Política

Relator acusa Casagrande de receber R$ 1,8 milhão e realizar reunião no Palácio Anchieta

Sérgio Neves afirmou que repasse, aprovado via setor de operações estruturadas, foi realizado em sete parcelas de R$ 250 mil e uma de R$ 50 mil entre julho e setembro de 2010

Renato Casagrande era conhecido como “Centroavante” pelos executivos da empresa. Foto: Divulgação

A delação de ex-executivos da Odebrecht não param de causar danos a imagem dos políticos capixabas. Um dos oito políticos capixabas citados na lista de Fachin, o ex-governador Renato Casagrande, foi acusado pelo ex-superintendente da empresa no Espírito Santo e em Minas Gerais, Sérgio Neves, de receber contribuições via caixa 2 de R$ 1,8 milhão nas eleições de 2010, 2012 e 2014.

Segundo Neves, em 2010, a contribuição, aprovada via setor de operações estruturadas, foi realizada em sete parcelas de R$ 250 mil e uma de R$ 50 mil no período entre 20 de julho e 16 de setembro.

“As parcelas foram entregues parte em Belo Horizonte, em um apart-hotel chamado Clan Vila Ema, e parte em São Paulo sempre coordenada com o Paulo Brusque”, confirma Neves, citando Brusque, assessor do ex-governador, como o responsável por fazer o “link” entre as duas partes.

Palácio Anchieta

Ainda em seu depoimento, Sérgio Neves afirma que para as eleições municipais de 2012, Brusque voltou a solicitar reunião com membros da Odebrecht com o objetivo de pedir apoio a eleição de Luciano Rezende (PPS), do grupo político de Casagrande, a prefeitura da Capital.

O ex-executivo da empresa revela que, desta vez, uma das reuniões teria acontecido na “sede do governo do Espírito Santo”, o Palácio Anchieta e contado com a participação de Neves, Benedicto Júnior, Paulo Brusque e o proprío Casagrande, apelidado de “Centroavante” nas listas da empresa.

“Aí veio 2012 e o assessor do Casagrande me solicitou uma reunião de igual forma. A reunião foi realizada na sede do governo do Espírito Santo, com a participação do governador, do Benedicto Junior, do Paulo Brusque e eu estava presente. Casagrande solicitou apoio ao seu grupo político, nesse caso específico que era o candidato Luciano Rezende, se não me engano, do PPS, a Prefeitura de Vitória. Nós efetuamos essa contribuição, no valor de R$ 500 mil, via setor de operação estruturada”.

Repasses similares

Por fim, em 2014, na eleição a governador do Estado, novos pagamentos foram feitos ao grupo político de Casagrande, desta vez no valor de R$ 770 mil.
De acordo com a delação de Sergio Neves, esse foi o único pagamento feito de forma legal, via tribunal eleitoral. O encontro entre os dois e o motivo desse pagamento ter sido feito desta forma também chama atenção, muito por conta de uma “particularidade” citada pelo delator.

“Em 2014, tem uma particularidade. Ele (Casagrande) tava disputando a reeleição com o Hartung. O Casagrande frisou que os valores que a empresa contribuísse fossem iguais ou similares aos do Hartung (outro candidato) e a empresa resolveu que os valores fossem repassados de forma oficial. A gente efetuou pagamento de aproximadamente de R$ 770 mil, feito via tribunal eleitoral”.

O que disseram

Procurados pela reportagem, o ex-governador Renato Casagrande e o prefeito de Vitória Luciano Rezende se pronunciaram através de nota.

Renato Casagrande
1.      Nunca tratei de assuntos referentes à campanha eleitoral na sede do Palácio Anchieta com a Odebrecht, nem com nenhuma outra empresa; as reuniões relatadas pelos delatores sempre abordaram assuntos institucionais e de interesse do Estado;
2.      Em 2010, fui ao Rio de Janeiro a uma reunião com o Superintendente da empresa, Benedito Junior, para solicitar recursos para a campanha de governador, porém, não explicitei valor específico, como relatado pelo delator, muito menos que fosse por via ilegal;
3.      Em 2012, não solicitei recursos para as campanhas do PSB ou aliados diretamente no ES. Isso foi feito pela direção nacional do Partido, que arrecadou e repassou aos Estados.
4.      Em nenhum momento houve, de minha parte ou da equipe, qualquer negociação referente a obras ou serviços no Estado, prova disso é que a empresa não fez nenhum contrato no meu período de governo.
5.      Já solicitei o levantamento de toda documentação referente às prestações de contas das minhas campanhas e providenciarei  as informações sobre a forma como foram efetivadas, até porque as delações misturam doações oficiais com outras supostamente não oficiais.
6.      Esclareço que a administração financeira da campanha era realizada por equipe especialmente indicada para esse trabalho, que era responsável pela arrecadação, aplicação e prestação de contas dos recursos  junto à justiça eleitoral.

Luciano Rezende
“Como ficou bem claro no próprio depoimento do delator, jamais tive contato com essa pessoa ou qualquer outro representante dessa empreiteira citada, para tratar desse assunto ou de outro, que desconheço.  E mais, durante todos os meus 4 anos de mandato, essa empresa não fez nenhuma obra em Vitória!”