Saúde

Desigualdade no Brasil é desafio para a longevidade, diz especialista

Especialista em envelhecimento afirma que expectativa de vida cresce em todos os grupos sociais, mas com diferente qualidade de vida

Foto: Reprodução/ Pexels

O Brasil de 2050 deve ter uma cara bem diferente dos dias atuais. Se em 2019, a população com mais de 60 anos já ultrapassa 20 milhões, restam somente 20 anos para que esse número dobre. É o que diz Alexandre Kalache, epidemiologista especializado em envelhecimento e presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil. 

“Os países desenvolvidos se tornaram ricos e depois envelheceram. Nós estamos envelhecendo em um contexto de pobreza e muita desigualdade, seja Rio ou em São Paulo, onde o metro quadrado mais caro do Brasil, no Morumbi, fica a 800 metros de Paraisópolis, a maior favela da cidade. A diferença de expectativa de um lugar para o outro é de 20 anos”, opinou. 

Nos últimos 50 anos, a expectativa de vida média do brasileiro vem aumentando em todos os grupos sociais. No entanto, é a qualidade desse envelhecimento que está em jogo, e os anos finais serão ditados pelo estilo de vida durante a juventude.

“Se compararmos dois indivíduos que nascem mais ou menos com o mesmo risco para doenças crônicas, à medida que nós envelhecemos, o fator idade aumenta o risco. Aquela grande diferença no final da vida entre os 85 e 90 anos não se dá essencialmente pela idade, mas pelos estilos de vida que você abraçou ou pôde abraçar”, disse Alexandre Kalache. 

No país em que a morte por sepse em hospitais públicos chega a ser o dobro de privados, o ponto de partida da maratona pela longevidade não é igual para todos, e também passa pelo tratamento dos médicos aos pacientes: “Como é possível prolongar a longevidade se não têm especificidades? Quantas mulheres grávidas ouvem de médicos que negras não precisam de anestésicos porque são mais resistentes à dor?”, critica Kalache, referindo-se aos índices de violência obstétrica no país.

Para responder às demandas de uma sociedade cada vez mais velha, o especialista defendeu a criação de centros de pesquisa sobre envelhecimento e teceu críticas à recente suspensão de contratos com produtores de 18 medicamentos de distribuição gratuita: “A necessidade dos medicamentos não vai desaparecer. Se você não trata uma hipertensão direito, em menos de 5 anos, pode virar um derrame. No fim das contas, vai custar mais para o setor público”, finaliza.

Por: Nayara Fernandes, do Portal R7