Saúde

"A automedicação é um problema de saúde pública", alerta farmacêutico

Nesta entrevista especial, Paulo Alexandre Palácio, farmacêutico, fala dos perigos da automedicação e meios de contornar a prática tão comum ao redor do Brasil e do mundo

Foto: Arte Folha Vitória/Reprodução Arquivo Pessoal

Prática muito comum ao redor do mundo, inclusive no Brasil, a automedicação apresenta uma série de riscos para a saúde. É fato que alguns medicamentos são de venda livre (sem prescrição médica), mas isso não significa que podem ser usados indiscriminadamente.

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Isso por que, mesmo esses tipos de medicamentos podem causar efeitos colaterais e interações prejudiciais se usados incorretamente ou em combinação com outros remédios, por exemplo.

Especialistas alertam que a automedicação pode, inclusive, levar a problemas como o uso incorreto de medicamentos, dosagens baixas ou altas, mascaramento de sintomas de condições mais graves e até mesmo desenvolvimento de resistência a antibióticos. 

Conhecer os riscos e sempre buscar orientação médica adequada antes de ingerir um medicamento tornam-se imprescindíveis para a manutenção da saúde. Sobre isso e outros aspectos da automedicação, a reportagem especial conversou com o Paulo Alexandre Paláciofarmacêutico, proprietário e diretor da O2 Farmácia de Manipulação.

1. A automedicação pode ser considerada um problema de saúde pública?

Paulo Alexandre Palácio – Sim, A automedicação é um problema de saúde pública, o uso indiscriminado de medicamentos sem orientação profissional, pode resultar em sérios riscos à saúde, como efeitos colaterais graves, interações medicamentosas perigosas e mascarar doenças que necessitam de tratamento médico adequado.

2. O número cada vez maior de farmácias concentrando, além de medicamentos, produtos diversos acaba estimulando o consumo de remédios?

O aumento no número de farmácias pode, paradoxalmente, estimular a automedicação. A facilidade de acesso aos medicamentos sem prescrição médica e a pressão comercial para vendas muitas vezes incentivam os consumidores a comprarem remédios por conta própria, sem a devida orientação profissional.

3. Afinal, o que é automedicação?

A automedicação é a prática de utilizar medicamentos por conta própria, sem a orientação de um profissional de saúde qualificado, como um médico ou farmacêutico. 

Isso inclui o uso de remédios para tratar sintomas ou condições percebidas, com base em autodiagnóstico, conselhos de amigos ou familiares, ou informações obtidas de outras fontes não profissionais. Embora possa parecer conveniente, a automedicação pode levar a uma série de problemas de saúde.

4. Quais os maiores riscos para a saúde?

Efeitos colaterais graves: que podem variar de leves a potencialmente fatais;

– Interações medicamentosas perigosas: interações que diminuem a eficácia dos remédios ou aumentam a toxicidade;

– Mascaramento de sintomas: O alívio temporário dos sintomas pode atrasar o diagnóstico e o tratamento adequado de doenças subjacentes, piorando a condição do paciente;

– Resistência antimicrobiana: Uso indiscriminado de antibióticos sem necessidade pode contribuir para o desenvolvimento de bactérias resistentes, dificultando o tratamento de infecções no futuro;

– Dosagens incorretas: doses inadequadas, seja por excesso ou insuficiência, pode resultar em ineficácia terapêutica ou toxicidade;

– Dependência química e física;

– Reações alérgicas.

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5. Existem medicamentos, mais usados na automedicação?

– Analgésicos e antitérmicos: paracetamol, ibuprofeno e dipirona.

– Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Diclofenaco e associações

– Antibióticos: como amoxicilina e azitromicina.

– Antiácidos e medicamentos para refluxos e úlceras: Hidróxidos de magnésio e alumínio, omeprazol e suas classes.

– Antigripais e descongestionantes nasais: usado em resfriados e gripes;

Importante: Alguns, inclusive, causam efeitos rebote, quanto mais usam, mais aparecem os sintomas.

6. É importante que as pessoas entendam que o uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação são os principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação?

Sim, a conscientização é muito importante. As pessoas precisam receber informações constantemente para entender sobre estes riscos, muitas vezes os sintomas e os problemas causados não são imediatos, assim acreditam que tem tem problemas tais usos.

7. É possível combater esse “hábito”? O que poderia ser feito?

Sim, é possível combater a automedicação. Algumas medidas são importantes:

– Educação e conscientização: Campanhas educativas para informar o público sobre os riscos da automedicação e a importância de seguir orientação profissional.

– Fortalecimento da regulamentação: Reforçar a fiscalização sobre a venda de medicamentos, exigindo prescrição médica para medicamentos que apresentam maior risco.

– Campanhas de orientação nos estabelecimentos, principalmente Farmácias. Farmacêuticos e outros profissionais de saúde para orientar adequadamente os pacientes sobre o uso correto dos medicamentos.

– Acesso a cuidados de saúde: Melhorar o acesso aos serviços de saúde para que as pessoas possam obter diagnóstico e tratamento adequado, reduzindo a necessidade de automedicação.

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Começou a atividade em farmácia em 1991, com 13 anos de idade. Em 1996 Com 17 anos, iniciou os trabalhos na Rede de Farmácia Santa Lúcia, como atendente, gerente. Em 2007 concluiu a graduação em farmácia e atuou com gerente e farmacêutico até 2015, quando montou a O2 Manipulação, onde atua como farmacêutico e Diretor.