Foi durante a terceira reunião extraordinária da CPI do Pó Preto realizada nesta sexta-feira (6) que o pesquisador e doutorando da Ufes Israel Pestana Soares apontou a causa de problemas respiratórios. Ainda no encontro realizado na Assembleia Legislativa, o ambientalista Rogério Fraga cobrou que o Poder Público adote novos padrões e aumente o controle da emissão de poluentes.
Em sua explanação sobre o DNA do chamado pó preto, o pesquisador Israel Pestana explicou que trata-se de partícula sedimentável e ainda identificou os causadores de doenças respiratórias.
“As partículas mais grossas se depositam e causam incômodo pela sujeira e as finas alcançam os alvéolos pulmonares, acentuando problemas de asma, rinite, bronquite e sinusite”, apontou Israel.
Mas é justamente no período do verão que o problema se acentua, já que é o período do ano em que o vento Nordeste é mais predominante. Israel deu algumas características do pó preto. Segundo ele, o material tem cor negra ou castanho avermelhado, possui alto teor de ferro e carbono e ainda tem origem industrial.
“O pó preto realmente existe, mas na minha opinião a gente consegue apontar regiões em que a intensidade é maior. Em outras regiões, classifico como problema de poeira. Tem que separar poeira de outras fontes com o pó preto”, assinalou o pesquisador.
Novos padrões
A reunião extraordinária da CPI do Pó Preto ouviu também o ambientalista da ONG Juntos SOS ES Ambiental Rogério Fraga, que frisou a necessidade de que sejam estabelecidos novos padrões. Ele explicou que é necessário reverter o que já foi determinado por lei.
“Esse decreto foi aprovado e nós estamos agindo para tentar reverter isso”, anunciou. Para Rogério Fraga, é urgente que as empresas, bem como os governos e os políticos se comprometam com a qualidade de vida dos cidadãos.
“Mostramos na feira (Feira do Verde) que Vitória tem quatro vezes mais enxofre no ar que em São Paulo. E o que surpreendia é que a frota veicular de Vitória não chega nem perto a de São Paulo, então da onde vem esse enxofre?”, apontou Fraga.
O grupo também já realizou quatro atos de manifestação, “sempre com o foco em despertar e sensibilizar a condição da poluição do ar de Vitória e o que nós todos podemos fazer, a sociedade civil, empresas e o governo. Por amar Vitória que estamos nessa luta e isso é fácil, porque é uma cidade pequena, uma ilha, com uma das maiores rendas per capita do país”, citou.
Para obter a solução do problema, Rogério Fraga explicou que são importantes algumas ações como revisão dos padrões de fontes emissoras industriais e otimização dos equipamentos de controle de emissões para atender novos padrões. E ainda, determinar que todas as fontes emissoras das empresas Vale e ArcelorMittal tenham monitoramento contínuo de emissões; bem como a implantação de vídeo monitoramento das empresas da ponta de Tubarão; e o enclausuramento de partes de minério e partículas que podem ser suspensos.
Precursor das discussões sobre as emissões de poluentes na Ales, o deputado Gilsinho Lopes (PR), além de disponibilizar à CPI quatro volumes de estudos sobre o assunto, também comentou um pronuciamento feito pelo deputado federal Max Filho (PSDB).
“O deputado fez um alerta que, só no ano de 2012, foram 644 casos de câncer diretamente relacionados com o pó preto, trazendo uma despesa para o estado de R$ 720 mil, a partir de estudo elaborado pela Secretaria de Estado da Saúde. Gostaria que fosse solicitado esse estudo para fazer parte do relatório que a comissão está fazendo”.
A CPI terá 90 dias para investigar as denúncias de poluição atmosférica. E as reuniões passarão a acontecer, ordinariamente, às quartas-feiras, a partir de 13 horas.