A confirmação da entrada do ex-prefeito Sergio Vidigal (PDT) no governo do Estado – ele assume, a partir de fevereiro, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes) – trouxe à tona uma questão sobre o espaço do partido aliado na gestão.
Conforme a coluna De Olho no Poder noticiou na manhã de segunda-feira (20), Vidigal entra no governo como cota partidária do PDT. Tanto Vidigal quanto o partido são aliados de primeira hora do governador Renato Casagrande (PSB), ocuparam os mesmos palanques nas eleições de 2022 e 2024 e no plano nacional, as duas legendas discutem uma federação – mesmo se o plano não vingar, devem estar juntas nas eleições gerais de 2026.
Acontece que, se tudo continuar como está, a bancada pedetista, a partir de fevereiro, ocupará dois espaços no secretariado: Sergio Vidigal, na Sedes, e Philipe Lemos, no Turismo.
A bem da verdade, são três pedetistas no 1º escalão: o chefe da Casa Civil, Junior Abreu, também é filiado ao partido há anos, mas ele faz parte da cota pessoal do governador. Já Vidigal e Philipe são da cota partidária.
Como Vidigal acabou de ser nomeado e é a maior liderança do PDT no Estado, os olhos se voltam para Philipe e, nos bastidores, já há quem pergunte se ele continuará como secretário ou se continuará no PDT, já que, segundo interlocutores do governo, o partido não deve ter mais do que uma representação no primeiro escalão.
E isso por dois motivos: primeiro porque geraria um mal-estar com outros partidos aliados. Todas as demais legendas aliadas, que estiveram no palanque do governador em 2022 e foram fundamentais para sua vitória, indicaram apenas um nome no secretariado. Isso foi definido pelo governador no início da gestão e não há indicativos de que possa mudar, até para não causar ciúmes e colocar em risco a governabilidade.
Segundo que o governador quer e precisa contemplar outros partidos aliados – como o Podemos, por exemplo – e outros que não estiveram no palanque, mas que é do interesse do governo buscar uma aproximação visando, claro, as eleições de 2026.
O jogo de alianças para as eleições do ano que vem já começou e a intenção de Casagrande é montar uma frente ampla, como fez em 2022, para conseguir se eleger senador e também eleger seu sucessor no Palácio Anchieta.
Com poucos espaços no 1º escalão disponíveis para atrair outros partidos, hoje é muito difícil – na visão de interlocutores do governo, impossível – que o PDT ostente duas cadeiras. E isso coloca em xeque a permanência de Philipe no secretariado.
Tábua de salvação: Podemos pode bancar permanência de Philipe?
Philipe se filiou ao PDT em 2022, quase no final do prazo legal de mudança partidária, após uma articulação do governador para ajudar a montar a chapa federal do PDT. A aposta era que o jornalista, que fez carreira como apresentador de telejornal, fosse um bom puxador de votos e ajudasse o partido na busca por representação em Brasília.
Para uma primeira eleição, realmente a votação de Philipe surpreendeu. Ele conquistou 45.260 votos. Porém, não foi eleito, já que o partido não conseguiu alcançar votação mínima para ter direito a uma das 10 cadeiras da bancada federal capixaba.
Mesmo sem ter sido eleito, o capital político de Philipe chamou a atenção e ele foi nomeado como secretário de Cultura na Serra. Ele chegou a ser cotado como um possível sucessor do então prefeito Sergio Vidigal, mas os planos mudaram e Vidigal escolheu Weverson Meireles, que ocupava, no governo do Estado, a Secretaria de Turismo (Setur), na cota do PDT.
Com a saída de Weverson do governo para se preparar para a disputa à prefeitura, Vidigal indicou Philipe para o governo do Estado, onde está até hoje.
Embora ocupe um espaço que é do PDT, nos bastidores, Philipe não é tido como alguém partidário e está longe de ser um pedetista raiz. Mas, como ainda ostenta a fama de bom puxador de votos, é visto como alguém que pode ajudar a montar a chapa de federal do ano que vem. E isso em qualquer partido.
Tanto que, a coluna apurou que Philipe anda recebendo convite para migrar para outras legendas e uma delas seria o Podemos. Haveria até uma agenda marcada entre Philipe e o presidente estadual do Podemos, deputado Gilson Daniel, nesta semana, para tratar do assunto.
