A secretária especial da Cultura Regina Duarte falou sobre seus primeiros 60 dias à frente da pasta e sobre a reunião com o presidente Jair Bolsonaro que selou sua permanência no cargo, em entrevista à CNN Brasil, que terminou de maneira abrupta e tumultuada.
Ao fim da entrevista, a emissora mostrou uma mensagem em vídeo gravada pela colega de Regina, a atriz Maitê Proença, cobrando ações mais expressivas para a classe artística. A secretária se irritou com a transmissão.
Na volta da entrevista, Regina ainda se desculpou. “Telespectadores, desculpem o chilique mas tem que botar o pé na porta. Eu vim para dar entrevista pra uma pessoa
“Está desenterrando uma fala da Maitê de dois meses atrás. Se ela quisesse falar comigo ela me ligaria, ela tem meu telefone. Vocês estão desenterrando mortos. Vocês estão carregando um cemitério nas costas, vocês devem estar cansados. Vocês precisam ser mais leves”, disse a secretária.
Os apresentadores explicaram que a mensagem havia sido gravada a pedido da emissora, para aquela entrevista, e então Regina Duarte, bastante irritada, disse que não responderia a mais perguntas. Com a entrevista encerrada, os apresentadores disseram ainda que “a atriz Maitê Proença está viva” e que, ao contrário do que disse a secretária, “o País não está desenterrando mortos e sim enterrando as vítimas do coronavírus”.
Durante a entrevista, Regina Duarte minimizou as torturas e mortes cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura militar, e entoou Pra Frente, Brasil, de Miguel Gustavo, jingle conhecido como um hino da seleção brasileira de 1970, ao vivo.
A atriz também questionou a importância de manifestações públicas a respeito de mortes recentes no setor cultural, como os escritores Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza, os músicos Aldir Blanc e Moraes Moreira e o ator Flávio Migliaccio. Regina Duarte disse que “a cultura está acima dos partidos, das ideologias” quando perguntada sobre sua omissão a respeito da morte de grandes nomes das artes brasileiras nos últimos dias, e questionou: “Será que a secretaria vai virar um obituário?”
A atriz disse ter enviado mensagens particulares às famílias dos artistas mortos em vez de prestar homenagens publicamente. “Ou o reconhecimento existe ou não existe. O país está cultuando a memória deles, não precisam da Secretaria de Cultura. Se eu amadurecer que é importante para a memória das pessoas, posso ter no site da Secretaria um obituário.”
Regina ainda relevou as mortes tanto no setor cultural quanto entre as vítimas da pandemia do novo coronavírus: “Na humanidade, não para de morrer. Se você falar vida, do lado tem morte. Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas, não desejo isso para ninguém. Sou leve, estou viva. Para que olhar para trás? Que horrível ficar arrastando cordéis de caixões. O covid está trazendo uma morbidez insuportável.”
Sobre a reunião com o Presidente da República, Duarte negou qualquer clima negativo e afirmou que o encontro se deu em um “momento leve, descontraído”. Sobre Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares e crítico público de Regina, que participou da conversa com Bolsonaro, a atriz disse já nem acreditar mais que ele seja crítico das ações dela. “Deixa o Sérgio Camargo fazer o trabalho dele, eu não tenho nada com isso. Não vai cair no meu CPF as coisas que ele possa vir a fazer.”
A secretária não negou que foi pega de surpresa pela recondução do maestro Dante Mantovani ao cargo de presidente da Funarte, mas afirmou que ele “parece um cara estruturado que conhece o setor”. Regina disse também não percebe qualquer tipo de hostilidade dentro do governo por parte da ala olavista. “Não sinto resistência do governo, sinto resistência da burocracia, das dificuldades das coisas andares. Uma sugestão de nomeação leva 4 semanas.”
Sobre outras nomeações suas vetadas pelo Planalto, a secretária contemporizou: “Quantas vezes eu fui consultada, falei uma coisa e saiu outra? A palavra do Presidente é muito mais forte.”
Regina Duarte afirmou ter concluído o processo para que sua secretaria se desligue do Ministério da Cidadania para se integrar plenamente à pasta do Turismo e falou brevemente a respeito de uma instrução normativa que deve publicar para propor o aumento dos prazos de prestação de contas para entidades culturais afetadas pela pandemia, desde que apresentem justificativas comprovadas, e o parcelamento dos débitos do setor para manter os empregos dos contratados.