Saúde

Cirurgia inédita: bebês gêmeas que nasceram surdas recebem implante de ouvido biônico

O procedimento já ajudou mais de 400 mil pessoas no mundo a ouvir, sete mil só no Brasil. Pacientes do SUS tem direito a cirurgia. Entenda!

Foto: Divulgação
Imagem ilustrativa de um implante coclear. 

As bebês gêmeas Luíza e Clara, de um ano e três meses, já estão em casa, em Guarulhos, na Grande São Paulo, ao lado da mãe, Andréa Cristina Cardoso. As duas passaram por cirurgias de implante coclear, no último domingo (30), no Hospital São Luís, na capital paulista. 

De acordo com o cirurgião que realizou os procedimentos, o otorrinolaringologista Jamal Azzam, tudo correu bem durante as cirurgias. Agora é aguardar a ativação do dispositivo implantado, para que as gêmeas finalmente possam ouvir.

“Somente daqui a um mês, o dispositivo será ativado, pois é preciso aguardar o processo de cicatrização, já que se trata de uma cirurgia muito grande. A partir daí, elas poderão ouvir com nitidez pela primeira vez, iniciando o processo de aprendizado e diferenciação dos sons”, explica o médico.

Caso 

As gêmeas nasceram prematuras extremas, com apenas 25 semanas de gestação, ambas com baixo peso: Luíza com 690g e Clara, com 795g. Foram longos quatro meses em uma UTI neonatal, onde enfrentaram, até mesmo, uma infecção generalizada. No entanto, as complicações não pararam por aí. Havia problemas com a audição: as duas tinham surdez profunda bilateral.

“Foi muito tempo de UTI e uma série de procedimentos e medicamentos potencialmente lesivos para a audição. Pode ser que elas não tenham nascido assim. Não há antecedentes genéticos na família e não houve nenhum tipo de intercorrência na gestação ou no parto, que foi normal”, esclareceu o médico Jamal. 

Aos 9 meses de idade, as gêmeas receberam os primeiros aparelhos de amplificação sonora convencionais. Mas em decorrência do grau profundo da perda auditiva, Luíza e Clara não conseguiam ouvir os sons. Com o Implante Coclear (um dos maiores avanços tecnológicos da medicina moderna) as duas bebês terão agora uma nova oportunidade de escutar.

“As cirurgias em crianças pequenas são comuns hoje em dia. O que é inédito nesse procedimento é a cirurgia em ambos os ouvidos de irmãs gêmeas com apenas um ano e três meses de idade. A cirurgia costuma ser rápida, mas neste caso, durou três horas e meia pelo fato de as meninas serem bebês e as cirurgias serem bilaterais”, informou o otorrinolaringologista.

Foto: Divulgação / Pexel
Imagem ilustrativa. Procedimento é rápido quando realizado em adultos. Mas em bebês requer maior tempo. 

O que é implante coclear?

Segundo o especialista, o implante coclear começou a ser realizado no Brasil nos anos 80, mas com resultados pouco satisfatórios. “Nos últimos cinco anos tem ocorrido uma diferença extrema com o avanço da tecnologia. Então, os resultados têm sido muito melhores, gerando uma inserção social – do ponto de vista auditivo – completa. Uma criança que nasce surda e faz o implante pode ter uma vida social praticamente normal”, afirma o médico.

O procedimento consiste em um aparelho eletrônico digital de alta complexidade tecnológica, utilizado para restaurar a função auditiva nos pacientes portadores de surdez sensorioneural severa a profunda. É como se ele substituísse a função do ouvido. O dispositivo possui um componente interno, que é implantado cirurgicamente, e um externo, fixado no crânio, atrás da orelha.

“Os primeiros 3 anos são importantes para a formação de todas as conexões cerebrais relacionadas a audição, que não é só comunicação, também está relacionada a emoção”, diz Jamal. 

As cirurgias

Nas duas bebês, foi usado um processador sonoro retroauricular, o Neuro 2, fabricado pela Oticon Medical, uma empresa dinamarquesa. Ele possui apenas nove gramas e tamanho equivalente ao de um palito de fósforo.

“O Neuro 2 fornece uma base sólida para o desenvolvimento da linguagem, promovendo maior clareza dos sons às crianças que estão descobrindo o mundo ao redor. Elas têm, assim, mais energia e disposição para aprender”, comenta a fonoaudióloga Fabiana Danieli. 

As meninas tiveram alta na segunda-feira (01) e, segundo a família, já estão “serelepes”, brincando em casa. “Quanto aos cuidados, o componente externo deve ser sempre retirado durante o banho e ao fazer esportes coletivos. Não existe nenhuma previsão de troca do aparelho. O que existe é a atualização do software do processor, que é o componente externo. O resultado é muito próximo ao de pessoas com audição normal”, diz o especialista.

Segundo Jamal, Luíza e Clara estão em um momento fundamental, em que o cérebro desenvolve várias habilidades. “Por meio do ouvido biônico — como também é conhecido o implante —, acompanhamento profissional adequado e uma família participativa, espera-se que elas alcancem um progresso rápido e efetivo da audição e das habilidades de comunicação, podendo igualar-se ao de crianças ouvintes da mesma idade”, garante o especialista.

Um direito de todos

A cirurgia e os aparelhos do implante coclear das meninas gêmeas foram fornecidos pelo plano de saúde da família, mas vale ressaltar que a lei prevê que todos os pacientes do SUS tenham direito à reabilitação auditiva de forma gratuita, inclusive por meio de cirurgias de implante coclear.

O procedimento já ajudou mais de 400 mil pessoas no mundo a ouvir, sete mil só no Brasil.