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No último dia 28, o Folha Vitória Saúde noticiou em função do Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher, informações sobre o vaginismo. Uma disfunção sexual que pode afetar de 3% a 5% das mulheres e consiste na contração involuntária dos músculos vaginais, o que provoca dor no momento da penetração. A origem normalmente é psicológica, como uma educação muito rígida ou até algum trauma ou abuso. Mas, o que muita gente não sabe, é que esse não é o único problema que afeta a vida sexual da mulher: há também a dispareunia e a vulvodínia.
Segundo relatório do Scandinavian Journal of Public Health, a dispareunia afeta 10% das mulheres e é definida como uma condição que faz com que as relações sexuais que envolvem penetração sejam dolorosas. Mais comum entre mulheres de meia-idade (40 a 45 anos) ou após parto com episiotomia (incisão cirúrgica para facilitar o nascimento da criança), a dispareunia causa dores de média e alta intensidade durante penetrações, seja logo no início do canal vaginal, seja na parte mais interiorana do órgão.
“A dispareunia é uma dor que a mulher sente em alguma posição, ou esporadicamente. Não é uma dor que ela sinta em toda relação, mas que em determinado momento vai sim provocar muito incômodo”, explica a fisioterapeuta Thaís Págio. Além das possíveis causas orgânicas, como falta de lubrificação, irritação, infecção e atrofia vaginal, a dispareunia também pode ter razões psíquicas: medo, ansiedade, estresse, falta de excitação ou até um trauma sexual anterior.
Outra vilã da vida sexual das mulheres é a vulvodínia, que ocorre em diferentes áreas da vulva em diferentes momentos. Assim como a dispareunia, a dor pode ser constante ou ir e vir. O incômodo normalmente é caracterizado como uma sensação de ardor, provocado por toque ou pressão, como uso de absorvente interno, penetração ou após a mulher ficar muito tempo sentada.
“A mulher sente um incômodo, como uma ardência, mais comum entre os pequenos lábios e a entrada do canal vaginal. Quando a ardência e a dor persistem por mais de três meses e o ginecologista descarta qualquer infecção bacteriana, fúngica ou demais patologias, o diagnóstico é suscetível a vulvodínoa. Muitas dessas mulheres não conseguem sequer usar calcinha, de tanto que a hipersensibilidade no local incomoda. Tudo o que encosta causa desconforto”, pontua Thaís.
As causas da vulvodínia ainda não estão completamente claras para a ciência, mas pesquisas já ligaram o problema a doenças autoimunes, problemas nervosos e candidíase. Também é sabido que a vulvodínia, assim como a dispareunia e o vaginismo, tem seu risco aumentado por condições psicológicas, incluindo ansiedade, depressão, estresse crônico e abuso sexual.
“É importante que a mulher, ao sentir desconforto, procure um profissional para fazer o diagnóstico o mais rápido possível. Essas disfunções têm tratamento, que muitas vezes é simples e rápido. Basta procurar os profissionais, para oferecer os tratamentos adequados, e não achar que isso é normal, que vai passar, e principalmente não se fechar ao problema por se achar diferente ou por vergonha. Ela é uma pessoa normal, que sente algo que outras mulheres também sentem. Mas para resolver ela precisa falar, procurar ajuda e, acima de tudo, se cuidar”, destaca Thaís.
Entretanto, não são todas as mulheres que vão para esse caminho. Por medo ou vergonha, muitas procuram soluções “milagrosas” na internet, o que pode, inclusive, piorar a situação. “Fazer curso de pompoarismo online e exercício íntimo sem orientação só tende a piorar o quadro, ao invés de melhorar”, alerta a fisioterapeuta.
Tratamento é multidisciplinar
Isoladamente, ginecologista, psicólogo e fisioterapeuta não podem resolver o problema. Por ter origens muitas vezes emocionais e envolverem a musculatura pélvica do corpo, o ideal é que o médico diagnostique o problema e que o fisioterapeuta pélvico, junto com o psicólogo, e se necessário o psiquiatra, trate a doença. “A dor é física. Ela existe de verdade devido aos nódulos de tensão que se formaram. Mas o que ocasionou o surgimento deles pode ser um fator psicológico. Então é preciso avaliar e tratar as duas coisas: o físico e o emocional”, complementa Thaís.
Outro ponto fundamental para alcançar êxito no tratamento do vaginismo, da dispareunia e da vulvodínia é o apoio do parceiro da relação. “O apoio do parceiro é fundamental. Ele precisa entender o que está acontecendo, não tentar forçar a situação, ser solidário ao tratamento e ser carinhoso, cuidadoso e principalmente ter paciência, tentando não depositar suas expectativas na parceira”, recomenda a especialista, que também faz um apelo às mulheres que se identificam com algum dos problemas listados.
“Algumas pessoas vão dizer que sentir dor na relação é normal, isso é mito! Sentir dor nunca é normal. A dor avisa que tem algo diferente no seu corpo que precisa ser tratado. Então se você sente incômodo ou dor é preciso procurar um profissional qualificado para entender o que está acontecendo de verdade”, finaliza.