O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL), criticou o debate em torno do voto impresso, amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Durante o 3º encontro Folha Business, realizado na manhã desta sexta-feira (6), o parlamentar destacou que a insistência de Bolsonaro no assunto é importuna, já que tira o foco de questões que são realmente importantes para o país.
‘Nós estamos num país de 555 mil mortos, de brasileiros com fome, de empresas fechadas por conta da pandemia. A prioridade é discutir vacina”, defendeu.
Criticado pelo presidente depois da aprovação do Fundo Eleitoral, Ramos tem adotado uma postura de oposição ao Executivo Federal.
“O que aconteceu naquele processo foi de uma deslealdade sem tamanho do presidente para comigo (…). Como pegou muito mal o voto do filho do presidente a favor dos R$ 5,7 bilhões ele tentou transferir a responsabilidade para mim”, disse Ramos.
O vice-presidente ainda falou sobre os pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro. Recentemente, Ramos fez um pedido formal a Arthur Lira para ter acesso aos documentos.
Questionado se daria andamento a um dos pedidos se assumisse a presidência, Ramos disse que tem debatido o assunto com especialistas.
“Estou sendo ponderado, consultando juristas e políticos se no exercício da presidência – que só ocorreria no caso de uma viagem do presidente Arthur para o exterior ou ele assumindo a presidência da República – caberia dentro do exercício provisório da presidência o aceite de um pedido de impeachment. Vou ser muito prudente em relação a isso. Não quero criar nenhuma tensão”, disse.
Veja abaixo a entrevista completa com o vice-presidente da Câmara dos Deputados
O voto impresso não foi aprovado na Comissão Especial organizada na Câmara dos Deputados para discutir o tema. Ainda assim, há uma sinalização de que o assunto será colocado para votação no Plenário..
Antes da crítica de mérito, a crítica de procedimento. Nós estamos num país de 555 mil mortos, de brasileiros com fome, de empresas fechadas por conta da pandemia. A prioridade é discutir vacina. Eu acho inoportuno o debate, e também é inoportuno pelo aspecto conceitual. Nós temos eleições eletrônicas desde 1996 e nunca tivemos um indício minimamente sério de fraude no processo processo eleitoral. Ontem a comissão derrubou por 23 a 11. No entanto essa comissão não tem caráter conclusivo, então a matéria terá que ir a Plenário. Agora depende do presidente Arthur Lira querer ou não pautar a matéria.
O senhor fez algumas críticas de como o debate em torno do voto impresso acaba colocando em segundo plano questões de maior relevância. Como esse ambiente de tensão atrapalha a retomada do crescimento econômico do País e a volta da normalidade?
Tudo o que o investidor precisa é de estabilidade institucional. Você tem um País em que o tempo inteiro há conflito entre o presidente da República e o Supremo Tribunal Federal, em que o presidente diz que podem não acontecer as eleições, que quem ganhar ele pode não empossar, isso gera uma segurança absurda para quem pretender investir a médio e longo prazo . O primeiro desafio do Brasil é o desafio de reconciliação, de repactuar o País. O presidente Bolsonaro ganhou a eleição, está legitimado para governar e eu respeito isso. Mas o presidente não pode afrontar os outros poderes. Isso faz muito mal para a democracia e para um ambiente necessário para a aprovação das reformas.
A aprovação do Fundo Eleitoral acabou gerando um desgaste entre o senhor e o presidente. Ele acabou culpando o senhor pela aprovação do fundo de quase R$ 6 bilhões..
Eu sou daqueles que acha um exagero R$ 5,7 bilhões de reais para o Fundo Eleitoral num momento tão grave da vida política do País. O que aconteceu naquele processo foi de uma deslealdade sem tamanho do presidente para comigo, que sou um deputado que tenho minhas críticas mas em 98% das vezes votei com o governo. Presidi a Reforma da Previdência, ajudei na aprovação da PEC Emergencial e fui a única pessoa que não teve intervenção nenhuma com a decisão, porque foi decisão do colegiado de líderes da Comissão Mista do Orçamento da qual não faço parte. Eu simplesmente coloquei para votar. Infelizmente, como pegou muito mal o voto do filho do presidente a favor dos R$ 5,7 bilhões ele tentou transferir a responsabilidade para mim.
O senhor fez um pedido oficial ao Arthur Lira para ter acesso aos pedidos de impeachment que chegaram à Câmara. O senhor teve acesso aos pedidos? Eventualmente, se o senhor assumir a Câmara, pretende dar andamento a algum desses pedidos?
Eu recebi dos autores dos pedidos, eu não recebi formalmente da Câmara. Eu sou muito prudente, cuidadoso. Eu não vou por conta de um conflito com o presidente colocar em risco a estabilidade do País, jamais faria isso. Estou sendo ponderado, consultando juristas e políticos de se no exercício da presidência – que só ocorreria no caso de uma viagem do presidente Arthur para o exterior ou ele assumindo a presidência da República – caberia dentro do exercício provisório da presidência o aceite de um pedido de impeachment. Vou ser muito prudente em relação a isso. Não quero criar nenhuma tensão.
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