Política

O mercado, as eleições de 2026 e a artilharia de Euclério contra Pazolini

Aliado de Casagrande, prefeito de Cariacica distribuiu alfinetadas para o colega da Capital. Pano de fundo é a eleição do ano que vem

Mercado-municipal-de-Cariacica
Euclério Sampaio (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

O prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), entrou de vez no mais que antecipado processo eleitoral de 2026. Ontem (10), durante a inauguração do Mercado Municipal de Cariacica, ele fez piadas com os antigos colegas da Assembleia, cobrou parceria de deputados federais e alfinetou grupos políticos de oposição ao governador Renato Casagrande (PSB), de quem é aliado.

Com o vigor de quem não aparenta ter passado por duas internações hospitalares recentemente – uma para transplantar um rim e outra para tratar uma infecção urinária –, Euclério distribuiu indiretas, algumas com endereço certo: a sede da Prefeitura de Vitória, ou melhor, mirou direto no prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos).

Sem citar nomes, durante discurso que fez no evento, Euclério fez questão de enfatizar que o Mercado Municipal de Cariacica é o primeiro da Região Metropolitana a ser inaugurado funcionando – em clara comparação com o Mercado da Capixaba – o de Vitória –, que foi inaugurado por Pazolini em julho do ano passado, mas que ainda está com as lojas fechadas.

“É o primeiro Mercado Municipal funcionando do Espírito Santo. Nós não iríamos inaugurar e deixar fechado. Eu não faço inauguração, eu faço entrega”, disse Euclério que, ao longo do breve discurso de 7 minutos, foi interrompido várias vezes por aplausos.

As cutucadas não pararam por aí. Ele fez questão de elogiar o governador Renato Casagrande (PSB), parceiro nesta obra e em muitas outras no município. E, em meio ao elogio direcionado ao governador que estava presente no evento, outra referência a Pazolini.

“Casagrande nunca abandonou Cariacica, aliás, ele cuida dos 78 municípios do Espírito Santo. Ele trata os 78 da mesma maneira, independente se o prefeito é parceiro ou não. Acho até, governador, que o senhor está fazendo mais investimentos em Vitória do que em Cariacica”, disse Euclério, dessa vez arrancando risos da plateia.

A reação era esperada. A “brincadeira” de Euclério apontou direto para a briga velada que existe entre o governo do Estado e a Prefeitura de Vitória, ou entre Casagrande e Pazolini e que tem, como pano de fundo, uma disputa de poder pela liderança política no Estado.

Disputa essa que ficou bastante evidente no ano passado e que tem tudo para atingir o seu ápice no ano que vem, principalmente nas eleições majoritárias. Casagrande deve disputar uma das duas vagas para o Senado e Pazolini é cotado para concorrer ao Palácio Anchieta. A previsão é de uma disputa acirrada entre os dois grupos.

E Euclério continuou: “Quero dizer para vocês que ninguém constrói nada sozinho. Fiz a maior união no Estado, juntando gregos e troianos em prol da cidade, porque Cariacica não andava e hoje, nos últimos quatro anos, desenvolveu mais do que nos últimos 30. Cada tijolo dessa cidade tem a digital de Renato Casagrande”, disse o prefeito, agradecendo ao governador pela parceria.

Embora não tenha sido tão explícito nessa fala, Euclério voltou a mirar o prefeito da Capital que, na Região Metropolitana, é o único que não faz parte da base aliada liderada por Casagrande.

Do ponto de vista de quem está no grupo do governador, Pazolini é visto como alguém que caminha sozinho, isolado. Ele não participa de eventos, ordens de serviço, anúncios de obras do governo do Estado na Capital.

Embora em 2023 os dois, por meio de interlocutores em comum, tenham ensaiado uma reaproximação, o período eleitoral e as eleições municipais do ano passado os afastaram ainda mais. E, pelo que tudo indica, cada um deve continuar no seu canto, medindo forças e fazendo ataques sutis para desgastar o outro lado, como Euclério fez ontem.

Além de aliado de primeira hora de Casagrande, Euclério foi citado pelo governador como uma alternativa à sua sucessão, caso o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) não prospere na sua já iniciada articulação para se viabilizar ao governo do Estado.

Ou seja, se for o nome a receber a benção do Palácio Anchieta, Euclério estará num palanque oposto ao de Pazolini, e com o processo eleitoral iniciado de forma tão precoce, será cada vez mais comum a ocorrência desse tipo de alfinetadas públicas.

No final do seu discurso, Euclério foi ainda mais incisivo na defesa da continuidade do grupo de Casagrande no poder. Algo que ele ainda não tinha feito, com tanto fervor, ao menos publicamente:

“Pensem bem! Um grupo, comandado por Renato, está levando desenvolvimento para os 78 municípios. Vocês querem arriscar? Botar outro que vai destruir tudo que está sendo feito? Prestem atenção, fiquem antenados. Juntos, podemos muito mais do que qualquer coisa”, avisou, em tom alarmante.

Mercado-municipal-de-Cariacica
Inauguração do Mercado Municipal de Cariacica (Foto: Thiago Soares/Folha Vitória)

Sobrou também para a bancada

E Euclério, que parecia estar “inspirado” ontem, também mirou a bancada federal capixaba. Ao elogiar seu aliado, o deputado Messias Donato, como o parlamentar que mais leva recursos para Cariacica, mandou outra indireta:

“Tem deputado federal que não bota um centavo e diz que ama Cariacica, que manda horrores de dinheiro pra Cariacica. Deve estar mandando para outro lugar”, disse Euclério.

Depois, percebendo que havia causado espanto e curiosidade na plateia, emendou: “Não tenho papas na língua, falo o que tem que ser falado”.

LEIA TAMBÉM:

Sergio Meneguelli: “Meu projeto é disputar o Senado, não vou para a reeleição”

Filiação de Euclério ao União deve ocorrer em Brasília e após o Carnaval

Fabiana Tostes
Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.