Política

Vereador de Vitória é condenado pela Justiça a pagar indenização a professora ameaçada

Gilvan da Federal (Patriota) terá que pagar uma indenização de R$ 5 mil para a professora de Inglês Rafaella Machado; entenda o caso

Foto: Reprodução/Facebook

O vereador de Vitória Gilvan da Federal (Patriota) terá que indenizar a professora Rafaella Machado após ter sido condenado pela Justiça por comentários realizados em uma rede social.

O político ameaçou acuar a professora por conta de uma atividade escolar que tinha como tema os significados do termo LGBTQIA+ e do Mês do Orgulho LGBT.

Na sentença, proferida na manhã desta quarta-feira (23), o juiz Victor Queiroz Shchneider, do 2º Juizado Especial Cível de Vitória, estipulou indenização de R$ 5 mil.

O magistrado destacou que o caso presente evidencia a necessidade de equilibrar os conceitos de liberdade de expressão, a imunidade parlamentar e a dignidade da pessoa humana. 

“A Constituição Federal traz como um direito fundamental a liberdade de pensamento e expressão. Ao regular sobre os Municípios que integram cada estado da Nação, em seu art. 29, inciso VIII, confere ao ocupante do cargo de Vereador a inviolabilidade por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. No entanto, de acordo com o art. 5º, inciso X, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis, sendo assegurado a todos o direito a indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação”, disse o juiz.

Em uma liminar deferida em julho de 2021, o juiz já havia determinado a proibição do vereador mencionar a professora, além da retirada de publicações feitas pelo político nas redes sociais.

O advogado da professora, Taylon Gigante, destacou que sentença do caso resguarda os direitos e protege as minorias sociais. 

É uma vitória das minorias, da Constituição Federal, da Justiça, da Advocacia e, sobretudo, da classe dos profissionais da Educação. Tendo em vista que salvaguarda violações de direitos. A liberdade de pensamento e expressão é uma garantia constitucional, mas jamais poderá ser utilizada como argumento e justificativa para macular a honra e a reputação das pessoas. E ensina que, independente de poder político ou aquisitivo, o Judiciário expressamente não tolera atitudes que colidem com a Constituição Federal“, disse.

Entenda o caso

Em junho de 2021, o vereador Gilvan da Federal afirmou em uma rede social que iria “acuar” a professora após ela pedir aos alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Renato Pacheco, em Jardim Camburi, que realizassem uma pesquisa sobre a revolta de Stonewall, que aconteceu em Nova Iorque, em 1968, e é considerada um marco da história dos direitos civis e LGBT.

A mãe de um dos estudantes não achou a tarefa apropriada e acionou o parlamentar que, por meio de um áudio, informou que iria acionar o Ministério Público contra a professora. Além disso, o vereador disse que iria ao colégio para confrontá-la.

Eu vou aguardar ela sair e nós vamos bater boca (…). Eu quero deixar ela acuada“, disse o vereador.

Na ocasião, o vereador também disse que queria conversar com os pais dos estudantes.

Pede para sua filha fazer contato com os amiguinhos dela dizendo que o vereador Gilvan quer fazer contato com os pais dizendo para não entregarem (a atividade), se os pais concordarem“.

A professora registrou um boletim de ocorrência contra Gilvan por ameaça e intimidação. Ela ganhou apoio dos estudantes, da direção do colégio, da própria Secretaria de Estado da Educação (Sedu) e de vários coletivos ligados à educação. 

Veja abaixo a atividade que a professora passou em sala de aula: 

Foto: Reprodução

LEIA OUTRAS REPORTAGENS SOBRE O CASO:

>> VÍDEO | Alunos fazem ato em apoio à professora ameaçada por vereador de Vitória

>> Sedu vai acionar MPES por suposta ameaça de vereador de Vitória a professora

>> Câmara de Vitória homenageia professoras hostilizadas por vereadores

O OUTRO LADO 

O Folha Vitória procurou o vereador para comentar a decisão da Justiça, mas até a publicação desta reportagem não tivemos retorno. O texto será atualizado assim que recebermos um posicionamento.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
Produtor web
Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.