Muito tem se falado sobre os efeitos emocionais da pandemia. As crianças são um dos grupos que mais preocupam os especialistas. A Fiocruz realizou um estudo sobre esse tema e lançou na última semana uma cartilha mostrando os principais aspectos referentes à saúde mental e à atenção psicossocial aos pequenos durante este momento de distanciamento e de tantas mudanças na rotina.
O psiquiatra da Unimed Vitória Vicente Ramatis destaca que, como a pandemia afeta diretamente o cotidiano das famílias, principalmente, o das mães, acaba tendo um grande impacto na relação estabelecida com as crianças. “As crianças podem apresentar reações emocionais e comportamentais diante de tantas mudanças que aconteceram em tão pouco tempo. Elas podem ficar mais irritadas, inquietas, entediadas, ter alterações do sono e do apetite e demonstrar sinais de medo e insegurança”, pontua.
O médico afirma que não é fácil para os pais lidarem com os sentimentos dos filhos porque os genitores também estão se sentindo mais estressados, ansiosos e sobrecarregados. “A família inteira está sob pressão por conta das dificuldades do cenário atual. Por isso, a rede de apoio das crianças acaba ficando fragilizada”, analisa Ramatis.
Não é incomum, devido ao estresse, pai e mãe serem mais rigorosos e até agressivos em suas reações com as crianças. “Por isso, é essencial que se mantenha o diálogo dentro de casa. Quanto mais conversarem com os filhos e criarem momentos de interação, mais será preservada a saúde mental de todos”, recomenda.
Vicente Ramatis diz que é importante ouvir a criança, deixar que ela manifeste suas incertezas, tristezas e dificuldades, assim como buscar formas de confortá-la, com tranquilidade e afeto. “Nunca foi tão importante exercitar a empatia. A criança terá dias de profundo desconforto, vai ter reações exageradas, descontrole e agitação. Cabe ao adulto entender que o comportamento é atípico e tem a ver com todas as mudanças e restrições trazidas pela pandemia”, diz.
Um relato que tem sido comum por parte dos pais é de que é difícil conciliar home office com os filhos em casa. “As crianças não entendem que os pais estão trabalhando e não podem dar atenção, mesmo estando em casa. Isso acaba gerando estresse e tristeza para todos da família”.
O psiquiatra lembra que é importante tentar manter uma rotina simples e eficiente, para dar mais segurança aos pequenos, estabelecendo local e horários para o trabalho e para a escola online. “Em relação aos estudos, por exemplo, estabeleça horários, mas não seja exigente demais. Nenhuma criança conseguirá ter um rendimento espetacular neste novo contexto que estamos vivendo. É o momento de respeitar os limites e não fazer cobranças exageradas”, orienta.
O sono e a alimentação também devem ser regulares. “Busque um equilíbrio no dia a dia, mas entenda que nem sempre os dias serão como foi planejado. A criança não tem maturidade para lidar com o isolamento social. É fundamental ter paciência”.
Se o comportamento da criança for muito preocupante, com quadros de irritação, ansiedade e tristeza muito persistentes, busque ajuda profissional. “Pais não devem se sentir sozinhos nesta caminhada. Se acharem necessário, busquem apoio médico”, conclui Ramatis.