Umas das medicações mais comentadas no momento, que está sendo utilizada como opção de tratamento da covid-19, é a cloroquina. Existem opiniões divergentes a respeito da utilização do fármaco. O alerta atual é que quando utilizada em doses fora da margem de segurança, a cloroquina pode ser prejudicial à saúde ocular, trazendo danos irreversíveis.
De acordo com a médica oftalmologista do Hospital de Olhos de Vitória, Klícia Molina, o medicamento antes utilizado para tratar Lúpus, Artrite Reumatóide, dentre outras doenças inflamatórias, tem sido amplamente divulgada para tratamento do coronavírus. Contudo, a médica alerta que como a utilização do medicamento é algo evidente é importante conhece-lo para que o uso seja feito da forma mais segura possível.
“Do ponto de vista oftalmológico, a cloroquina pode gerar dois problemas distintos: um deles é a impregnação corneana, chamada de córnea verticillata, que, além de ser reversível, não costuma prejudicar a visão; já o outro é o que nos preocupa, porque pode gerar perda irreversível da visão. Trata-se da retinopatia, uma lesão das células da retina que leva à perda grave da visão”, disse a médica.
Algumas pessoas precisam ficar atentas porque possuem risco elevado para desenvolver problemas visuais com uso da cloroquina. Como portadoras de doença renal, doença retiniana prévia, em uso concomitante de tamoxifeno, com perda de peso brusca e em extremos de idade.
Os fatores de risco mais importantes são a dose e o tempo de uso do medicamento. Quanto maiores a dose diária e o tempo de uso, maior será também a chance de desenvolver a doença ocular. Felizmente, quando a cloroquina é usada em doses padronizadas, o risco costuma ser baixo: em pessoas sem fatores de risco, a parcela que apresenta problemas visuais é de 1% após 5 anos de uso e de 2% após 10 anos.
Por que então se preocupar?
A médica explicou que até o momento, não existe tratamento para os prejuízos oculares causados pela retinopatia por cloroquina, além do fato de danos serem irreversíveis. “Por isso, é preciso fazer o diagnóstico da doença ocular o quanto antes para considerar a interrupção do uso dessa medicação e, assim, preservar a visão”, alertou. “Já que os danos oculares são assintomáticos até que cheguem nas fases avançadas, e pouco se pode fazer para ajudar a pessoa a voltar a enxergar, é importante o acompanhamento oftalmológico para todos os pacientes que usam cloroquina”, pontuou.
É preciso realizar consulta oftalmológica antes mesmo de iniciar o uso do medicamento. Até mesmo após a suspensão do seu uso, porque o organismo costuma demorar meses para expulsar a substância do corpo.
A médica disse que em cada visita, o oftalmologista deve verificar a retina com o fundo de olho, além de exames complementares que detectam alterações retinianas mais precocemente, tais como campo visual e tomografia de coerência óptica macular. Assim, a população pode fazer um uso mais seguro da cloroquina e estar verdadeiramente protegida.