No dia 15 de fevereiro é celebrado o Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil. E é exatamente nesta data que o Folha Vitória conta pra você uma história de luta e superação.
Há sete anos, o diagnóstico de Leucemia mudava por completo a vida de Rute, atualmente com 46 anos, do marido dela e do filho, na época, com 9 anos de idade. Era véspera de Ano Novo, dia 31 de dezembro de 2014, quando a família, moradora de Teixeira de Freitas, na Bahia, descobriu que Sávio precisaria iniciar um tratamento delicado e cheio de cuidados.
“Buscamos vagas em hospitais da região para que Sávio começasse o quanto antes o tratamento, mas não havia nenhum leito disponível. Foi quando meu marido e eu lembramos de Vitória. No dia 1º de janeiro de 2015 chegamos ao estado e fomos muito bem recebidos no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória”.
O que Rute ainda não sabia é que a Leucemia exige uma longa intervenção. Chegou a acreditar que não ficaria longe de casa por mais de uma semana.
“A equipe do HINSG conversou muito conosco. Explicou como as coisas seriam dali em diante. Quando disseram que teríamos que ficar em Vitória por um ano para ele ser tratado, foi mais um susto. Meu mundo caiu quando veio o diagnóstico. Questionei o que tinha feito de errado para que meu filho passasse por isso”, lembrou.
Sávio ficou 36 dias internado. Em fevereiro recebeu alta. Por quase um ano uma amiga de Rute os acolheu na casa dela. Nessa época, a mãe de Sávio contou que já estava triste e em depressão.
O quadro do filho foi agravando. Médicos chegaram a dizer que não havia mais jeito. Foi quando ouviu falar sobre a Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci) e resolveram conhecer a casa.
“Ficamos muito felizes com a recepção. Sávio amou a casa e a acolhida da Acacci. Desde então, recebemos todo o apoio da equipe médica e dos profissionais. Eu descobri que a cura era possível e que havia, sim, esperança para o meu filho, disse.
Entre idas e vindas para o hospital, lá se vão 7 anos de tratamento. Sávio hoje está com 16 anos. Orgulhosa, Rute conta que atualmente o filho estuda e atua como menor aprendiz.
Como ela mesma faz questão de ressaltar, “ele está bem, forte, trabalha como menor aprendiz, não toma mais as medicações para a Leucemia, vive uma vida normal!”.
Sem poder trabalhar, Rute disse que tira um trocado ou outro de encomendas que recebe para fazer tapetes e sousplat, usado nas mesas de refeições, embaixo do prato.
O gosto pelo trabalho manual e a nova habilidade surgiram na própria Acacci, onde ela aprendeu artesanato nos momentos em que o filho descansava ou passava por atividades ofertadas pela associação.
Rute Ferreira da Silva Abade, 46 anos, mãe de Sávio Ferreira Abade, 16. Hoje, a cada nova visita à casa de apoio da Associação de Combate ao Câncer Infantil, na Capital, faz dos encontros com as mães que acabaram de chegar com seus filhos, um momento para renovar e fortalecer as esperanças. Principalmente de quem ainda está no começo da jornada em busca da cura.
“Sigo conversando com as mãezinhas e mostrando que a cura do câncer é possível. O diagnóstico e o início rápido do tratamento são muito importantes. Digo que vale a caminhada dolorida e cada sacrifício em busca da recuperação de nossos filhos, concluiu.
Acacci realiza cerca de 60 atendimentos por mês
Superintendente da Accaci, Luciene Sena, disse que a casa realiza em média 60 atendimentos todos os meses, entre novos pacientes e aqueles que vão e voltam para suas residências durante o tratamento. Porém, conta que a chegada da covid-19 mudou o ritmo de acolhimentos na casa.
Segundo Luciene, no ápice do contexto da pandemia, em 2020 e 2021, a média baixou para 20, 25 atendimentos mensais.
“De modo geral, as pessoas procuraram menos serviços de tratamento. Nós recebemos pacientes encaminhados pelo Hospital Infantil. Com isso, o próprio hospital, seguindo protocolos de segurança e avaliando caso a caso, também optou pela redução de procedimentos que permitiam isso. Só seguiam para o tratamento quando ele era imprescindível para a manutenção da saúde. Os que puderam ter a locomoção minimizada, assim foi feito”, destacou.
Leucemias estão entre os tipos de câncer que mais acometem crianças
A Leucemia é o tipo de câncer infantojuvenil que mais acomete pacientes que fazem parte desse grupo. Luciene conta que de acordo com a médica oncologista pediátrica da Acacci e do HINSG , Glaucia Perini Zouain Figueredo, além das leucemias, outros tipos de cânceres, como o neuroblastoma e o osteossarcoma também afetam essa faixa etária.
