No Estado para participar de um evento do governo do Espírito Santo, realizado no Palácio Anchieta, em Vitória, nesta terça-feira (7), o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, comentou, brevemente, com a reportagem do Folha Vitória, o suposto uso indevido de diárias por parte do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, para ir a um leilão de cavalos.
Questionado sobre como via o comportamento de seu colega de ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Waldez foi lacônico, afirmando que Lula se posicionou de maneira a dar a resposta do governo para o Brasil.
“Eu acho que o presidente Lula já deu a posição do governo federal para o Brasil. Não posso estar emitindo mais opinião sobre isso“, resumiu o ministro.
Como mostrou o Estadão, Juscelino teria recebido diárias e usou um jato da FAB para ir assistir a leilões de cavalo em São Paulo no final de janeiro deste ano.
Como deputado, destinou verbas do orçamento para asfaltar uma estrada que passa em fazendas de sua família no interior do Maranhão e sonegou informações sobre seu patrimônio à Justiça Eleitoral.
O ministro foi recebido por Lula no Palácio do Planalto na última segunda-feira (6), após uma viagem de dez dias para um congresso mundial de telecomunicações na Espanha.
Foi a primeira vez que o presidente recebeu na sede do governo o ministro, da cota do União Brasil. Os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Instituicionais, Alexandre Padilha, também participaram da conversa.
O presidente Lula orientou Juscelino a se expor publicamente e explicar as denúncias de irregularidades reveladas pelo Estadão.
Interlocutores dos ministros que participaram da reunião disseram, sob reserva, que a orientação de Lula foi de que o titular das Comunicações “vá para a rua e se explique”.
No último dia 2, o presidente havia declarado em entrevista que o ministro seria demitido caso não conseguisse se explicar. “Se ele não conseguir provar a inocência, ele não pode ficar no governo”, afirmou Lula.
Os fiadores da indicação de Juscelino Filho se opuseram à troca e deixaram claro ao governo que a demissão do ministro poderia trazer prejuízos à governabilidade.
Também disseram que o PT teve vários de seus quadros envolvidos em escândalos. Embora o apoio a Lula não seja integral na bancada do União Brasil, a cúpula partidária considera a legenda decisiva para aprovação de matérias de interesse do Palácio.
“A conta é simples. Sem os votos do União, o governo não teria nem aprovado a PEC da Transição, que é a que garante o fôlego necessário para iniciar o governo”, diz um aliado do ministro que atuou nos bastidores para manter o ministro.
Desde que Lula convocou Juscelino a se explicar, aliados dele iniciaram uma articulação para dissuadir o presidente. O primeiro movimento foi feito na última quinta quinta-feira (2), quando o ministro rompeu o silêncio sobre o tema e, em nota oficial, admitiu ter recebido diárias para agendas privadas nos eventos de cavalos e anunciou a devolução do dinheiro aos cofres públicos.
A versão do ministro, porém, não esclareceu as denúncias e ignorou fatos apresentados em uma série de reportagens publicadas pelo Estadão. Ele disse, por exemplo que, “diferentemente do que reiteradas vezes o jornal afirma, o ministro cumpriu agenda oficial nos dias 26 e 27 de janeiro”.
A reportagem não apenas mostrou que ele teve agendas públicas nesses dias como também revelou que elas duraram apenas duas horas e meia, ao todo.
A maior parte do tempo, no entanto, ele dedicou a compromissos privados sobre cavalos, uma predileção pessoal. Um dos eventos aos quais ele compareceu estava marcado desde novembro.
Além disso, ele também alegou que seria “de total desconhecimento do ministério o suposto ‘caráter de urgência’ destacado pelo jornal” para receber diárias do governo. A informação está no Portal da Transparência, abastecido com informações da pasta.
A manutenção de Juscelino Filho no governo representa uma derrota para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Em entrevista ao site Metrópoles, na última sexta-feira (3), Gleisi afirmou: “Olha, em situações como essa, eu acho que o ministro devia pedir um afastamento para poder explicar, justificar, se for justificável o que ele fez. Isso impede o constrangimento de parte a parte.”
Em outro movimento da articulação para salvar Juscelino Filho, o União Brasil soltou uma nota, neste domingo, 5. “Será que a presidente Gleisi fará a mesma declaração caso um integrante do seu partido seja alvo de ataques?”, afirma.
Veja o que pesa contra o ministro
– Asfalto para fazenda
Juscelino Filho destinou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à sua fazenda, em Vitorino Freire (MA).
A obra é feita por uma empresa investigada pela Polícia Federal por supostamente pagar propina a servidores federais para obter obras no estado.
O engenheiro da Codevasf que assinou o parecer autorizando o valor orçado para a pavimentação foi indicado pelo grupo político do ministro das Comunicações e está afastado pela Justiça acusado de receber propina. Juscelino Filho admitiu o uso do orçamento secreto para a obra.
– Contratos com amigos
A Prefeitura de Vitorino Freire tem mais de R$ 36 milhões em contratos com pelo menos quatro empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada do ministro das Comunicações.
O Estadão apurou que o município, que é governado pela irmã de Juscelino, contratou as firmas com verbas do orçamento secreto e de emendas parlamentares destinadas por ele.
Todas as companhias intensificaram os negócios a partir de 2015, quando Juscelino assumiu pela primeira vez uma cadeira de deputado – três foram abertas no início do mandato. Em duas semanas no cargo de ministro, Juscelino abriu seu gabinete ao sócio oculto de uma das empresas.
– Mentiras para o TSE
O ministro de Lula também apresentou informações falsas à Justiça Eleitoral para pagar com dinheiro público 23 viagens de helicóptero feitas durante sua campanha a deputado federal, no ano passado.
Ao prestar contas, Juscelino informou que todos os voos foram feitos por “três cabos eleitorais”. O Estadão identificou, porém, que os nomes apresentados por ele são de um casal e de uma filha de dez anos, que moram em São Paulo. A família disse não conhecer o político.
– Nas asas da FAB
Já como ministro das Comunicações, Juscelino Filho usou um voo da FAB para ir a São Paulo e participar de leilões de cavalos de raça. Ele viajou no dia 26 de janeiro, uma quinta-feira.