Saúde

Alunos e pais de Suzano são tratados com abordagem terapêutica para superar o trauma do massacre da Escola Raul Brasil

O tratamento é gratuito e direcionado principalmente para traumas e outras comorbidades.

Foto: Divulgação
EMDR: paciente é incentivado a se lembrar da sensação traumática e, recebe ajuda para mexer os olhos de determinada maneira que faz com que cérebro arquive o fato de uma forma funcional. 

Alunos e pais que viveram os horrores do massacre da escola Raul Brasil, em Suzano, em março deste ano, estão recebendo atendimento gratuito de psicólogos da Rede Solidária da Associação Brasileira de EMDR, abordagem terapêutica muito eficaz no tratamento de traumas e Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Os atendimentos ocorrem na Escola Municipal (E.M) Antônio Marques Figueira, localizada na Rua Sara Cooper, no centro de Suzano.

Inicialmente os pacientes passam por um Protocolo de Grupo, e mediante este protocolo são encaminhados para atendimentos individuais. Cada paciente passa por uma sessão de aproximadamente uma hora e meia de duração. 

O agendamento deve ser feito por meio do telefone: (11) 9-9257-2671. 

Segundo a presidente e psicóloga da EMDR, Ana Lúcia Castello, a vinda dos psicólogos estende a mão para pessoas que estão necessitando do auxílio. “Viver momentos de angústia, terror, presenciar horrores diante de seus olhos e sobreviver é a luta dos que ficam após acidentes ou massacres, como o de Suzano”. 

“Os traumas desencadeiam sintomas de estresse pós-traumático e podem gerar feridas profundas na alma, mudando a forma como uma pessoa enxerga a vida e seu próprio futuro. Seguir em frente não é nada fácil”, comenta a especialista. 

Estimulação do Cérebro

No tratamento de ação rápida (em apenas algumas sessões), utiliza-se um protocolo de oito fases que deve ser seguido à risca para que o paciente tenha acesso a todos os pilares da memória que são necessários para reprocessar os traumas (imagens, crenças negativas, emoções e sensações corporais). 

Ao se aplicar o estímulo visual, auditivo e/ou tátil no tratamento de EMDR, que promove a dessensibilização e reprocessamento das experiências negativas, se instiga a rede onde ficou presa a lembrança, permitindo a busca de informações em outras redes neurológicas onde a vítima pode encontrar o que precisa para compreender o que aconteceu naquele momento traumático.

“Cada série de movimentos continua soltando a informação perturbadora e acelera essa informação através de um caminho adaptativo até que os pensamentos, sentimentos, imagens e emoções tenham se dissipado e são espontaneamente substituídos por uma atitude positiva”, explicou Ana Castello.

Quando a pessoa passa pelo processo terapêutico, adquire uma consciência emocional e consegue direcionar sua vida para resgates significativos da vida.

Tratamento EMDR

A Organização Mundial da Saúde recomenda desde 2013, o EMDR (EyeMovementDesensitizationandReprocessing – Dessensibilização e Reprocessamento). 

O tratamento realizado com EMDR, é focado no uso dos movimentos bilaterais dos olhos para reprogramar o cérebro. Descoberto pela americana Francine Shapiro, o EMDR tem base em estudos científicos e existe no país há 15 anos, e no mundo por volta de 30 anos.

O EMDR somente pode ser aplicado por psicólogos com formação específica na abordagem. No Brasil já existem diversos profissionais capacitados para realizar o tratamento. 

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“A abordagem possibilita a dessensibilização das imagens, dos sentimentos, das sensações corporais que temos em relação a todos horrores que nos marcaram”, explica a psicóloga.

No caso dos alunos, professores e pais, as imagens da tragédias estão muito vivas no cérebros dos mesmos e, reprocessar tudo isto significa um conforto muito grande para a pessoa em questão. 

A abordagem atua na origem dos sintomas ansiosos e depressivos de um ou mais acontecimentos na vida do paciente que são registrados por meio de imagens, crenças, emoções e sensações corporais. “O paciente é incentivado a se lembrar da situação ou sensação traumática, e lhe ajudamos a mexer os olhos de determinada maneira, de forma que o cérebro recebe a ajuda necessária para processar o fato e arquivá-lo de uma forma funcional. Desta forma, perde-se a carga negativa associada ao evento”, ponderou a especialista no tratamento.