Advogado investigado em suposta venda de sentença fez parte do Conselho de Ética da OAB-ES
Marcus Modenesi Vicente atuava como presidente da 4ª turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-ES. Ele é um dos investigados em processo que culminou no afastamento de dois juízes pelo TJES
A matéria foi atualizada às 12h45 desta terça-feira (20), após a OAB-ES informar que Marcus Modenesi Vicente renunciou ao cargo no Tribunal de Ética e Disciplina da seccional no dia 7 de julho. O site da entidade estava desatualizado, segundo assessoria.
O advogado Marcus Modenesi Vicente, um dos investigados no processo que envolve venda de sentença judicial no Estado, atuava como presidente da 4ª turma do Tribunal de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-ES) até o início deste mês. Segundo a OAB-ES ele renunciou ao cargo no dia 7 de julho.
"O Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-ES informa que o advogado Marcus Modenesi Vicente não é membro do órgão desde o dia 7 de julho de 2021, quando apresentou pedido de renúncia. O site da OAB-ES foi atualizado e não registra mais o nome do advogado como membro do TED".
Já a defesa do advogado informou que, "por zelo até que tudo seja devidamente esclarecido, optou por solicitar seu desligamento das funções junto ao Tribunal de Ética da OAB-ES. Acredita ainda que a verdade será esclarecida".
Modenesi o ainda atua como conselheiro da Seccional e seguirá na função. "Trata-se de um cargo para o qual foi eleito e, portando, continuará sendo ocupado por ele", acrescenta por nota.
Segundo as investigações do MPES, Modenesi era advogado da empresa Cecato Negócios Imobiliários, e manteve contato direto com o empresário Eudes Cecato, além de Davi Ferreira e Hilário Frasson, todos investigados por suposta participação em esquema de venda de sentença no Espírito Santo.
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) decidiu, na quinta-feira (15), por unanimidade dos votos, afastar de forma cautelar os juízes Alexandre Farina e Carlos Alexandre Gutmann.
A decisão foi tomada após solicitação feita pelo Ministério Público do Estado para evitar que os magistrados interfiram na condução de um processo instaurado contra eles que investiga suposta venda de sentença. O processo tramita em segredo de Justiça.
O pedido de abertura de inquérito contra os juízes e outras sete pessoas foi protocolado no dia 31 de maio deste ano pela procuradora-geral de Justiça, Luciana de Andrade.
O objetivo era apurar a suposta prática de corrupção passiva, corrupção ativa e exploração de prestígio.
ADVOGADO É CITADO EM CONVERSA ENTRE FARINA E HILÁRIO
O advogado é citado em uma mensagem enviada por Farina para Hilário, no dia 20 de fevereiro de 2017. Na ocasião, Farina indica que esteve no gabinete do juiz Carlos Alexandre Gutmann para tratar sobre a suposta venda de sentença.
Uma assessora de Gutamnn também estava presente e teria informado aos juízes que foi procurada pelo advogado "Marquinho Vicente" para tratar sobre o processo, o que causou preocupação em Alexandre Farina.
Alexandre Farina:
"Parceiro PQP ta sendo uma ginástica louco para aquilo"
"O adv grandão que me procurou disse que tinha ido c a assessora, não foi"
"pq? O gutman chamou ela no gab dele na minha presença e ela confirmou que havia sido procurada mas para aquele processo pelo Marquinho Vicente e, não, o grande"
"Gutman fl fl fl fl c ela e eu idem dando uma moral mas enfim ela combinou com o Gutman de ir fazendo as coisas e noticiando para ele"
"Pedi para resolver até sexta-feira"
"Sendo assim fale lá com seu amigo para providenciar as coisas, ou melhor, se organizar para tal"
"Confesso que fq hiper preocupado com a presença de Marquinho Vicente nisso"
O QUE DIZ A OAB
A OAB-ES informa que está acompanhando o caso e acrescenta que tomará as providências cabíveis, observando o Código de Ética e Disciplina e as prerrogativas da advocacia.
ENTENDA A PARTICIPAÇÃO DOS JUÍZES, EMPRESÁRIO E ADVOGADOS EM ESQUEMA, SEGUNDO O MPES
Segundo as apurações do MPES, o juiz Alexandre Farina, da Comarca da Serra, teria recebido propina para intermediar a venda de sentença em favor de uma imobiliária.
O papel do magistrado teria sido intermediar a suposta venda de sentença entre o juiz Carlos Alexandre Gutmann, que proferiu a decisão, e o dono da empresa beneficiada, Eudes Cecato.
