar calar a boca "o pessoal do PSOL e do PT" e que revidará sempre que for atacado.
"Eu estava no meu momento de fala e fui interrompido pela vereadora do PSOL. Quem desrespeitou o regimento não fui eu. E sempre mandarei calar a boca o pessoal do PSOL, do PT. Calem-se de defender aborto, calem-se de defender presidiário, calem-se de defender ladrão, calem-se de defender ideologia de gênero", disse o vereador.
"Se apontar o dedo, vai tomar de volta. Pode ser homem, mulher, o que quiser. Se vier para cima de mim, vai tomar o contra-ataque. Respeito é uma via de mão dupla. Querem ser respeitados, quem quer que seja, respeito. Mas se vier para cima de mim, vai tomar também. Não esperem de mim o politicamente correto", completou.
Outros vereadores também se manifestaram a respeito do ocorrido, como Leandro Piquet (Republicanos), Maurício Leite (Cidadania), André Brandino (PSC), Aloísio Varejão (PSB), Anderson Goggi (PTB), Armandinho Fontoura (Podemos), Luiz Paulo Amorim (PV) e Dalto Neves (PDT).
Eles reprovaram a atitude de Gilvan da Federal, de mandar a vereadora calar a boca, mas também criticaram a postura de Karla Coser e Camila Valadão, de exigirem uma interferência dos demais parlamentares na fala do vereador do Patriota.
A assessoria de comunicação do presidente da Câmara, Davi Esmael, enviou à reportagem do Folha Vitória um posicionamento do vereador sobre o assunto.
"O vereador Davi Esmael (PSD), exercendo sua função de presidente, interveio durante a fala do vereador Gilvan para cobrar maior cuidado na relação com os demais, com intuito de garantir o direito à fala de todos, o debate respeitoso de ideias e a fluidez dos trabalhos da Câmara de Vitória. Manifesta também discordância em relação à conduta do referido vereador na situação específica".
Em nota, o vereador Gilvan disse que os fatos ocorridos durante a sessão não passaram de um embate normal entre parlamentares. Ele disse ainda que Camila incorreu em uma infração ao regimento interno da Casa de Leis quando foi interrompido.
Confira na íntegra o que diz o vereador Gilvan da Federal
"O ocorrido na Sessão Ordinária do dia 09/03/2022, retrata a afronta ao Regimento Interno da Casa de Leis por parte da Vereadora do PSOL e sua fiel escudeira como acontece reiteradamente. As vereadoras do PSOL e PT, para criar narrativas inexistentes, interrompem o vereador de forma desrespeitosa e antirregimental para, tentar, posteriormente, levar à mídia de forma distorcida situações que verdadeiramente não se sustentam, querendo desvirtuar não só o parlamento, como a verdade dos fatos.
Ademais, há de se lembrar que o vereador é inviolável por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato como assim destacou o presidente da Casa ao advertir a Vereadora do PSOL quanto a interrupção à fala do Vereador Gilvan, ferindo o regimento interno da Câmara, conforme foi dito nas manifestações de TODOS os Vereadores repreendendo-as pelas falsas imputações.
Outrossim, o Vereador Gilvan, a todo momento deixou claro e evidente que seu posicionamento é contra a ideologia de esquerda que elas defendem, como aborto e legalização das drogas. As Vereadoras novamente estão utilizando a situação como “teatro” para tentar imputar crimes a este Vereador que sempre é combativo aos partidos de esquerda e suas ideologias.
Em conclusão, os fatos ocorridos hoje não passaram de um embate normal entre parlamentares em que, a Vereadora do PSOL incorreu em uma infração ao regimento interno da Casa de Leis quando interrompeu o Vereador Gilvan. Informo ainda a representação junto à Corregedoria contra os acontecimentos da sessão de hoje, haja vista os preceitos do Regimento Interno".
Gilvan já havia mandado Camila calar a boca em plenário
Não foi a primeira vez que Gilvan da Federal mandou Camila Valadão calar a boca no plenário da Câmara de Vitória. Em dezembro do ano passado, os dois parlamentares já haviam se envolvido em outra discussão, durante sessão ordinária na Casa.
Na ocasião, Gilvan também bateu boca com professores que realizavam um ato em prol da Educação, na galeria do plenário.
Em determinado momento, Camila Valadão saiu em defesa dos professores e foi repreendida pelo vereador, que a mandou calar a boca. "Eu exijo respeito. Eu não vou calar a boca e exijo respeito do senhor", rebateu a vereadora.
Depois disso, os dois começaram a discutir e a transmissão ao vivo da Câmara Municipal foi interrompida. O bate-boca continuou sendo filmado por pessoas que participavam da sessão ordinária.
Em um vídeo, é possível ouvir Gilvan da Federal chamando a psolista de "assassina de crianças".
Diante das ofensas, Camila Valadão disse no plenário que iria processar o vereador e que ele "deveria sair preso" da Câmara, pois "usa a imunidade parlamentar para cometer crime".
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