Oito dos dez deputados federais do Espírito Santo votaram a favor do voto impresso. Entretanto, a vontade da grande maioria dos parlamentares capixabas esbarrou em um Plenário dividido, e a proposta foi rejeitada.
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A reportagem do Jornal Online Folha Vitória ouviu especialistas sobre o assunto, que acreditam que o “sim” dos deputados do Estado na última terça-feira (10) vai muito além de uma crença genuína à segurança e transparência do voto impresso.
“Presume-se que votaram por um alinhamento político-ideológico. Se olharmos bem as bases destes deputados, em alguns casos mais, outros menos, eles realmente votaram para se alinhar a esse contingente de opinião bolsonarista no Estado”, opinou o cientista político Fernando Pignaton.
É o que também acredita o mestre em Sociologia Política, Hudson Siqueira. “Tem mais a ver com uma questão política do que o próprio conhecimento dos deputados com relação a urna eletrônica”, disse.
Já a jornalista e comentarista política Gabriela Cuzzuol defende que é preciso considerar as movimentações do tabuleiro eleitoral para 2022, como o apoio do Centrão a Bolsonaro (sem partido) e ao projeto de reeleição do presidente.
“Há o projeto da formação do que se chama de superpartido, que seria a fusão do DEM, do PSL e do PP. Esse novo partido teria elementos fundamentais para eleger um presidente da República: dinheiro, poder de pauta na Câmara, lideranças municipais e estaduais influentes e tradicionais. Falta um candidato à presidência e o que há neste momento é Bolsonaro interessado na reeleição”, afirmou.
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FIDELIDADE
Historicamente, dentre os oito deputados favoráveis ao voto impresso, Evair de Melo (PP) e Soraya Manato (PSL) são os parlamentares mais fiéis ao presidente e sempre buscaram demarcar posição nesse sentido.
Já Neucimar Fraga (PSD), que assumiu a cadeira de Sérgio Vidigal (PDT) na Casa de Leis e vai buscar a reeleição, tem deixado claro o apoio ao chefe do Executivo.
“Por um Parlamento independente e sem a pressão do STF, do TSE sobre nós é que votamos sim ao voto auditável no Brasil, em defesa do povo brasileiro e de um presidente que encorajou milhões de brasileiros a somar-se em favor dessa luta importante para a nação”, disse durante a sessão de terça-feira.
Amaro Neto (Republicanos) priorizou a fidelidade à orientação do Republicanos, que se posicionou favorável ao voto impresso. Lauriete (PSC), além de também ter seguido a posição do partido, apresenta histórico conservador nas votações, geralmente em prol das pautas governistas.
CONTRÁRIOS AO PARTIDO
Quatro deputados que votaram a favor do voto impresso foram contrários ao que orientou o partido: Da Vitória (Cidadania); Norma Ayub (DEM); Ted Conti (PSB) e Neucimar Fraga (PSD).
Da Vitória tem mostrado alinhamento às pautas governistas e sinalizado cada vez mais apoio ao presidente. O deputado federal estuda mudar de legenda para concorrer ao Senado em 2022.
Para Cuzzuol, a defesa desses parlamentares à medida também é uma sinalização aos eleitores.
“Este debate não deve se encerrar a partir de uma reeleição ou derrota de Bolsonaro em 2022. Esses deputados querem poder afirmar aos seus eleitores que tiveram essa preocupação do sistema eleitoral brasileiro. Cada político desse tem dados robustos acerca de seus respectivos públicos”.