Entretanto, apesar de os diálogos demonstrarem, segundo o MPES, que Farina chegou a se encontrar com Eudes Cecato, as negociações entre os dois eram feitas com a participação de intermediários: Hilário Frasson e Davi Ferreira da Gama, ex-funcionário da Amages.
Os dois, por sua vez, mantinham contato direto com o empresário Eudes Cecato e com os advogados que representavam a empresa favorecida (Cecato Negócios Imobiliários) Luiz Alberto Lima Martins, Marcus Modenesi Vicente e Alecio Jocimar Favaro.
Os diálogos entre Hilário Frasson e Alexandre Farina para a suposta venda da decisão judicial teriam começado em fevereiro de 2017, conforme apontou o Ministério Público do Estado.
Já a sentença foi prolatada no dia 3 de março pelo magistrado Carlos Alexandre Gutman - que também teria recebido propina - em favor da Cecato. "O juiz julgou improcedentes as exceções levantadas pela oficiala cartorária e determinando registro das escrituras públicas da empresa Cecato Negocios Imobiliários Ltda", apontou o órgão.
De acordo com os diálogos verificados pelo MPES, o pagamento de uma parte da propina teria ocorrido no dia 30 de março de 2017. Na ocasião, coube a Valmir Pandolfi pegar o dinheiro com Eudes Cecato e entregar para Hilário Frasson. No mesmo dia, Hilário teria repassado a quantia para o juiz Alexandre Farina.
Ainda segundo o MPES, mensagens posteriores indicaram que o empresário pagou integralmente o valor acordado.
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OS NOMES CITADOS PELO MPES:
- Alexandre Farina Lopes – juiz da comarca da Serra que teria negociado a sentença
- Carlos Alexandre Gutmann – juiz da cormarca da Serra que teria negociado a sentença
- Hilário Antônio Frasson - ex-policial civil acusado de mandar matar a esposa, a médica Milena Gottardi e que teria intermediado o pagamento e o esquema de venda da sentença
-Davi Ferreira da Gama - ex-funcionário da Amages que teria intermediado o esquema de venda da sentença
-Eudes Cecato - sócio-administrador da empresa Cecato Negócios Imobiliários Ltda empresário interessado na sentença que teria pagado os valores
-Valmir Pandolfi - Intermediário que teria pegado o dinheiro com Eudes, a pedido de Hilário, levado para o ex-policial que, por sua vez, teria repassado os valores para o juiz Farina.
-Luiz Alberto Lima Martins – advogado da empresa beneficiada pela sentença
- Marcus Modenesi Vicente – advogado da empresa beneficiada pela sentença
- Alecio Jocimar Favaro - advogado da empresa beneficiada pela sentença
O OUTRO LADO: O QUE DIZEM AS DEFESAS DOS INVESTIGADOS NO ESQUEMA
O advogado do juiz Alexandre Farina, Rafael Lima, disse que ainda não teve acesso ao processo na íntegra.
"O julgamento foi uma surpresa para todos nós porque o processo está em segredo de Justiça. Se falou tanto em apuração de vazamento do processo e, no entanto, o julgamento foi público. Nós respeitamos, vamos acatar a decisão do Tribunal e nos inteirarmos do processo para nos posicionarmos melhor".
O advogado que representa o juiz Carlos Alexandre Gutmann Raphael Câmara disse que não existe qualquer mensagem enviada ou recebida pelo Dr. Gutmann em toda investigação. "A defesa reitera que o magistrado é inocente e que esclarecerá a verdade rapidamente”.
O advogado Marcus Modenesi Vicente garante que sempre pautou a sua atuação profissional na mais estrita legalidade, adotando conduta ética e idônea no exercício da advocacia. Informa que desconhece supostas negociações ilícitas envolvendo quaisquer dos processos em que atuou e atua. Destaca também que se antecipou e já se colocou à disposição das autoridades para prestar todas as informações que se fizerem necessárias. E acredita que toda a verdade será esclarecida.
O advogado Luiz Alberto Lima Martins está seguro em relação à sua atuação profissional e à legalidade de seus atos, já tendo se colocado à disposição da Justiça para esclarecimentos. Acredita, ainda, que toda a verdade será esclarecida.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Hilário Frasson, Davi Ferreira da Gama, Valmir Pandolfi, Alécio Jocimar Favaro e Eudes Cecato.