Política

Romaria pelo interior e teste de fogo na segurança: a semana de Ricardo Ferraço à frente do ES

Vice assumiu pela 7ª vez o governo do Estado, dessa vez nas férias de Casagrande. Visibilidade do cargo foi ao encontro dos projetos eleitorais para 2026

Ricardo Ferraço no lançamento da Operação Colheita em São Mateus (foto: Secom/ES)
Ricardo Ferraço no lançamento da Operação Colheita em São Mateus (foto: Secom/ES)

Não foi a primeira vez que o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) assumiu o comando do Espírito Santo. Desde que ele e o governador Renato Casagrande (PSB) tomaram posse em 2023, essa foi sua sétima interinidade. No entanto, a que começou no último dia 21 e se encerra hoje (31), com o retorno de Casagrande das férias, foi a que mais deu visibilidade ao vice.

Durante o período à frente do Palácio Anchieta, Ricardo concentrou esforços em duas frentes principais: atender a demandas antigas do interior e reforçar ações na segurança pública, uma pauta que ganhou ainda mais evidência diante dos recentes ataques criminosos na Grande Vitória.

Em pouco mais de uma semana, Ricardo percorreu pelo menos 10 municípios, sendo quatro num único dia – segundo sua agenda pública divulgada pela assessoria.

As agendas contemplaram desde o acompanhamento de obras do governo, como em Cachoeiro e Mimoso do Sul – este último marcado pelo primeiro ano da tragédia das chuvas –, até anúncios de projetos estratégicos.

Ricardo anunciou uma nova etapa do programa de pavimentação de estradas rurais “Caminhos do Campo”, em Laranja da Terra e João Neiva, além do lançamento da Operação Colheita e da liberação de crédito para a construção de pequenas barragens.

A Operação Colheita vai reforçar o policiamento no meio rural de 73 dos 78 municípios do Estado durante o período de colheitas, que vai até 30 de novembro. O programa foi lançado em São Mateus e em Guaçuí – no Norte e no Caparaó.

A linha de crédito lançada também é voltada para o homem do campo, principalmente para os agricultores familiares. Trata-se de um programa de financiamento para a construção de pequenas barragens, numa tentativa de ampliar a segurança hídrica no Estado, principalmente nesse cenário de constantes mudanças (e crises) climáticas.

No último final de semana, Ricardo esteve ainda em São Roque do Canaã, para a entrega de equipamentos agrícolas para associações de agricultores.

O desafio na segurança

Anúncio de mais policiais nas ruas (foto: redes sociais)

Mas nem tudo foi calmaria na passagem de Ricardo pelo Palácio Anchieta. O governador interino, como todos os moradores da Grande Vitória, foi surpreendido na semana passada com ataques orquestrados por criminosos que incendiaram dois ônibus e depredaram viaturas policiais.

A ousadia dos bandidos foi em reação à morte de um traficante num confronto com a polícia, na quarta-feira passada, no bairro São Benedito, em Vitória. Por dois dias e por questão de segurança, diversas linhas de ônibus deixaram de circular na parte mais alta da Capital.

Foram três dias de tensão, que pediam uma postura firme das autoridades competentes. Ricardo determinou o reforço no policiamento do Complexo da Penha e subiu o tom, em discursos e entrevistas, contra os criminosos. Além de monitorar, de perto, e se reunir constantemente com a cúpula da PM e da Secretaria de Segurança Pública.

Na sexta-feira passada (28), quando uma outra viatura da PM foi alvejada por criminosos, Ricardo anunciou a convocação de 650 soldados da PM e a ampliação, de 40 para 50 vagas, da próxima turma de oficiais militares. Ele também mandou convocar 100 aprovados no concurso dos bombeiros.

A assessoria do governo diz que os anúncios na área de segurança já estavam previstos. Mas, coincidentemente ou não, veio logo após os ataques, mudando o foco que estava na criminalidade para as “ações de resposta” do governo.

Reforço e estratégia

Lançamento do crédito para construção de barragens (foto: Secom/ES)

Não que irá se questionar o direito do governador Casagrande de tirar férias. Mas é inegável que a semana de descanso foi bastante oportuna para os planos eleitorais do seu candidato à sucessão.

A corrida eleitoral de 2026 foi bastante antecipada, por todos os lados. E por mais que a campanha de fato ocorra só em meados do ano que vem, nos bastidores, quem tem intenção de disputar já está em clima eleitoral. E no Palácio Anchieta não é diferente.

Ao assumir a interinidade, num vídeo, Ricardo prometeu seguir o “ritmo Casão” de trabalho, ou seja, um ritmo intenso, que muito lembra o ritmo de campanha eleitoral, conciliando agendas na Grande Vitória e no interior.

Aliás, o foco no interior tem sido uma estratégia adotada por outros postulantes ao Palácio Anchieta. O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), por exemplo, tem feito incursões fora da Região Metropolitana, justamente para ampliar sua presença no Estado e viabilizar seu nome à corrida eleitoral.

Ricardo conseguiu imprimir o mesmo ritmo de Casagrande, mas contou também com uma comunicação estratégica para fazer seus atos conhecidos. Além de sua própria equipe, ele teve o reforço do assessor pessoal do governador, que não tirou férias, mas ficou por conta da marcação e divulgação das agendas.

Porque na política ganha força aquela máxima de que não basta fazer, é preciso mostrar que fez, principalmente em véspera de processo eleitoral. É o famoso ter que “comer e arrotar”.

A romaria ao interior também serviu a Ricardo como um termômetro de sua própria popularidade. O vice é hoje o plano A do governo do Estado na sucessão de Casagrande. Mas o governo também trabalha com planos B e C para manter o grupo no poder.

Desde que deixou a Secretaria de Desenvolvimento (Sedes) para participar mais das entregas do governo, foi a primeira vez que Ricardo não teve a companhia do governador ao seu lado, embora em todos os compromissos públicos tenha lembrado de Casagrande e do projeto de continuidade para o Estado.

Foi uma semana de teste para Ricardo na cadeira de governador, cumprindo o que fora combinado mas também tendo que lidar com imprevistos e desafios. A tendência é que esses “testes” aumentem, daqui pra frente. Até porque serão essas experiências que ditarão qual será a decisão final do grupo do governador sobre as eleições de 2026.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.