Crédito: Intérprete Nefita
Crédito: Intérprete Nefita

As pesquisas realizadas pelo instituto Futura Inteligência, em parceria com a Rede Vitória no projeto 100% Cidades, que foram divulgadas na semana passada, não mostraram apenas as intenções de voto e a avaliação de governo nos quatro principais municípios da Grande Vitória.

Elas também apontaram dados importantes sobre o comportamento da população: a grande maioria está cansada da polarização política e não tem preferência por esquerda ou direita.

Os números vão de 34,4% a 54,2% dos entrevistados que afirmam não ter preferência por esquerda, centro ou direita. E somam de 36,3% a 43,2% os que afirmam estar cansados da divisão política no País.

Nem esquerda, nem direita

Em Vitória, os que não têm preferência por nenhum posicionamento político somam 34,4%. Dos quatro municípios – Capital, Vila Velha, Serra e Cariacica –, é o que apresenta um número menor nesse quesito.

Com 31,1% estão os que têm preferência pela direita e, logo em seguida, com 24,8% os que preferem a esquerda. Os que preferem um posicionamento mais de centro somam 6,3% e os que não sabem ou não responderam somam 3,4%.

Se for considerada a margem de erro, que é de 4 pontos percentuais, os que preferem a direita estão empatados com os que não têm preferência nenhuma e os que se declaram de esquerda estão empatados com os de direita.

Em Vila Velha, o percentual dos que não têm preferência por nenhum posicionamento político é maior, assim como a distância entre os que se identificam com a direita e os que se identificam com a esquerda.

Os “nem-nem” (nem direita, nem esquerda e nem centro) somam 40,2%, contra 36,8% dos que se identificam com a direita e 11,9% dos que se identificam com a esquerda. Levando-se em consideração a margem de erro, 4,4 pontos percentuais, o 1º e o 2º lugar empatam.

Já os que se identificam com um posicionamento de centro somam 5,1%, um índice menor do que os que não souberam ou não responderam (6%).

Na Serra, o percentual dos que não têm preferência por posicionamento político nenhum somam 49,2% e há uma distância considerável daqueles que se identificam com a direita e estão em segundo lugar (30,3%).

Os que se identificam com a esquerda somam 10,8% e, mais uma vez, os que se identificam com o centro são minoria. Somam 3,8% e estão abaixo dos que não souberam ou não responderam (5,9%).

Já Cariacica apresenta o maior índice dos que não se identificam nem com esquerda e nem com direita: eles representam 54,2% e somam mais de 20 pontos percentuais à frente dos que se identificam com a direita (32,2%).

Também no município, a preferência pela esquerda ocupa a terceira colocação, com 9,4% e os que se identificam com o posicionamento de centro representam o menor índice de todos os municípios pesquisados: 1,2%. Os que não sabem ou não responderam somam 3%.

Cansaço com País dividido

Com relação à percepção dos entrevistados sobre a situação de polarização, Cariacica é o município que apresenta o maior índice dos que afirmam que o País está dividido e que estão cansados disso (43,2%).

Em segundo lugar vêm os que afirmam que o País está dividido e que estão com o ex-presidente Bolsonaro (17,8%). Estes estão praticamente empatados com os que percebem a divisão do País mas que estão com o presidente Lula (17,3%). Já os que negam que haja divisão no País somam 14,8% e os que não sabem ou não responderam somam 6,9%.

O cansaço com a situação de divisão no País também registrou um índice alto na Capital: 41%. Já 23,3% afirmam que o País está dividido e que estão com o presidente Lula. Os que afirmam que o País está dividido, mas que estão com o ex-presidente Bolsonaro somam 21,3%.

Os que negam que o Brasil esteja dividido somam 10,6% e os que não sabem ou não responderam correspondem a 3,7%.

Em Vila Velha, o time dos cansados chegou a 39,7%. Bastante acima dos que afirmam que o Brasil está dividido e que estão com Bolsonaro (23,9%) e dos que estão com Lula (20,4%) – pela margem de erro, empatados.

A soma dos que negam que haja uma divisão no País corresponde a 12,4% e os que não sabem ou não responderam, 3,6%.

A Serra apresenta o menor índice daqueles que não aguentam mais a polarização do País. Eles somam 36,3%, mas mesmo assim estão acima dos que afirmam que o País está dividido e que estão com o presidente Lula (26,6%). Já os que estão com Bolsonaro somam 23,2%.

Os que negam qualquer divisão entre os brasileiros correspondem a 9,1% e os que não sabem ou não responderam somam 4,8%.

Algumas conclusões

Os dados mostram que a questão ideológica não ocupa espaço central no debate do eleitorado da Grande Vitória. É possível dizer que os eleitores estão mais preocupados com questões práticas, como quem irá e como irá resolver as demandas de saúde, educação e segurança do que quem está à direita ou à esquerda no posicionamento político.

E, somado ao outro dado que mostra que a maioria está cansada da polarização e da consequente divisão causada no País, as pesquisas sinalizam que as eleições municipais podem se diferenciar um pouco das eleições gerais de 2022.

Não é que a maioria seja apolítica. Pelo contrário. É possível que essa aversão a um discurso simplesmente ideológico seja um sinal de que o eleitorado está se afastando das brigas e discussões infindáveis e infrutíferas, que não mudam a vida de ninguém, para se atentar à política que realmente faz a diferença na vida cotidiana.

Quem apostar apenas no discurso da polarização e da divisão, sem apresentar propostas concretas que atendam à população, pode perder espaço no debate político e, por consequência, votos.

Outra conclusão importante é que o eleitorado de direita é bem superior ao eleitorado de esquerda na Grande Vitória. Apenas em Vitória, a situação é mais equilibrada, com os defensores da direita e da esquerda empatando dentro da margem de erro do levantamento.

Em parte, isso explica porque na Capital a situação do pré-candidato do PT à prefeitura (João Coser) é melhor e muito mais competitiva que seus demais correligionários nos outros municípios – conforme mostraram as pesquisas de intenção de voto na semana passada.

Para corroborar essa situação, o índice dos que afirmam que o País está dividido e que estão com o presidente Lula é maior do que os que estão com Bolsonaro, na Capital.

Vitória e Serra apresentam uma maior adesão a Lula do que a Bolsonaro. Já em Vila Velha e Cariacica, a situação é oposta.

Para os pré-candidatos que apostam numa postura mais de centro, um desafio e tanto. A parcela do eleitorado que se identifica politicamente com esse posicionamento é pequena, se comparada aos que estão à direita ou à esquerda.

A pesquisa mostra que para quem irá disputar a eleição em outubro será preciso modular o discurso e se atentar em apresentar soluções para as demandas da população. Normalmente as eleições municipais não refletem tanto os temas nacionais, focando muito mais nas questões locais. E, pelos números das pesquisa, é o que deseja a maior parte do eleitorado da Grande Vitória.

A pesquisa está registrada sob o número: ES-00672/2024

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Fabiana Tostes
Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.