Hoje, o Podemos tem dois deputados federais – Gilson e Victor Linhalis – e perdeu o ex-secretário de Segurança Coronel Ramalho (PL), que foi candidato a deputado federal e ajudou, com sua votação, a eleger os dois nomes do partido.
Ou seja, se quiser continuar com duas cadeiras ou aumentar, o Podemos precisa reforçar sua chapa a federal e o convite para Philipe passaria por isso. O secretário tem a intenção de disputar a eleição para deputado federal novamente e a aposta é que tenha uma votação expressiva.
Mas o que isso tem a ver com a situação de Philipe no governo?
O Podemos está para indicar um nome do partido para compor o secretariado de Casagrande. O próprio governador disse à coluna que as conversas estavam abertas com Gilson Daniel: “Estamos conversando, vamos ver como encaixar o Podemos de forma mais efetiva no secretariado”, disse Casagrande à coluna, na semana passada.
“De forma mais efetiva” porque a secretária de Governo, Emanuela Pedroso, é filiada ao Podemos, porém, ela não seria uma indicação do partido. Assim como Junior Abreu, ela faria parte de uma cota pessoal do governador.
O que tem sido ventilado nos bastidores e até tratado de forma informal por algumas lideranças do Podemos é a possibilidade de, se Philipe realmente migrar para o partido com o compromisso de disputar vaga de deputado federal, ser o nome indicado pelo Podemos ao secretariado.
Assim, Philipe permaneceria no 1º escalão – no Turismo ou em outra pasta –, o Podemos teria representação no governo e o partido teria a garantia de ter uma chapa competitiva na disputa a federal do ano que vem.
O plano, que até parece perfeito, necessita, porém, ser bancado pelo presidente Gilson Daniel. E é aí, segundo lideranças do próprio Podemos, que a coisa emperra.
O desejo de Gilson e o efeito Ramalho
Segundo a coluna apurou com interlocutores do governo e do Podemos, haveria um desejo, por parte de Gilson Daniel, de voltar a ser secretário. Deputado federal em primeiro mandato, Gilson já foi secretário de Planejamento de Casagrande e teria a intenção de assumir uma pasta com maiores entregas, que lhe garanta visibilidade.
No ano que vem, Gilson pode disputar a reeleição, mas também pode ser escalado para uma disputa majoritária. O próprio Casagrande citou seu nome como um dos seis que podem sucedê-lo no comando do Palácio Anchieta.
A ida para o primeiro escalão e, de preferência, numa pasta vistosa, seria uma forma de Gilson se viabilizar para uma disputa no ano que vem. E, do lado do governo, seria uma forma de garantir uma aliança com seu grupo.
Mas, há um fator que, pelo menos hoje, impede o governo de trazer Gilson para o secretariado: o “fator Ramalho”.
Ex-secretário da Segurança de Casagrande, Coronel Ramalho era do Podemos e disputou vaga a Câmara Federal em 2022, ficando como 1º suplente. De lá para cá, porém, ele deixou o governo, saiu do Podemos, rompeu com o grupo de Casagrande, se filiou ao PL, disputou a Prefeitura de Vila Velha com críticas ao governo estadual e ataques ao prefeito reeleito Arnaldinho Borgo (Podemos), que é aliado de primeira hora do governador.
Então, não é interessante para o governo do Estado e nem para o prefeito de Vila Velha que Ramalho suba para a Câmara Federal, o que vai acontecer se Gilson virar secretário.
Ainda que o coronel tenha saído do Podemos, o partido teria que entrar na Justiça para requerer o mandato de deputado por infidelidade partidária, o que não seria automático. Durante todo o trâmite jurídico, Ramalho estaria na cadeira parlamentar, em Brasília.
Por isso, é muito pequena a chance de Gilson virar secretário. Casagrande vai abrir as portas para que ele indique um nome, desde que não seja o dele mesmo. Gilson irá aceitar? A conferir nos próximos dias.
Em tempo: Não se sabe se foi com a intenção de mandar uma indireta ou não, fato é que Gilson Daniel e o presidente do Republicanos, Erick Musso, se encontraram na semana passada e a foto do encontro foi postada nas redes sociais dos dois.
O Republicanos deve ocupar o polo de oposição a Casagrande em 2026, sendo cotado o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), para a disputa pelo governo do Estado. Gilson foi procurado, mas não retornou aos contatos da coluna.