Uma doença crônica, prevalente na população negra e parda, que afeta todo o corpo e alcança entre 30 e 50 mil pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Essa é a doença falciforme, enfermidade genética mais comum no País. Nesta quarta-feira, 19, é celebrado o dia mundial de conscientização sobre a doença, criado para dar mais visibilidade e reduzir suas taxas de morbidade e mortalidade, além de reforçar a necessidade de melhoria do atendimento aos pacientes com a doença.
“A anemia falciforme é uma doença genética em que o paciente afetado herda genes alterados do pai e da mãe. O diagnóstico ocorre com a realização da Eletroforese de Hemoglobina, uma técnica que identifica os diferentes tipos de hemoglobina no sangue e pode mostrar a presença de Hemoglobina S (anormal)”, afirma a hematologista da Unimed Sul Capixaba, Elany Silva.
A médica acrescenta que o teste do pezinho é capaz de acusar essa alteração, lembrando que este é o mês da campanha Junho Lilás, que reforça a importância do exame. A necessidade do teste do pezinho torna-se ainda mais evidente a partir do dado do Ministério da Saúde de que a letalidade em doença falciforme é de 80% em crianças com menos de cinco anos de idade.
Segundo a hematologista, os pacientes com doença falciforme apresentam micro tromboses nas veias em vários locais do corpo ao mesmo tempo, o que leva a dores fortes nos ossos e nos músculos, limitando a capacidade para atividades físicas. A doença causa uma anemia que leva a necessidade de transfusões de sangue, afetando emocionalmente os portadores devido às dores crônicas e às dificuldades de levar uma rotina normal.
“As crises podem se tornar severas a ponto de provocar risco à vida, por isso, o tratamento deve ocorrer com transfusões e hidratações, a fim de dar suporte ao problema da destruição das células vermelhas”, explica a médica. Ela destaca ainda a necessidade do tratamento dos fatores desencadeantes, como infecções ou desidratação, e da diminuição do impacto em órgãos afetados, como coração, rins e cérebro.
Dados do Ministério da Saúde revelam que na Bahia, a cada 600 pessoas, um nasce com doença falciforme. Já na Região Sul, a cada 13 mil pessoas, uma nasce com a doença. “A mutação genética da anemia falciforme iniciou em povos africanos. Acredita-se que essa doença seja um dos melhores exemplos da seleção natural, pois considera-se que o gene da hemoglobina modificada, chamada Hb S, permaneceu estável durante gerações em virtude da proteção contra a malária que possuem os portadores de traço falciforme. No Brasil, a prevalência de heterozigotos para a Hb S é maior nas regiões norte e nordeste (6% a 10%), enquanto nas regiões sul e sudeste a prevalência é menor (2% a 3%)”, relata a médica.
Doença requer cuidados e tratamento melhora qualidade de vida
A hematologista orienta que portadores da doença falciforme devem evitar esforço físico, temperaturas extremas e riscos de infecções, além de procurar atendimento médico ao menor sinal de crise. Também é importante, segundo a especialista, manter as vacinações em dia para prevenir qualquer tipo de infecção.
A médica destaca que a introdução do medicamento hidroxiuréia, que promove o aumento no número de hemoglobina fetal no sangue, teve impacto positivo na qualidade de vida dos portadores da doença, reduzindo o número de crises vaso-oclusivas, o número de hospitalização e tempo de internação. “A possibilidade curativa para essa doença, no entanto, é o transplante de medula óssea. Mas, para isso, é necessário que o paciente encontre um doador compatível”, finaliza a hematologista.