O Espírito Santo vive uma “apagão” de casos de Hanseníase. A queda entre 40% e 45% nos novos registros, segundo a referência técnica estadual do Programa Estadual de Hanseníase, Marizete Altoé Puppin, tem relação com a pandemia provocada pela covid-19.
A realidade capixaba não difere da vivida pelo país e vem ganhando a atenção das autoridades de saúde desde 2020, quando o vírus chegou efetivamente ao Brasil.
Especialistas acreditam que, nos momentos mais críticos da pandemia, o medo da contaminação desencadeou um enorme receio das pessoas buscarem ajuda na Rede de Saúde.
“Estamos detectando cada vez mais a queda desses números. E o que nos preocupa é que ela não reflete a atualidade. Precisamos identificar as pessoas que estão doentes e trata-las de maneira adequada. Somente assim conseguiremos interromper a cadeia de transmissão, destacou Marizete. A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por um bacilo denominado Mycobacterium leprae.
Além disso, os sistema de saúde vive uma temporada de sobrecarga. A 4ª onda, provocada pela variante Ômicron, desencadeou uma procura desenfreada por hospitais e pronto-atendimentos. O que torna ainda mais complicado absorver a demanda de outras doenças, como a hanseníase, por exemplo.
“Estamos nos organizando para a retomada e implementação de ações importantes, com medidas de prevenção eficazes. Houve uma decréscimo de contatos e visitas, não só de notificações e os agentes comunitários são as peças fundamentais que promovem o contato direto com as famílias. Esse rastreio de contatos é essencial para orientações dos pacientes e interromper o ciclo de transmissão”.
Hanseníase é uma doença contagiosa e silenciosa
A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior. Com isso, acaba infectando outras pessoas.
Os bacilos são eliminados por meio de secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro. O paciente em tratamento regular ou que já recebeu alta não transmite.
A maioria das pessoas que entram em contato com estes bacilos não desenvolvem a doença. Somente um pequeno percentual, em torno de 5% de pessoas, adoecem. O período de incubação da doença é bastante longo e pode variar de três a cinco anos.
Por conta disso, a referência técnica do Programa Estadual de Hanseníase alerta para o risco de contaminações. “Quanto mais cedo as pessoas buscarem os serviços de saúde, melhor será o tratamento. A bactéria que provoca a doença, pode ficar anos no sangue antes de manifestar os primeiros sintomas no organismo e o principal diagnóstico ainda é o clínico.
Brasil poderá ser tornar o 1º país do mundo a adotar teste rápido para detectar a doença
As consultas com médicos, especialistas, ainda são a principal forma de diagnosticar um paciente com hanseníase. Mas, Marizete disse que o Brasil pode se tornar pioneiro no avanço de medidas complementares para detectar a doença no organismo.
“No início de fevereiro participamos de uma reunião com o Ministério da Saúde. Na ocasião foi divulgada a inclusão de novos testes laboratoriais, que somados ao diagnóstico clínico, vão ajudar na detecção mais rápida dos casos. Trata-se de um teste rápido! Será um grande ganho que teremos por meio do Sistema Único de Saúde e que deverá ficar disponível na rede básica de saúde. A expectativa é que esteja acessível até o fim desse primeiro semestre”, disse Marizete.
A Agência Nacional de Vigilância sanitária, ainda segundo Marizete, já aprovou o teste. O próximo passo acontecerá por meio da qualificação de profissionais para que os testes sejam aplicados de maneira correta e eficiente. Além disso, as autoridades acreditam que existe uma demanda reprimida uma vez que é necessário cuidar das pessoas que conviveram com os doentes que não retrataram.
“É preciso desafogar a rede de saúde para retomar as atividades que antes aconteciam frequentemente e conseguir dar conta das outras doenças que existem.
Sinais e sintomas
– Sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades;
– manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato;
– áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor;
– caroços e placas em qualquer local do corpo;
– diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos).
Como é feito o tratamento?
A hanseníase tem cura e o tratamento é feito nas unidades de saúde gratuitamente. Quanto mais precoce for o diagnóstico mas rápida e fácil é a cura. O tratamento, denominado de poliquimioterapia, é feito por meio da associação de dois ou três medicamentos, via oral.
Como prevenir a hanseníase?
Divulgar para a população os sintomas da doença e destacar que existe tratamento e cura é imprescindível. A prevenção é baseada no exame dermato-neurológico e aplicação da vacina BCG em todas as pessoas que compartilham o mesmo domicílio com o portador da doença.
Saiba mais sobre os novos testes
Durante um evento no mês passado, o Ministério da Saúde divulgou que está incorporando ao SUS três testes complementares de diagnóstico da hanseníase. O investimento, este ano, será de R$ 3,7 milhões nesses testes. Um deles, é o teste rápido para detecção de anticorpos. Desenvolvido pela Fiocruz, é um teste PCR com 91% de precisão.