Em vídeo, servidor do TJES pede intervenção federal e convoca atos antidemocráticos
MPF recebeu representação relacionada à conduta do servidor e vai apurar os fatos
Em vídeos que circulam em redes sociais e grupos de conversas por WhastApp, um analista judiciário, servidor do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), fala em intervenção federal e "tomar o poder que emana do povo" ao convocar as pessoas para participar dos atos antidemocráticos que não reconhecem o resultado das urnas que elegeu como presidente, no último domingo (30), Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Ministério Público Federal (MPF) recebeu uma representação relacionada à conduta do servidor, que é filiado ao PL, partido do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e dará seguimento `à apuração dos fatos. Nas eleições deste ano, o servidor Rafael Monteiro terminou o pleito como primeiro suplente de deputado estadual pela legenda da qual faz parte.
Na quarta-feira (02), feriado de Finados, o analista do TJES esteve presente na concentração de bolsonaristas no 38º Batalhão de Infantaria e convocou outros apoiadores para o movimento. Ele gravou um vídeo, de dentro de um ônibus, já a caminho da manifestação, e postou em suas redes sociais.
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“Nós estamos subindo para ir para o 38º Batalhão do Exército, em Vila Velha, onde uma grande concentração ocorrerá às 16 horas. Eu quero incentivar vocês: não pensem em chuva, não pensem em nenhuma impossibilidade. É tempo de estarmos nas ruas nos manifestando pela intervenção federal”, disse ele no vídeo postado ontem. Depois, ele postou outro já no 38º BI, em meio aos manifestantes.
Num outro vídeo, gravado na segunda-feira (31) num campo aberto com dezenas de pessoas ao redor, Rafael diz que é o momento de ir para a rua para “tomar o poder que emana do povo” e resistir até as “últimas consequências”.
“Nós não podemos cair na narrativa que o Brasil está dividido. O Brasil tem grande maioria que não aceita que tomem o nosso poder da forma como foi feito ontem (domingo) aos nossos olhos. E é por isso que nós estamos aqui hoje, nós vamos resistir. Nós não precisamos, como povo, depender que o Bolsonaro tome uma atitude. Nós temos que tomar essa atitude por ele. Ele já segurou toda a barra até aqui. Agora falta pouco para que ele, em cima da nossa resistência civil, acione os mecanismos legais que têm que ser acionados”, disse Rafael, sendo aplaudido.
Ele ainda dá orientações sobre o que fazer e diz que os manifestantes terão suporte no envio de recursos.
“Agora não é o momento de meme, não é o momento de ficar passando desinformação em grupo, agora é o momento da gente se unir pra rua. Pra tomar o poder que emana do povo, então nós vamos ser apoiados por aqueles que não podem estar aqui. Tem pessoas que tem que continuar trabalhando, mas vão mandar recursos. Não vai nos faltar nada para que a gente continue aqui resistindo civilmente até as últimas consequências”, afirmou o psicólogo.
Assista ao vídeo abaixo:
Servidor diz não ser organizador de atos que questionam eleições
Em conversa com a reportagem na tarde desta sexta-feira (04), o servidor não negou participação nos atos divulgados nos vídeos. Ele, não entanto, nega que seja responsável por convocar e organizar as manifestações, mesmo sua fala sendo neste sentido no material.
"Não sou responsável por organizar manifestações. Participar, eu participo, se forem democráticas", ressaltou Rafael, que ainda destacou que sua participação nos atos tem como fim uma "cobertura" dos acontecimentos.
"Fui ver como estava a manifestação para poder informar às outras pessoas, que sempre perguntam para a gente", frisou.
Já sobre o trecho de um vídeo em que afirma que outras pessoas iriam mandar recursos para quem estivesse nas manifestações, Rafael garante que não estava falando em dinheiro, bem como, segundo ele, não se referia a possíveis patrocinadores dos atos contra o resultado das urnas no Estado.
"Estava falando de pessoas voluntárias. Nunca falei que alguém ia mandar recursos para financiar manifestação. Falei que pessoas iam se levantar para apoiar aqueles que decidiram parar suas atividades para participar dos atos, mas com mantimentos como água e comida", explicou.
Por fim, o servidor do Judiciário disse que não enxerga implicações profissionais em suas manifestações. "Como servidor, não deixo de ser cidadão, assim como não deixo de ter liberdade de expressão", concluiu.
TJES não se manifesta
O Tribunal de Justiça foi procurado para falar sobre a conduta do servidor nos atos políticos. Por meio de nota, a Corte informou que não se manifestaria e ainda reforçou que, caso seja comprovado possível comportamento indevido do funcionário, este deverá ser apurado em sede própria.
MPF vai apurar
Por meio de sua assessoria, o Ministério Público Federal (MPF) confirmou que recebeu uma representação relacionada à conduta do servidor, afirmando que, agora, o órgão ministerial irá apurar os fatos.