Política

'Uma coisa é você admirar uma pessoa, outra é você conviver com ela', diz Bolsonaro sobre Moro

O pronunciamento acontece nesta tarde

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Em pronunciamento na tarde desta sexta-feira (24), o presidente da República, Jair Bolsonaro, falou a respeito da saída de Sérgio Moro.

“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje, pela manhã, tomando café com alguns parlamentares, eu lhes disse: hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com o seu ego, e não com o Brasil”, afirmou.

Confira outras declarações do presidente:

“O que tenho ao meu lado e sempre tive foi o povo brasileiro. Hoje essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro. Isso aconteceu há poucas horas”.

“Todos nós conhecemos Moro de suas decisões da Vara Federal de Curitiba”.

“Acabou o primeiro turno, passei para o segundo turno com Haddad, do PT. Nesse ínterim, eu baixado no Einstein, em São Paulo, recebi uma ligação de uma pessoa que poderia fazer com que o senhor Sérgio Moro fosse me visitar. Ele não esteve comigo durante a campanha, eu não sei em quem ele votou e nem quero saber. Eu exatamente evitei conversar com ele entre o primeiro e o segundo turno, porque essa visita se tornaria pública e eu não queria aproveitar do prestígio dele para conseguir uma vitória no segundo turno”.

“Moro não participou da minha campanha, falamos depois da eleição”.

“Autonomia não é soberania”.

“A indicação para o comando da PF inicialmente foi de Moro, porque eu confiava nele”.

“A todos os ministros, a Moro também, falei do meu poder de veto”.

“Mais de 90% desses cargos que passaram pela minha mão eu dei sinal verde, assim foi com o Valeixo. A indicação foi do senhor Sérgio Moro, apesar de a lei de 2014 dizer que a indicação e nomeação é exclusiva do senhor presidente da República. Abri mão disso, porque confiava no Moro e ele trouxe sua equipe aqui para Brasília”.

“Moro trouxe sua equipe para Brasília. Todos os cargos-chave da Justiça são de Curitiba, inclusive a PRF. Lógico, me surpreendeu. Será que os melhores da PF estavam em Curitiba? Mas vamos confiar, dar um crédito. E assim nós começamos a trabalhar”.

“Desde o começo já se começou a falar que eu estava dificultando operações de combate à corrupção”.

“Estou lutando contra o sistema, contra o establishment. Coisas que aconteciam no Brasil praticamente não acontecem mais”.

“Moro diz que tem uma biografia a zelar. Eu digo que tenho um Brasil a zelar”.

“Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Se eu posso trocar o ministro, por que não posso trocar o diretor da PF? Não tenho que pedir autorização para ninguém pra trocar o diretor ou qualquer outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder Executivo. Será que interferir na PF é quase que exigir e implorar que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo”.

“Cobrei muitos deles aí (sobre a facada). Acho que todas as pessoas de bem do Brasil querem saber. Desculpa, ministro, mas entre o meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar”.

“Ao longo do tempo, uma coisa é ter uma imagem e conhecer uma pessoa. A outra é conviver com ela. Nunca pedi para ele (Moro) para que a PF me blindasse onde quer que fosse”.

“Queremos que a PF seja usada em sua plenitude. No que depender de mim, operações da PF serão potencializadas”.

“Ontem, numa videoconferência, o sr. Valeixo se dirigiu a todos os seus 27 superintendentes e disse que desde janeiro vinha falando com o Moro que ia deixar a PF”.

“Ontem conversei com o Moro e abri meu coração. Duvido que ele abriu o dele para mim”.

“Eu sempre disse aos meus ministros: a confiança tem que ter dupla mão”.

“Sempre falei para ele: Moro, não tenho informações da PF. Eu tenho que todo dia ter um relatório do que aconteceu, em especial nas últimas 24h, para decidir o futuro da nação. Nunca pedi o andamento de qualquer processo. Até porque a inteligência, com ele, perdeu espaço na justiça”.

“Eu sempre cobrei informações dos demais órgãos de inteligência oficiais”.

“Conversando ontem com Moro chegou a questão do Valeixo. Eu disse que estava na hora de colocar um ponto final nisso. Ele estava cansado, fazendo como pode o seu trabalho. Pessoalmente, nao tenho nada contra ele, conversei poucas vezes com ele e a maioria das vezes estava o Moro do lado. Então eu falei que amanhã o Diário Oficial publicaria a exoneração do Valeixo. E, pelo que tudo indicava, a exoneração era a pedido. Ele (Moro) relutou e falou: mas o nome tem que ser o meu. Eu disse para conversarmos”.

“Por que tem que ser (indicação) dele, e não o meu? E lembrei da lei de 2014, que a indicação é prerrogativa minha. O dia que eu tiver que submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo de ser presidente da República”.

“Jamais pecarei por omissão. Falei para ele (Moro) que queria um delegado, que podia não ser o dele ou o meu, mas que eu sinta que possa interagir com ele. Por que não?”.

“É comum que eu possa interagir com ele (diretor-geral da PF), eu interajo com Abin”.

“Sempre procuro o ministro, mas na necessidade eu falo com o primeiro escalão do ministro”.

“Moro condicionou a troca de Valeixo à indicação para o STF. É desmoralizante para um presidente ouvir isso”.

“Lamento que aquele que mais tinha que defender dentro da legalidade não o faz”.

“Não posso conviver com uma pessoa que pensa bastante diferente de mim”.

“Moro resolveu marcar uma coletiva e fez acusações infundadas, que eu lamento”.

“Teve um clima pesado sim, com o ministro na última reunião de ministros, onde eu cobrei dele que tomasse uma posição sobre prisão e algemas usadas contra mulheres na praia, em praça pública. Ele tinha que mostra sua cara, ele tem amparo na lei de abuso de autoridade”.

“Se ele (Moro) quer ter independência, poder (ter sido) candidato em 2018”.

“Vamos levar, no sentido figurado, muito tiro na cara, mas vamos cumprir a missão”.

“(Moro) é um ministro, infelizmente, desarmamentista. Aquilo que eu defendi na campanha ou pré-campanha, os ministros têm a obrigação de estar comigo”.

“Não tenho mágoa do senhor Sérgio Moro. Hoje pela manhã acredito que sete ou oito deputados tomaram café comigo. Eu lhes disse: hoje vocês vão conhecer quem não me quer na cadeira presidencial”.

“Desculpe, senhor ministro (Moro). O senhor não vai me chamar de mentiroso”.

“Conversei com Valeixo e ele concordou que contasse no Diário Oficial da União ‘demissão a pedido'”.

“Não há possibilidade de interferir na PF. Sua própria estrutura garante autonomia”.

“Não são verdadeiras insinuações de que eu desejava saber sobre investigações em andamento”.

“Nos quase 16 meses no Ministério da Justiça, o senhor Sérgio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas não via interferência, mas quase como uma súplica sobre o Adélio, porteiro e meu filho 04”.

“Sobre a exoneração do dr. Valeixo, pela Lei 13.047/2014, é prerrogativa do presidente da República a nomeação e exoneração do diretor-geral, bem como diversos outros cargos. A exoneração ocorreu após conversa minha com o ministro da Justiça pela manhã de ontem. À noite, eu e Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido. Desculpe, senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso”.

“Não posso aceitar minha autoridade confrontada por qualquer ministro”.

“O governo continua. O governo não pode perder sua autoridade por questões pessoais de alguém que se antecipa a projetos de outros”.