Política

Câmara de Vitória homenageia professoras hostilizadas por vereadores

Sessão de homenagens, proposta pela vereadora Karla Coser (PT), destaca profissionais como Rafaella Machado, hostilizada por propor uma tarefa com temática LGBT

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Facebook
Rafaella Machado recebeu apoio de toda a comunidade escolar após ser alvo de vereador

Uma sessão solene em homenagem aos professores, proposta pela vereadora Karla Coser (PT), na Câmara Municipal de Vitória, na noite desta sexta-feira (22), vai destacar também profissionais da Educação que sofreram ataques por parte  vereadores da Capital. 

Entre as professoras está Rafaella Machado, que foi intimidada pelo vereador Gilvan da Federal (Patriota), por propor atividade pedagógica que envolvia temática LGBT. 

"Nosso objetivo é homenagear todos os professores e lembrar de como a Educação sofreu nesses últimos tempos na pandemia, especialmente na rede pública. Queremos também destacar como os professores e pedagogos tiveram que se reinventar para manter o seu trabalho e sua luta por melhores condições de ensino, apesar de tantos desafios e das estruturas deficientes", explica Karla. 

Ao todo, 75 profissionais da rede municipal, estadual, federal e também da rede privada serão homenageados. 

A inclusão das professoras que sofreram ataques é, para a vereadora do Partido dos Trabalhadores, um símbolo de resistência da missão de quem atua na Educação.

"Os professores viraram vilões por parte de um grupo que nega a ciência, nega a informação. Através da Educação é que a gente adquire conhecimento e questiona a realidade, promovendo direitos, combatendo preconceitos. Justamente o que essas pessoas não querem", aponta.

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"Senti medo no começo, mas depois senti orgulho", diz professora intimidada por passar tarefa envolvendo temática LGBT

"A homenagem significa que estou no caminho certo. Quando essas perseguições acontecem é importante a gente saber que a gente tem este amparo pelas instituições públicas. É um reflexo do bom trabalho que tenho feito", explica a professora Rafaella Machado. 

Em junho deste ano, o vereador Gilvan da Federal afirmou que iria "acuar" a professora após ela pedir a seus alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Renato Pacheco, em Jardim Camburi, que desenvolvesse uma pesquisa relacionada ao marco da história dos direitos civis e LGBT, a revolta de Stonewall, em Nova Iorque, em 1968.

O parlamentar foi acionado pela mãe de uma aluna, que não teria concordado com a atividade. Em resposta à mãe, Gilvan disse por meio de um áudio que iria representar contra a professora no Ministério Público, afirmando ainda que retornaria à escola. "Eu vou aguardar ela sair e nós vamos bater boca (...). Eu quero deixar ela acuada", disse o vereador. 

"Eu senti medo no começo, mas depois senti orgulho. As consequências dessa perseguição que o vereador tentou fazer foram muito mais positivas do que negativas. Os alunos ficaram mais ativos, criticamente e politicamente. Eles estão mais interessados em fazer parte do processo de construção de uma escola melhor. A escola virou um ponto de referência para ações que vão para além do ensino formal", explicou a professora. 

Ela cita que além de estarem se preparando para eleições de um grêmio estudantil, os estudantes estão arrecadando roupas e alimentos para pessoas da Ocupação Chico Prego, em que 20 famílias estão morando no prédio da antiga escola pública Irmã Jacinta, no Morro do Romão, em Vitória.

A professora registrou um boletim de ocorrência contra Gilvan por ameaça e intimidação. Ela ganhou apoio dos estudantes, da direção do colégio, da própria Secretaria de Estado da Educação (Sedu) e de vários coletivos ligados à educação. 

Também entrou com um processo contra o vereador. A Justiça, em julho, determinou por meio de liminar que o parlamentar está proibido de mencionar a professora Rafaella Machado em qualquer uma de suas postagens em redes sociais. 

Além disso, exige que o Facebook apague nove posts de Gilvan sobre Rafaella, sob pena de multa diária de R$ 1 mil caso não cumpra.

Na época, o vereador divulgou nota em que dizia que "havia murmúrios de um movimento de militantes esquerdistas que defendem drogas, aborto e ideologia de gênero, orquestrados por alguns indivíduos recalcados e frustrados politicamente que buscam se promover sob argumentos deturpados e discursos desequilibrados contra a minha honra".  

Ele lembrou que "independentemente de difamações, notas de repúdio e ataques a minha pessoa, continuarei firme na defesa da Lei, da Ordem e dos valores da família e da pátria."

Outra professora que também foi hostilizada por outros membros do parlamento durante sessões na Câmara é Sumika Freitas. A professora, que também é coordenadora do Fórum Municipal de Educação de Vitória, teve o nome atacado por vereadores durante a discussão sobre o bônus de desempenho para o magistério. 

A diretora Lilian Souza, do Cmei Odila Simões, do bairro Morro do Quadro, em Vitória, também receberá a homenagem. 

O Cmei promoveu uma atividade com os alunos falando sobre as várias configurações de família, entre elas, famílias homoafetivas.

A diretora sofreu ataques juntamente com os professores do Cmei em sessão da Câmara em junho deste ano. Os profissionais foram chamados de canalhas, militantes e foram acusados de ensinar ideologia de gênero, promiscuidade e de "abocanhar" as crianças.