Na data em que é celebrado o Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil, 15 de fevereiro, a superintendente da associação ressalta a necessidade do diagnóstico precoce para a cura dos pacientes.
“O processo de diagnóstico precoce, que é um ciclo importante, não passa apenas por uma identificação em casa, é fundamental que as redes básicas de saúde se fortaleçam para realizar esse primeiro acolhimento. Isso tem relação direta com a taxa de sobrevida dos pacientes. A única possibilidade de cura é o diagnostico precoce.
Entre os gargalos que existem e precisam ser vencidos, Luciene destaca a velocidade em que o tratamento precisa acontecer. “O tratamento imediato é um dos gargalos. Precisamos de agilidade entre diagnóstico e tratamento para ter mais crianças e adolescentes superando o câncer. O trabalho precisa ser sempre de parceria com Sistema Único de Saúde”.
Com isso, a taxa de pacientes curados pode chegar até 70%, segundo dados do Instituto Nacional de Combate ao Câncer (Inca).
Falar sobre o câncer é fundamental para a busca pelo diagnóstico
A ampla divulgação sobre os sintomas e falar sobre os casos de câncer infantil são de grande valia no combate à doença. “Os sintomas são muito parecidos com doenças comuns, é preciso agir o quanto antes”, concluiu Luciene.
130 novos casos por ano devem surgir no ES, segundo o Inca
Atualmente no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, 600 pacientes passam por tratamento e fazem acompanhamento com especialistas. Os números são da secretaria de Estado da Saúde.
Segundo dados do INCA, há a estimativa de 130 novos casos por ano previstos no estado. A Sesa informou ainda que esse ano, houve cinco diagnósticos de câncer infantojuvenil no HINSG.
Em 2021, 113 casos da doença foram identificados no Espírito Santo; em 2020, 134. Óbitos foram três, 32 e 40, em 2022, 2021 e 2020, respectivamente.
Família não está sózinha
Médica oncologista pediátrica e mestre em saúde coletiva, Gláucia Perini Zouain Figueredo lembra que o diagnóstico de câncer constitui em um evento traumático para toda a família.
“Neste momento, é fundamental que fique claro que a família não está sozinha, que há uma equipe comprometida e interessada no melhor desfecho e bem-estar do paciente e do cuidador. No Núcleo de Trabalho em Onco Hematologia (NTHO), a abordagem é sensível, honesta, clara e focada nas necessidades individualizadas de cada paciente e da sua família”, explicou.
É preciso ficar alerta aos sintomas do câncer infantojuvenil
Especialistas chamam a atenção para o fato dos sintomas do câncer infantojuvenil serem comuns a outras doenças que acontecem frequentemente na pediatria. Por isso, a necessidade de conhece-los bem e ficar alerta para a continuidade deles.
– Leucemia: 30% de todos os cânceres que acometem menores de 19 anos, correspondem às leucemias. Dentre os sintomas, está a anemia como palidez cutânea, cansaço fácil, tontura nos mais velhos e febre por mais de 7 dias sem origem definida.
– Tumores de sistema nervoso central: pode se manifestar com dor de cabeça, vômitos, alteração motoras como paralisia facial e diminuição da força em um braço ou uma perna, por exemplo.
– Linfomas: em terceiro lugar em maior ocorrência, os principais sintomas são o aparecimento de ínguas inexplicadas, grandes, duras e indolores e também febre por mais de 7 dias, também sem origem definida. Perda de peso são outros sinais de atenção.
– Retinoblastoma: forma mais rara da doença, é responsável por cerca de 1,5% de todos os casos. Entre os sintomas, reflexo esbranquiçado em um ou nos dois olhos, estrabismo e olho vermelho.
Como é feito o tratamento?
O Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória é referência estadual no tratamento de crianças e adolescentes com câncer. Ele começa com intervenções feitas por uma equipe multidisciplinar. Essa equipe conta com assistentes sociais, psicólogos, psiquiatra, enfermeiros, nutricionista, médicos, fisioterapeutas, farmacêuticos e dentista.
Entre os serviços ofertados pelo hospital estão a quimioterapia, cirurgia oncológica e radioterapia em parceria com o Hospital Santa Rita. Aos pacientes que necessitam de transplante de medula ou terapia e outros tipos de intervenções que não são realizados no Espírito Santo, a Secretaria de Saúde informou que oferece o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) em serviços de referência fora do Estado.
Além disso, as crianças e adolescentes não ficam sem estudar. Mesmo hospitalizadas, também recebem assistência pedagógica, por meio da secretaria de Educação.