Política

Resgate de brasileiros na China foi bancado por cartão corporativo, diz Presidente

Na saída do Palácio da Alvorada, Boslonaro também acusou a imprensa de "mau caráter", por fazer reportagem sobre gastos terem dobrado em quatro meses

Foto: Reprodução/ Twitter

O Presidente Jair Bolsonaro disse hoje na saída do palácio da Alvorada, a apoiadores, que “parte da imprensa é mau caráter”. A declaração de Bolsonaro foi ao comentar reportagens publicadas no fim de semana sobre o aumento de gastos com o cartão corporativo da Presidência nos primeiros quatro meses de 2020. 

“A imprensa como sempre criticando o cartão corporativo. Só que os caras são tão mau caráter que não dizem que parte da operação da China (de resgate de brasileiros da cidade chinesa de Wuham) por causa da pandemia do novo coronavírus), três aviões da Força Aérea, por serem aviões militares, foram financiados com o cartão corporativo meu. Falta de caráter e irresponsabilidade dessa imprensa aí”, disse o Presidente.

Os gastos com cartão corporativo da Presidência dobraram nos quatro primeiros meses de 2020, na comparação com a média dos últimos cinco anos. A fatura no período foi de R$ 3,76 milhões, valor que é lançado mensalmente no Portal da Transparência do governo.

Em dezembro do ano passado, o Estadão revelou que o governo passou a ignorar uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e se recusa a explicar como tem usado o dinheiro público via cartões corporativos. A Presidência tem justificado, nos pedidos feitos via Lei de Acesso à Informação, que a abertura dos dados e notas fiscais poderiam colocar em risco a segurança do Presidente.

Neste início de ano, essas despesas deram um salto e fugiram do padrão do que gastaram os ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer no mesmo período. Foge do padrão, inclusive, do que gastou o próprio Bolsonaro no seu primeiro ano de mandato, quando apresentou uma despesa de R$ 1,98 milhão de janeiro a abril.

O cálculo leva em consideração os pagamentos vinculados à Secretaria de Administração da Presidência da República. Além de eventuais despesas em favor de Bolsonaro, a secretaria é responsável por gastos de familiares do Presidente e das residências oficiais. Responde ainda por pagamentos corriqueiros da Presidência.

Mas não foi só a fatura dos cartões ligados diretamente a Bolsonaro que explodiu neste início do ano. O total de despesas sigilosas da Presidência, que inclui também gastos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aumentaram na mesma proporção. Foram R$ 7,55 milhões em despesas sigilosas da Presidência da República de janeiro a abril, 122% a mais do gasto no mesmo período do último ano do governo Temer. Em cinco anos, o mais próximo disso foram os R$ 4,69 milhões (em valores corrigidos pela inflação) despendidos em 2015, na gestão de Dilma.

Antes de ser eleito, Bolsonaro foi um crítico ferrenho dos gastos com cartões corporativos e, principalmente, do possível sigilo dos extratos. Em 2008, em discurso na Câmara dos Deputados, ainda como parlamentar (na época filiado ao PP) desafiou o então presidente Lula a “abrir os gastos” com o cartão.