Tramitando na Ales

Projeto no ES quer restringir pessoas trans em campeonatos esportivos

Autor da proposta que tramita na Assembleia argumenta que objetivo é impedir "disputa desleal"

Pista de atletismo
Foto: Canva

Começou a tramitar na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) um projeto de lei que prevê o sexo biológico como único critério de divisão de equipes e categorias em competições e eventos esportivos promovidos, direta ou indiretamente, pelo governo estadual.

Segundo o texto, de autoria do deputado estadual Lucas Polese (PL), a medida tem o objetivo de tornar os campeonatos mais justos e equânimes, “impedindo a disputa desleal entre pessoas que, por terem o sexo biológico diferente, possuem vantagens competitivas”.

A proposta se baseia no entendimento de que pessoas transgênero podem ter benefícios nas competições, deixando atletas cisgênero em desvantagem.

“Além da estrutura corporal avantajada, altura e força física, as atletas trans possuem maior capacidade pulmonar e cardíaca do que as mulheres. Mesmo com o tratamento de redução dos níveis de testosterona, a vantagem não é eliminada, o que promove a desigualdade”, argumenta o parlamentar.

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A proposta ainda estabelece que, em caso de descumprimento da regra, os recursos públicos deverão ser integralmente devolvidos, somados a uma multa de 50% do valor.

Para ser aprovado, o texto precisa ser analisado pelas Comissões de Justiça, de Defesa dos
Direitos Humanos, de Desporto e de Finanças da Ales.

A reportagem do Folha Vitória procurou a Secretaria de Esportes e Lazer do Espírito Santo (Sesport), visto que a medida pode limitar a participação de pessoas transgênero em competições esportivas no Estado, mas a pasta preferiu não emitir pronunciamento sobre o projeto.

Participação de pessoas trans

Questionado sobre como seria a participação de atletas transgênero em competições, o deputado do PL se limitou a responder que a pessoa deverá disputar na categoria em que se enquadra conforme a certidão de nascimento.

“Se estiver na certidão de nascimento ‘masculino’, vai disputar na categoria masculina”.

Ele argumentou que é possível criar uma terceira divisão para que os atletas trans se enquadrem e disputem entre si, mas isso geraria custos ao governo e por isso não é previsto na proposta.

“Se a base do governo (na Ales) achar que tem caixa para propor isso, para fazer uma emenda criando gastos, eles podem propor uma categoria separada. Eu aceito, tranquilo, a criação de uma categoria separada para as pessoas trans. Eu não posso fazer isso porque eu não vou propor aumento de gasto para o projeto já ser declarado como inconstitucional”, explicou Polese.

Projeto semelhante foi vetado em 2023

Há dois anos, a Ales aprovou um projeto semelhante, de autoria do deputado Capitão Assumção (PL). O texto, no entanto, previa a limitação às pessoas trans em todos os eventos esportivos.

Os parlamentares favoráveis ao projeto utilizavam o mesmo argumento de que homens e mulheres têm diferença de força física, o que poderia beneficiar mulheres transgênero em razão das cisgênero em alguns esportes.

À época, o governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), vetou totalmente o texto sob o argumento de que o caráter democrático pressupõe independência às instituições, dirigentes e associações que promovem campeonatos para decidir quanto ao seu funcionamento.

Por isso, a fim de contornar a decisão anterior do governo, o novo texto trata apenas das competições promovidas pelo Estado.

“O governo, na hora de fazer o veto, ele não questionou o mérito do projeto. Ele simplesmente usou um argumento liberal falando que não poderia se envolver em competições privadas, mudar os critérios, porque ele estava interferindo na livre iniciativa. Então o que a gente fez nesse projeto foi definir esse tipo de critério só para as competições esportivas criadas pelo poder público ou financiadas com recursos públicos do Estado”, explica Lucas Polese.

Julia Camim Editora de Política
Editora de Política
Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico