'Deus fez o homem e a mulher. O resto é jacaré', diz vereador de Vitória sobre homenagem a ativista trans
Em discurso na Câmara Municipal, nesta terça-feira, Gilvan da Federal repudiou uma moção de aplausos a Deborah Sabará pelo Dia Internacional da Mulher
O vereador Gilvan da Federal (PL) voltou a causar polêmica durante discurso, nesta terça-feira (05), na sessão ordinária na Câmara Municipal de Vitória. Durante discussão sobre duas moções de aplausos, propostas por parlamentares da Capital, ele questionou a sexualidade de uma das homenageadas, a ativista da causa LGBTQIA+ Deborah Sabará.
Coordenadora de Ações e Projetos da Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), Deborah Sabará, que é uma mulher trans, foi citada pela vereadora Camila Valadão (PSOL) em uma moção de aplausos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Durante a discussão sobre a questão, Gilvan da Federal afirmou, na tribuna do plenário, que Deborah não pode ser considerada mulher e, portanto, não deveria receber a moção de aplauso pela data.
"Gostaria de perguntar à vereadora do PSOL, que fez uma moção de aplauso às mulheres, se a Deborah Sabará nasceu mulher. Pode ser outra coisa, mas mulher não é. Deus fez o homem e a mulher. O resto é jacaré, é invenção do mundo", disparou o vereador, que se negou a tratar a ativista pelo gênero feminino.
"Eu quero saber também se ela consegue engravidar. Se ela não... se essa pessoa aqui, Deborah Sabará, consegue engravidar. Consegue amamentar? Se me provarem que homem engravida, eu quero ser mãe, pai, sei lá o que. Quero chegar aqui com barriga, quero gerar um filho, quero amamentar", ironizou.
Em seguida, Camila Valadão, também em discurso na tribuna da Câmara, rebateu as declarações do vereador bolsonarista.
"Primeiro, quero dizer ao vereador Gilvan que ele é um transfóbico, que tem ódio às pessoas trans. E pode chorar, vereador: a Deborah é uma mulher, do mesmo jeito que existem trans homens, trans mulheres. Quero dizer para o senhor que não se nasce mulher. Nós nos tornamos mulher nessa sociedade", afirmou a vereadora, que também saiu em defesa das mulheres que não conseguem ou não querem engravidar.
"O senhor também é um perverso, porque nem todas as mulheres engravidam. O senhor dizer aqui nesta tribuna que só são mulheres aquelas que engravidam, aquelas que amamentam, o senhor está violando e violentando muitas mulheres, que, por uma decisão divina, pode ser, vêm a este mundo e, por vários motivos, não conseguem engravidar, não conseguem gerar um filho, mesmo nascendo com vagina".
O presidente da Câmara, vereador Davi Esmael (PSD), também discursou sobre o assunto e se posicionou contra à moção de aplauso à ativista LGBTQIA+.
"Não estou discutindo a relevância do trabalho dela. Deborah Sabará é trans e não merece ser homenageada no seu local de fala de ser mulher, na minha opinião. Acredito que há mulheres que merecem essa honraria e não consigo entender a escolha de uma trans para representar as mulheres", declarou.
Militante diz que vai acionar vereador na Justiça
Procurada pela reportagem do Folha Vitória, Deborah Sabará disse que pretende acionar Gilvan da Federal judicialmente, pela fala desta terça-feira. A ativista diz que a declaração do vereador não atinge apenas ela, mas todas as pessoas trans.
"Tenho que fazer isso porque, apesar de ter sido comigo, é um compromisso que eu tenho com a minha população. Tem muitas outras pessoas que também sofrem com o preconceito, mas não têm os casos divulgados", afirmou Deborah.
"Tenho que buscar um meio para que ele não fique impune, que ele pague por isso de alguma forma, pois ele já passou dos limites. Vou buscar a delegacia, Ministério Público, Defensoria Pública e todos os órgãos competentes para entrar com uma ação contra ele", completou.
Deborah Sabará também se manifestou, em seu perfil no Instagram, sobre a fala de Gilvan da Federal. Ela afirma ter sido vítima de transfobia e misoginia.
"Fiquei estarrecida com a violência que sofri na manhã de hoje, na Câmara de Vereadores de Vitória. Não dá para acreditar na agressividade, na transfobia e muita misoginia dentro desta uma casa de lei".
Moção de aplausos é aprovada em placar apertado
Após a discussão, as moções de aplausos foram votadas e a de Deborah Sabará foi aprovada pelo apertado placar de 6 a 5. O vereador Delegado Piquet (Republicanos) foi o que deu o voto de minerva, que desempatou a votação.
Antes de se posicionar, Piquet chegou a se abster, alegando não ter acompanhado a discussão em plenário. No entanto, Davi Esmael, que votou contra a moção, pediu para que Piquet desempatasse o placar, já que ele, como presidente, já havia votado.
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