São Paulo – No relatório em que detalham a possível “gestão temerária e fraudulenta” em investimentos realizados pelos quatro maiores fundos de pensão de estatais federais, os investigadores da operação Greenfield, da Polícia Federal, citam a “suspeita de que pressões políticas e lobbies realizados por grupos econômicos próximos ao governo federal tenham pressionado a diretoria e os conselhos deliberativos dos fundos” para liberar os aportes em cinco casos investigados pela Greenfield. São eles: Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Multiner, FIP Enseada, FIP RG Estaleiros, FIP Global Equity e Invepar.
Como corre por uma vara criminal da 1.ª instância da Justiça Federal, a Greenfield não tem como foco políticos ou agentes públicos com foro privilegiado. Entretanto, os apontamentos dos investigadores no relatório – em que pediram para que 40 alvos da apuração fossem afastados de suas empresas e fundos – indicam que, assim como no caso da Lava Jato, em algum momento, deve haver desdobramento em inquéritos nas cortes superiores.
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No caso do FIP OAS Empreendimentos, os investigadores afirmam ser “necessário investigar mais a fundo as razões que levaram a Funcef a investir na OAS Empreendimentos, considerando a influência que o Grupo OAS exerce sobre o Poder Público Federal”.
Ao explicar o investimento no FIP Sondas, responsável pela Sete Brasil, o relatório lembra as informações “públicas e notórias de que, apesar da iliquidez do investimento e do risco de prejuízos, a opção pelo investimento da Funcef na Sete Brasil S/A deu-se por motivos políticos e possivelmente por pressão de grupos representados por lobistas”.
Assinado pela delegada Rúbia Pinheiro e pelo procurador Anselmo Cordeiro Lopes, o relatório é ainda mais incisivo no caso envolvendo o investimento da Funcef e da Petros, por meio da FIP Florestal, na Eldorado Brasil Celulose S/A. Segundo os investigadores, “sabe-se que a mencionada empresa é controlada pelo grupo J&F, grupo este que é um dos principais doadores de campanha do Partido dos Trabalhadores”.
Ainda no relatório, os investigadores afirmam que o fato de o aporte ter sido “apresentado e pré-aprovado diretamente pelo diretor de Investimentos da Petros” indica que o investimento já havia sido “negociado por instâncias políticas superiores entre os fundos de pensão e o grupo econômico proprietário das empresas”.
O FIP Florestal contou com o aporte de R$ 272,2 milhões da Funcef e outro de mesmo valor do Petros, pagos entre os anos de 2009 e 2010. O investimento teve como destinatário a empresa Eldorado Celulose que tem como acionista a holding J&F, da família Batista. Os irmãos Wesley e Joesley tiveram condução coercitiva solicitada na Greenfield. Joesley estava fora do País e prestará depoimento no seu retorno. Wesley foi ouvido pela Polícia Federal.
Ainda segundo os investigadores, é bastante suspeito na operação o fato de o investigado Humberto Pires Grault Vianna de Lima ter sido funcionário da Petros, estando na função de Gerente da Assessoria de Novos Projetos, e, posteriormente, atuar como presidente e diretor da Vitória Asset Management S/A – gestora inicial do FIP. O mesmo Viana de Lima é, atualmente, funcionário da Funcef.
Justificativa
Em nota divulgada no dia da operação, o grupo J&F afirmou que sempre esteve à disposição das autoridades e que sua relação com os fundos de pensão sempre se pautou pela ética e pela impessoalidade. Sobre a participação dos fundos Petros e Funcef na Eldorado Celulose, a empresa informou que hoje esse investimento vale RS 3 bilhões, valor “cerca de seis vezes maior do que o investido por eles em 2009, que foi de R$ 550 milhões”.
A Petros informou que está colaborando com os órgãos responsáveis pelas investigações e reforça “o comprometimento da gestão com a transparência, as boas práticas de governança e a responsabilidade na administração dos recursos”. A Previ, também por meio de nota, afirmou que possui um “modelo de governança maduro e transparente” e que reforçou seu compromisso com o aprimoramento do sistema de Previdência Complementar Fechado.
A Funcef reiterou, por meio de nota, que possui rigorosos padrões éticos em todos os investimentos e na relação com seus participantes e assistidos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos que vierem a ser solicitados”. A OAS disse que comentaria o caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.